Tabu da masturbação e os problemas que geram a compulsão

A masturbação é uma fonte infinita de possibilidades de autoconhecimento e prazer. Tocar-se é resgatar o conhecimento do corpo, fazer novas descobertas do próprio prazer e promover a autoestima em todos os sentidos. Esse processo de descoberta, sem amarras, é o que torna o ato do prazer tão importante e eficaz. Mas para muitas pessoas a masturbação é um grande tabu, não podem nem mencionar o nome, mas isso pode trazer problemas graves de compulsão.
De acordo com dados de uma pesquisa realizada pela USP (Universidade de São Paulo), em 2017, cerca de 40% das mulheres do país não se masturbam e, dessas, quase uma em cada cinco mulheres (19,5%) nunca experimentou a prática. Já entre os homens, apenas 17,3% não se masturbam e 82,7% adotam essa forma de prazer. Mas a masturbação pode trazer problemas de compulsão.
Segundo a psicóloga e terapeuta sexual Aida Kellen isso passa a ser um problema quando o sujeito tem sua vida diária afetada, quando passa horas desejando ficar sozinho ou se ausentando do trabalho, por exemplo, para ir praticar a masturbação. Tudo pode acontecer por gatilhos, como a maioria dos comportamentos compulsivos. Crises pessoais, crises conjugais, sobrecargas no trabalho, mudança de rotina, tudo pode desencadear o vício/comportamento compulsivo. “Que fique claro que não estamos falando de 6, 8 vezes/dia, não. Estamos falando de 20, 30 e, às vezes, até 40 vezes a ponto de esfolar e machucar o órgão causando dor”, explica a psicóloga.
Para saber mais sobre o assunto, leia a entrevista realizada com a Aida Kellen:

A psicóloga e terapeuta sexual, Aida Kellen fala sobre o tabu da masturbação e os problemas de compulsão
Por que a masturbação é um tabu?
A masturbação é um tabu, no geral, para as mulheres. Em alguns dados de algumas pesquisas que já foram feitas, 3% dos homens nunca tinham se masturbado, enquanto a gente tem um percentual de quase 40% das mulheres. Então, existe um tabu muito mais em relação às mulheres, pois o corpo feminino, a sexualidade feminina, foram uma página arrancada, onde ela não poderia ter acesso ao prazer, onde aquele corpo só era feito para reproduzir. Mas tem todo um movimento de 10 anos para cá, que a mulher está buscando essa interação com o seu corpo, essa liberdade de sentir prazer.
Você acredita que se as pessoas falassem mais sobre o assunto, a compulsão ainda seria um problema?
Talvez sim. A compulsão é algo que traz muita vergonha. Geralmente, esse comportamento compulsivo está ligado ao vício, e o vício causa muita vergonha. Alguns tipos de vícios, como exemplo em álcool, ou até em chocolate, são socialmente aceitas. Mas em uma forma geral, o comportamento compulsivo não é reconhecido, por exemplo, quando se tem uma pessoa workaholic- um trabalhador compulsivo. A pessoa geralmente nem sabe que está em uma situação de compulsão, e nem mesmo as pessoas que estão a sua volta, então a compulsão, em todas as suas formas, é difícil de lidar.
É muito importante que as pessoas falem sobre o assunto, para que possamos quebrar barreiras da vergonha, do silêncio, por isso a importância de falar. Mas a compulsão é muito mais que uma estrutura, do que uma formação no meio em que se vive. Ela vem de algum episódio da infância, pode ser um comportamento repetitivo, algo que vai se desenvolvendo ao longo da vida.
Qual a relação da pornografia com a compulsão?
Acho que a maior relação da pornografia com a compulsão é porque a pornografia é um atalho para a excitação. Uma pessoa que acaba desenvolvendo um comportamento compulsivo com a pornografia vai desencadear algumas disfunções, quando falamos de homens, até mesmo disfunção erétil. Podemos falar também de problemas no relacionamento, às vezes até a ejaculação precoce. Porque quando um sujeito olha um filme pornô, o lugar que capta a imagem é muito perto do neuro transmissor, que designa a sensação de medo, de prazer, então é muito difícil ter a diferenciação se aquilo é real ou não.
A maior relação da pornografia com a compulsão é esse encurtamento do caminho, de chegar mais rápido. Também tem casos de muitos casais, em que a mulher reclama que o parceiro só quer ter uma relação se for ver um filme pornô, ou até mesmo durante. Então existem várias nuances dessa compulsão pela pornografia, não é apenas assistir. Mas em uma relação saudável, existe um caminho mais prazeroso de descoberta, de ousadia, e a pornografia corta tudo isso.
Qual o tratamento para esse comportamento de compulsão?
O tratamento para o transtorno de comportamento compulsivo é feito com o auxílio de medicações, então é necessário um acompanhamento de um psiquiatra e a psicoterapia.
O que a sociedade pode fazer para normalizar o ato da masturbação?
A gente precisa aderir a educação sexual, é importante falar sobre sexo. As famílias, em geral, não querem educação sexual nas escolas, mas elas também não falam sobre sexo em suas casas, então o ideal é a educação sexual, pois é quando a escola vira uma aliada nesse processo. Visto que a masturbação começa desde muito cedo, as crianças, despois da retirada da fralda já tem um acesso aos órgãos sexuais.
Você acredita que a quarentena pode ter ajudado a agravar algumas situações de compulsão?
Acredito sim, até porque um dos gatilhos que disparam o comportamento compulsivo é a ansiedade, às vezes não sabendo lidar com o ócio. Então nesse momento de isolamento social, que muitos estão enfrentando sozinho, fica muito mais difícil controlar esses comportamentos compulsivos. E no geral é preciso um aumento de medicação, ou a inserção de medicação, pois às vezes alguns conseguiam controlar esse comportamento com apenas a atividade física, pois conseguir esses remédios em tempos de quarentena está sendo mais difícil, levando a agravar algumas situações ou até levando a algo mais crítico.
O Presidente da República Jair Bolsonaro publicou em suas redes uma falsa matéria em que a OMS (Organização Mundial da Saúde), segundo ele, incentivaria a masturbação e a homossexualidade em crianças. No post, já apagado de seu perfil, o presidente citou supostas diretrizes do órgão que estimulariam “a primeira experiência sexual” e “relações entre pessoas do mesmo sexo” ao público infantil. Essa postura do Presidente mostra o quanto a população não tem informação em relação ao assunto?
Essa atitude é a ignorância, pois ele diminui as pessoas que estudam, ele não tem competência para falar sobre isso. E se ele tivesse a competência, ele daria voz aos profissionais da área explicarem o que realmente é a educação sexual na vida das crianças. Temos índices estarrecedores de violência sexual infantil, e muita coisa poderia ser prevenida se as crianças fossem informadas, desde muito cedo, e se todo esse tabu e todas essas questões sexuais fossem desmistificadas.






Mais lidas
-
Entrevistas
Adriana Lodi, mestra, atriz e aprendizAtriz Adriana Lodi é reconhecida como uma das grandes mestras do teatro da cidade. Ela já atou em peças, filmes e seus cursos formaram diversas gerações de atores e atrizes
-
Saúde
Além do laço e das luzes cor de rosaConheça as iniciativas que contribuem para melhorar a autoestima de pacientes que passaram pelo câncer
-
Cidades
Tia Zélia, a baiana que conquistou a Vila PlanaltoConhecida por ter conquistado o paladar do ex-presidente Lula (PT), a cozinheira é querida por todos que frequentam o seu restaurante, na Vila Planalto, e pelos moradores da região. A baiana veio para Brasília há 44 anos em busca de oportunidade, e encontrou uma clientela para chamar de família
-
Cidadania
ONGs para pets do DF passam por necessidades durante a pandemia“Toda ajuda é bem-vinda seja ela em alimentos, brinquedos, tratamentos voluntários. Nós fazemos a diferença diariamente”, diz Rodrigo Braga, voluntário
-
Economia
As dificuldades de quem não conseguiu aderir ao auxílio emergencialAté o mês de julho, mais de 10 milhões de pessoas não haviam conseguido o auxílio emergencial
-
Esporte
Como está sendo a adaptação das atividades esportivas durante a pandemia da Covid-19Conseguir se adequar à nova realidade do coronavírus está sendo um desafio para atletas profissionais e amadores
-
Cidadania
Mulheres unidas na linha de frente contra a violência de gêneroConheça as iniciativas de mulheres que romperam com esse ciclo violento e hoje ajudam e inspiram outras vítimas
-
Economia
Aumento do desemprego causa incerteza sobre o futuroO desemprego no Brasil atingiu taxa de 13,7% no mês de setembro
-
Turismo e Lazer
Saiba quais são cuidados que turistas devem ter antes de sair de casaPesquisa aponta que 63% da população tem intenção de viajar ainda em 2020 e governo lança meios para orientar viajantes de como se prevenir da covid-19
-
Ciência e Tecnologia
Os brasileiros estão cada vez mais conectados pelos smartphonesCom o crescimento das redes sociais e do acesso à tecnologia e internet mais veloz a população está aderindo aos celulares como ferramentas de trabalho, entretenimento, estudo e relacionamentos pessoais
-
Saúde
Mudança climática: calor excessivo no DF agrava problemas gestacionaisGestantes sofrem com a elevação dos termômetros no Distrito Federal; as temperaturas ultrapassaram a média; alívio veio durante o feriado de 12 de outubro
-
Saúde
DF bate recorde de calor. saiba quais são os cuidados necessários em tempos de secaEm 8 de outubro, a temperatura na capital atingiu 37ºC. Especialistas alertam para risco de desidratação, hipertermia e agravamento de doenças.
-
Saúde
Isolamento social: aumenta o número de pessoas sedentárias no BrasilMaior tempo em casa e falta de exercícios acarretam em ganho de peso na população
-
Ciência e Tecnologia
País busca novos modelos para implantar uma eleição via internetEm novembro, habitantes de algumas cidades brasileiras vão poder testar um sistema de votação utilizando smartphones
-
Comportamento
TOC atinge mais de 4 milhões no BrasilSegundo OMS, o transtorno é o segundo mais comum no planeta, perdendo apenas para a depressão
-
Comportamento
Para fugir de ansiedade e frustrações com pandemia, estudante viaja de bike e faz trabalho voluntário pelo Brasil aforaNicolly Prado, de 21 anos, não tinha experiência alguma com bicicletas e atividades físicas, mas ao lado de um amigo, viajou 300 km em cerca de duas semanas. Há mais de um mês fora de casa, ela viaja por meio da plataforma Workaway, que permite trocar serviços voluntários por hospedagem e alimentação
-
Saúde
População permanece insegura quanto a futura campanha de vacinação contra a Covid-19Segundo pesquisa realizada pela Nature Medicine, os brasileiros se demonstram relutantes quanto a obrigatoriedade da vacina
-
Economia
Pequenos negócios crescem na contramão da crise causada pela pandemiaPequenas empresas do comércio foram as que mais sofreram durante a crise; as mesmas correspondem a 27% do PIB nacional
-
Ciência e Tecnologia
Aplicativos on-line reaproximam as pessoas durante isolamento socialPlataformas como Google Meets e Microsoft Teams auxiliam a população em questões profissionais e de lazer
-
Cidadania
Nova revista Redemoinho supera desafios do isolamento para investigar temas de relevância socialEstudantes-repórteres do quinto semestre de jornalismo do IESB finalizam edição com apuração feita de forma remota
-
Política
Juventude de esquerda avalia as próprias perspectivasAlguns militantes explicam suas motivações e críticas ao atual posicionamento político da esquerda brasileira
-
Cultura
Babalorixá explica o significado das cores e roupas do CandombléO preto representa o silêncio e a resignação; o vermelho a energia e a vida; o branco o luto ‘pela morte’
-
Turismo e Lazer
Um novo visualBarbearias de Brasília fazem mais que barba, cabelo e bigode para conquistar fregueses
-
Ciência e Tecnologia
Perigo ao utilizar celular durante chuvas é mitoProfessor recomenda preferência por telefones sem fio durante tempo fechado e alerta para risco em carregadores conectados
-
Economia
Ambulantes lucram até R$ 3 mil com café da manhã pelas ruas do DFApesar de aumentar a renda familiar dos vendedores, a venda é feita sem autorização