Pessoas têm a vida transformada através de artistas
Fãs relatam que os ídolos serviram como impulso em momentos difíceis, e como alegria nos bons momentos
Postado em 12/06/2024
Dentro do meio musical, os artistas entregam aos fãs muito mais do que canções com uma batida viciante ou com letras que se encaixem com a realidade do ouvinte. A arte realizada através de um som pode mudar a vida das pessoas, de formas simples a mais drásticas.
Beyoncé, Lagum, Coldplay, L7 e Emicida apresentam diferentes propostas no âmbito musical, mas se assemelham quanto ao poder de mudança. Os fãs desses artistas dividem as experiências e mudanças geradas através do impacto dos ídolos.
‘Freedom’
Para Sofia Moraes, vestibulanda, de 18 anos, a Beyoncé mudou a vida dela. Ela explica que, por também ser mulher negra, sente-se representada pela cantora, além de ver nela uma forte possibilidade de futuro. Sofia destaca a fundamentalidade que as letras da “Queen B” levam tanto aos fãs, quanto ao restante da sociedade, justamente por abordarem pautas importantes, como racismo.
“Ela cantar sobre racismo e empoderamento feminino negro, falar dos ataques policiais contra negros, tendo seus álbuns, como sempre, os mais escutados, e ainda ser completamente criticada, nos mostra que não podemos desistir de alcançar os nossos objetivos, mesmo tendo obstáculos. Ela influencia na resistência, uma artista completa”.
As páginas de fãs clubes da cantora, segundo a vestibulanda, fazem com que ela se aproxime e possua mais conhecimento a respeito da vida da dona do hit “Diva”, além de gerar um vínculo entre os fãs.
‘Bem melhor’
Bedian Araújo, fotógrafo, de 25 anos, teve a oportunidade de, há alguns anos, subir no palco de sua banda favorita, Lagum. Ele relata ter sido um dos melhores momentos de sua vida. “Eu subi no palco, e eram meus amigos lá, é esquisito isso, porque você vê eles lá no palco e etc. Tipo, os caras nunca te viram na sua vida, mas você sabe de tudo deles”.
O fotógrafo compartilha que o ex-baterista da banda que faleceu em 2020, Tio Wilson, costumava manter um assíduo relacionamento com os fãs pelas redes sociais. Ele disse que, realizando um trabalho acadêmico sobre a banda, teve a oportunidade de receber diferentes feedbacks do baterista.
Bedian conta que atualmente é fotógrafo do grupo de pagode Menos é Mais, e, ao longo das experiências, vivenciou uma história marcante sobre o poder da influência que os artistas possuem. Ele narra a história de um menino com sobrepeso que foi ao camarim entregar um presente ao vocalista da banda, Duzão, e logo depois, ao sair, pôde contar o impacto que o cantor teve sob a vida dele. “Ele conta que sofreu muito bullying. Não tinha amigos. Quando veio o estouro do Menos é Mais, a galera começou a chamá-lo de Duzão. E saiu como uma piada de mau gosto, mas acabou virando uma coisa que o fez ter amigos. A existência do Duzão mudou a vida dele, porque fez com que ele passasse a ser visto”.
Bedian, por ter crescido sem uma presença paterna, diz, subconscientemente, buscar isso em figuras masculinas. Ele diz que artistas homens do meio musical geraram um impacto gigante na vida dele. “Artistas são isso, são criadores e quando você é fã e você tem algum tipo de arte dentro de si, isso te incentiva”.
‘Viva la vida’
Gabriel Lucena, publicitário, de 27 anos, presenciou um momento de realização única ao subir ao palco do Coldplay. Para ele, a experiência foi um turbilhão de emoções, desde a incredulidade até o nervosismo e a felicidade absoluta. Como fã de carteirinha da banda desde os nove anos, ele não apenas realizou seu sonho de estar próximo de seus ídolos, mas também teve a oportunidade de tocar no mesmo piano que seu vocalista favorito, diante de uma plateia de 70 mil pessoas.
“A influência do Coldplay na minha vida vai além da música. Eu acredito firmemente no poder que os artistas têm de inspirar mudanças positivas na vida das pessoas. Não se trata apenas de fanatismo, mas de absorver as mensagens e valores transmitidos pela banda e aplicá-los no dia a dia. Desde o começo da banda, as ações humanitárias e as letras significativas deles moldaram minha perspectiva, me incentivando a ser uma pessoa correta, ajudar o próximo e fazer o bem”, expõe.
Quanto ao papel das redes sociais na conexão entre fãs e ídolos, o publicitário ressalta o impacto positivo, especialmente durante a pandemia. “Embora algumas bandas, como o Coldplay, não interajam muito com o público nas redes sociais, outras, como o Young and the Giant, encontraram maneiras criativas de se aproximar de seus fãs. Projetos como a composição colaborativa de músicas durante o isolamento social proporcionaram uma sensação de proximidade entre os artistas e seus seguidores, mostrando o potencial das redes sociais para fortalecer os laços entre ídolos e admiradores.”
‘Gratidão’
A estudante de economia, Maria Preta Gentil, de 19 anos, comenta ter começado a acompanhar o L7NNON em 2019. Sentimento que cresceu com o passar dos anos, hoje sendo fã do artista.
A estudante teve a oportunidade de ver o ídolo de perto e afirma ter sido um dos melhores dias da vida dela. “Eu acompanhei os fãs clubes dele, via os vídeos dos shows e já ficava emocionada. Viver aquilo ao vivo e de perto multiplicou esse sentimento por mil, especialmente por estar ao lado de dois amigos meus”.
O cantor de rap aborda nas suas músicas palavras de força e persistência, assim, refletindo esses sentimentos na vida de quem o escuta. “Ele fala que a vida é uma constante subida, que depois do topo só tem descida, então para continuar sempre para cima. E também da importância de não subir sozinho, que não adianta nada você chegar lá em cima sem ninguém do seu lado, que é pra você subir e levar quem te quer bem junto. Levo isso pra vida. Sempre ter minha família e amigos comemorando minhas conquistas comigo”.
O estilo musical rap apresenta críticas sociais e artistas como L7 e Emicida abordam vividamente isso nas letras de suas canções. “O rap tem um papel muito importante de trazer um pensamento crítico sobre a realidade e levando em suas letras debates políticos sociais, além de sempre reafirmar que o crime não é a melhor opção, como o L7 fala em Poetas no Topo 3, o rap faz o menor largar a pistola, faz sem estudo voltar pra escola “, afirma Maria Preta.
Levanta e anda
Ana Paula Lima, estudante de jornalismo, de 20, admira o cantor Emicida há alguns anos. Ela fala que já viveu a experiência de ir ao show dele três vezes e em todas foi como se fosse a primeira. “Eu já fui em três shows do Emicida: um no Sesc da Ceilândia, um no Na Praia e agora na turnê dele da Gira Final. E todas foram como se fosse a primeira vez. Eu me senti extremamente feliz, emocionada e tocada pelo trabalho e pela arte dele.
A estudante conta que conheceu o trabalho do Emicida em um momento de muita fragilidade de sua vida, quando enfrentou um período difícil de depressão. “Quando eu conheci o trabalho dele, eu estava muito deprimida. O que ele me ajudou no comportamento, eu acho que foi em conhecer a história dele e entender como ele conseguiu se reerguer diante daquilo tudo”.
A música do artista não só proporciona conforto nos momentos difíceis, como serve de incentivo para sua resiliência e renovação. “Muitos momentos que eu estava triste, no pico da minha depressão, eu escutava ele e as coisas melhoravam. As músicas do Emicida me impulsionam para eu acordar, levantar e seguir mais um dia.”
Para Ana Paula, o poder dos artistas de influenciar e moldar a realidade de seus ouvintes é inegável. “Eles têm total capacidade de influenciar, seja para o bom, seja para o ruim, porque a gente enxerga eles como referência”.
Quanto à relação entre ídolo e fã nas redes sociais, a estudante reconhece a importância da conexão, mas também a necessidade de respeitar a privacidade dos artistas. “Eu acho que as redes sociais geram, sim, uma maior conexão entre o ídolo e o fã. Mas os próprios ídolos, pela internet estar sendo um lugar onde muitos têm a sensação de não ter privacidade, às vezes se tornam mais reservados”.