Educação precoce melhora adaptação e aprendizado de crianças com TEA
Neuropediatra destaca que a estimulação nos primeiros anos facilita a inclusão escolar e prepara crianças para o ensino regular.
Postado em 02/04/2025
A intervenção precoce tem um impacto direto na aprendizagem de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), contribuindo para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e emocionais. Especialistas afirmam que quanto mais cedo essas crianças recebem estímulos adequados, melhores são suas chances de adaptação ao ensino regular. No Distrito Federal, o Programa Educação Precoce (PEP) da Secretaria de Educação atende crianças de 0 a 4 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.

“A fase inicial do desenvolvimento humano é a mais importante para os estímulos cognitivos. Quanto mais cedo iniciamos a intervenção, melhor é o prognóstico em relação às habilidades de aprendizado, comunicação e socialização”, explica a neuropediatra especialista no Transtorno do Espectro Autista Fernanda Ferrão. O Programa Educação Precoce do DF busca justamente oferecer essa base para que as crianças cheguem ao ensino regular mais preparadas.
Amanda Cabral é pedagoga e educadora física, atuando há 18 anos no Programa Educação Precoce da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Com formação em fisioterapia e especialização em terapia neurológica, transtornos do desenvolvimento e psicomotricidade, ela dedicou sua carreira ao atendimento de crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Desde 2012, Amanda trabalha no Centro de Ensino Especial 02 da Asa Sul (CEE 02), onde contribui para a inclusão e desenvolvimento infantil.
A transição para o ensino regular pode ser desafiadora para crianças com TEA, mas a educação precoce contribui para tornar esse processo mais natural. “As crianças que passam pelo programa chegam mais preparadas para o ambiente escolar, pois já possuem uma rotina estruturada e maior independência”, explica Amanda.
O impacto do programa na vida das famílias

(Créditos: arquivo pessoal)
Bruna Sousa, mãe de Levi, de quatro anos, conta que a estimulação precoce foi essencial para o desenvolvimento do filho, que é autista. “Descobri o programa através de familiares que já haviam passado por ele, logo após ter passado pelo neuropediatra e ele ter encaminhado meu filho. O processo para conseguir uma vaga foi comum, realizei a matrícula dele na escola, mas como já haviam fechado as turmas, deixei o nome dele na lista e assim que iniciou o ano letivo nos chamaram para a entrevista”, relata.
Levi ingressou no programa com 1 ano e 10 meses, no CEI 04 de Taguatinga e, desde então, Bruna percebeu avanços significativos. “O Levi sempre teve um bom desenvolvimento em alguns aspectos, mas a fala dele estava bastante atrasada. Ele se comunicava apenas levando a minha mão para o que queria, não olhava quando o chamávamos e tinha estereotipias, como girar objetos”, explica.
Com a educação precoce, a comunicação e a socialização do menino evoluíram. “Hoje ele é uma criança verbal, atende aos nossos comandos e aprendeu a dividir brinquedos, o que era muito difícil antes. Ele socializa e participa das brincadeiras com os amiguinhos.”
A fala e o comportamento de Levi também melhoraram fora do ambiente escolar. “A fala era algo que eu priorizava estimular, e o comportamento dele mudou bastante, tanto em casa quanto em ambientes públicos. Hoje ele consegue nos acompanhar e participar melhor do cotidiano, com menos crises”, conta.
As atividades lúdicas e sensoriais desenvolvidas no programa também ajudaram na adaptação e aprendizado de Levi. “Elas trabalharam muito o cognitivo dele. São atividades divertidas, mas que exigem que as crianças pensem e desenvolvam habilidades essenciais. Além das aulas em sala, as aulas na piscina ajudaram muito na autonomia do Levi”, explica Bruna.
Desafios e a necessidade de mais investimentos
Apesar dos avanços, ainda há desafios a serem superados, como a ampliação das vagas e a garantia de acesso a terapias complementares. “Trabalhar com psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais ajudaria no desenvolvimento global das crianças, mas ainda há uma falha na oferta desses serviços pelo setor público”, alerta Fernanda Ferrão.
Outro ponto fundamental é a capacitação contínua dos educadores. Segundo Amanda Cabral, pedagoga e educadora física que atua há 18 anos no Programa Educação Precoce da Secretaria de Educação do DF, os professores passam por treinamentos oferecidos pela Secretaria de Educação e, muitas vezes, buscam especializações por conta própria para atender melhor seus alunos.
A educação precoce tem um papel fundamental na inclusão de crianças com TEA no ensino regular. Com mais investimentos e estrutura, a expectativa é que mais alunos tenham acesso a esse suporte essencial, garantindo não apenas um melhor desempenho acadêmico, mas também mais autonomia para o futuro.