Quarentena ajuda a impulsionar relações extraconjugais

Com a pandemia do novo coronavírus, isolamento social e medidas de distanciamento, boa parte da população está em contato frequente apenas com seus parceiros ou parceiras. Segundo um artigo publicado na revista americana “The Guardian”, além da alta taxa de divórcio ter subido em 54%, as pessoas estão mais propícias a questionar o relacionamento monogâmico e se aventurar em relações futuras.
Na história da humanidade, as relações afetivas sofreram mudanças. Assim, dois fatores são importantes para entender porque a monogamia vai se tornando o padrão nos dias de hoje, ao contrário da antiguidade, quando a poligamia era extremamente normal: o aspecto econômico e a moral.
Em relação à economia, a monogamia proporciona um maior poder econômico, acúmulo de riquezas e ascensão social, por causa do menor número de filhos.
Se pensarmos na questão moral, vemos a grande influência da igreja no processo de normalização da relação única. Aliás, a ideia de família com pequenos núcleos, se consolidam também pelo medo de morrer. Segundo o sociólogo Eduardo Gomes, indivíduos com conexões mais sólidas tinham mais chances de sobreviver. “Assim, esse conjunto de fatores vai criando, através de uma castração dos instintos, a inibição dos desejos”, completa.
Para o sociólogo Eduardo Gomes, a fórmula perfeita para a monogamia seria a combinação dos valores religiosos, pregando a repressão dos instintos, com o desejo de objetificação do outro como propriedade.
Além disso, existem diferentes vertentes que procuram entender se o ser humano é monogâmico ou poligâmico. Para alguns especialistas, no início da história, nós éramos poligâmicos, na qual, a nossa natureza está ligada ao desejo carnal e instinto. Já a monogamia foi criada por causa de mudanças culturais e biológicas, para a sobrevivência da espécie. Além disso, ainda existem traços poligâmicos presentes nas pessoas atualmente.
Em um estudo feito com aves pela World Congress on Brain, Behavior and Emotions, em Porto Alegre (RS), cientistas observaram que em 90% das espécies monogâmicas há relacionamentos extraconjugais.
Quando se fala de fidelidade é preciso entender a monogamia social e a genética. A primeira está ligada ao aspecto amoroso e a segunda, ao sexo.
Entre os humanos, de acordo com estudos sobre genética, para o homem a fidelidade sexual é mais importante, pois possibilita a continuidade dos seus genes. Já para as mulheres, a fidelidade emocional seria mais importante porque ela garantiria o cuidado paterno para os filhos.
Claro, essa conversa é científica. Ao falar com pessoas foram dos laboratórios a situação pode ser diferente. Para Rosana Martins, que vive um relacionamento monogâmico há 14 anos, relacionamentos abertos não são “normais”. “Para mim, se o meu companheiro tiver relações sexuais com outras pessoas, ele não me ama de verdade. Por isso, eu não aceitaria”.
Já para o estudante Felipe Gama, a fidelidade social é a única fundamental. “Se oaminha namorada me ama de fato, mas sente vontade de ter relações sexuais com outras pessoas, isso não me incomoda. Acho que amor e desejo são coisas diferentes”, justifica.

De acordo com o sexólogo Manuel Matheu, as pessoas preferem procurar uma experiência extraconjugal e insistir em uma relação falida do que terminar tudo
Ciúme
Uma das explicações para o surgimento do ciúme está relacionada à estratégia de preservação da genética. No tempo medieval, os homens queriam ter certeza sobre a paternidade, afastando a possibilidade de outro homem ter relação sexual com a sua mulher. Assim, ao menor sinal de que alguém estaria se interessando por outra pessoa, o ciúme surgiria.
No tempo atual, esse sentimento não aparece apenas para a certeza da paternidade, mas também, em termos gerais, é uma reação à perda, que pode ser real ou simplesmente imaginada.
De acordo com a psicóloga Alenir Macedo, isso significa dizer que o ciúme aparece quando uma pessoa se encontra (na maioria das vezes de forma inconsciente) vulnerável à perda de algo ou alguém que para ela tem grande valor afetivo. “Não ocorre necessariamente apenas entre pessoas. Quem nunca viu uma criança que chora em desespero ao ver sua bola ou ursinho preferidos pegos por outras crianças?”, explica.
A psicóloga acrescenta que as pessoas depositam expectativas, desejos, valores e afetos sobre as pessoas e objetos com os quais se relacionam. “O grande problema desta projeção é que deixamos de enxergar o outro como ele é e nos debruçamos apenas para aquilo que queremos ver”.
O ciúme é uma reação emocional, tem a ver com uma fragilidade da autoestima com a qual se pode lidar de maneira saudável ou não. Uma forma saudável de responder aos ciúmes é compartilhar o que está sentindo com o/a parceira/o.
A estudante Clara Lima vive um relacionamento poliamoroso há 5 anos e afirma que nesse tipo de relação, sentimentos como ciúme devem ser excluído. “A possessividade é uma negação da individualidade do outro, atribuindo a ele um status de objeto, que pertence estritamente a você. É uma forma adoecida de controle, onde a pessoa tenta manter o relacionamento sob o seu olhar, sob a sua constante vigia, acreditando que nada passaria despercebido e assim, evitaria a perda. Essa ideia equivocada de que a outra pessoa me pertence, é responsável, por exemplo, pelos nossos inúmeros casos de feminicídio”, afirma Clara Lima.
“É importante buscar ajuda e entender que a possessividade sufoca qualquer relacionamento saudável. Tentando manter a todo custo o controle, acaba por garantir o fracasso da relação”, afirma Alenir Macedo.






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