‘Confiança de que nada vai acontecer’ faz com que aumente o número de motoristas flagrados dirigindo sob efeito de álcool no DF, diz especialista

A Lei Seca vale no Brasil desde 11 de junho de 2008. Porém, o que deveria ter servido de incentivo para diminuir o número de motoristas que dirigem sob efeito de álcool, com o passar do tempo, perdeu a efetividade. De janeiro a julho deste ano, quase 15 mil pessoas foram autuadas, número 72% maior que o mesmo período de 2016 e o maior desde a implantação da lei.
De acordo com o diretor-geral do Detran-DF, Silvain Fonseca, os órgãos de fiscalização do DF estão intensificando as operações de trânsito, principalmente nos fins de semana, quando aumenta o consumo de bebida alcoólica. Com isso, apenas em julho, as autuações aumentaram em 77,8% (2.542 contra 1.429), na comparação com 2016.
“Nós observamos que boa parte da população já mudou o comportamento, mas ainda tem uma parcela que insiste e está sendo fiscalizada”, afirma Silvain.
Desde a vigência da lei, o número de multados por dirigir sob efeito do álcool chegou a 93,1 mil. Das quase 400 pessoas que morreram vítimas de acidente de trânsito no ano passado, 114 estavam sob efeito de álcool ou drogas.

O motorista que for flagrado com mais de 0,3 miligramas de álcool no sangue, perde o documento do carro e ainda precisa pagar R$ 2.934,70
Para o psicólogo Fábio Iglesias, especialista em psicologia social, é preciso mudar o comportamento dos motoristas, pois os acidentes de trânsito deixam o país na liderança do ranking de mortes no mundo. “O problema não é só técnico e de infraestrutura, é claramente de comportamento, as pessoas influenciam e se deixam influenciar por amigos e familiares, quando saem de carro para beber juntos ou quando alguém diz que bebeu e não foi pego em blitz”, afirma Fábio.
Este foi o caso de Thiago Coimbra, empresário, que foi pego dirigindo sob efeito de álcool dias antes de tomar posse em um concurso público. Ele diz que sempre foi o amigo da rodada e nunca caiu numa blitz, mas no dia que fez a combinação, foi alvo da fiscalização. “Essa é a primeira vez que cai numa blitz. O pessoal insistiu para eu beber com a desculpa de que eu dava sorte e agora fui pego. Complicado”, admite Thiago.
Outro tecla batida por Fábio são as barreiras pessoas, principalmente as relacionadas a confiança. Segundo ele, o número de blitzes e autuações são pequenas em comparação a toda a parcela da população e por isso, gera uma confiança excessiva nos motoristas que acham que nunca serão pegos.
“Um dos problemas são as barreiras pessoais que impedem as pessoas a mudar. Elas vêem que os amigos dirigem sob efeito de álcool e não são autuados e pensam que podem fazer o mesmo que não serão pegas. Em 2008 todo mundo tinha medo, agora, já existe uma confiança excessiva de que nada vai acontecer”, diz Fábio.
Para dar coro ao discurso do psicólogo, em maio, durante uma blitz do Detran, um motorista de 50 anos foi autuado pela oitava vez dirigindo sob efeito de álcool. Desse total, quatro foram por concentração acima de 0,3 miligramas – que o levaram para a delegacia e fez com que ele perdesse a carteira e fosse preso.
Apenas neste ano, o condutor foi pego duas vezes dirigindo alcoolizado. O infrator já tinha sido suspenso em 2008 e, após cumprir penalidade, voltou a dirigir até ser suspenso novamente no ano passado.
Mulheres na direção
As motoristas flagradas dirigindo sob efeito de álcool também tem aumentado no DF. De acordo com levantamento do Detran-DF, por dia, quatro mulheres são autuadas por dirigirem alcoolizadas. O número é 25,25% maior que o mesmo período de 2016, quando foram registradas 290 ocorrências.
Carolina Ribeiro, estudante, passou por isso recentemente. Após sair com a namorada e amigas, caiu em uma blitz do Detran na entrada de Águas Claras. Segundo ela, tinha tomado apenas um copo de cerveja, mas o bafômetro foi implacável e acusou o percentual de alcoolemia acima do permitido.
“Infelizmente um copinho de cerveja me derrubou. A gente saiu para beber e fiquei só em uma cerveja, voltei tranquila para casa, até ver a blitz. Rezei para não me pararem, mas não teve como”, lamenta Carolina.
Crítica a campanhas
O psicólogo Fábio Iglesias lista, entre os responsáveis pelo grande número de autuações, a inoperância das políticas de conscientização da população. Segundo ele, as campanhas são inoperantes porque não geram choque de realidade na população. Elas apenas informam.
“A literatura científica mostra que campanhas de conscientização não funcionam, porque as pessoas não param de fumar porque a gente diz pra elas que fumar faz mal à saúde”, critica o especialista.
De acordo com o Código de Trânsito brasileiro, dirigir sob a influência de álcool é infração gravíssima, com multa no valor de R$ 2.934,70 e suspensão do direito de dirigir. Caso o motorista seja reincidente num período de 12 meses, a multa se torno o dobro, R$ 5.869,40. A recusa à realização de exame que comprove a influência de álcool também é considerada infração de trânsito, quando o agente detecta que a pessoa está alcoolizada.
Os motoristas que apresentarem concentração de álcool igual ou superior a 0,3 miligramas por litro de ar, estão sujeitos a detenção de seis meses a três anos.

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