Tesouros ancestrais do Peru: uma viagem pela história e cultura no CCBB Brasília

A mostra reúne 162 peças em cerâmica, cobre, ouro, prata e têxteis

Ana Estigarraga

Postado em 27/06/2024

Até agosto, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília recebe a exposição “Tesouros Ancestrais do Peru”, uma oportunidade única para mergulhar na rica história das antigas civilizações andinas. Com curadoria de Patricia Arana e Rodolfo de Athayde, a mostra reúne 162 peças em cerâmica, cobre, ouro, prata e têxteis, proporcionando uma jornada desde as primeiras sociedades pré-colombianas até a ascensão do poderoso Império Inca. A exposição também apresenta obras contemporâneas que dialogam com as características dessas civilizações, trazendo reflexões sobre a memória latino-americana e as identidades atuais.

A mostra é um convite para explorar a complexidade técnica e o saber ancestral das civilizações que habitaram o território peruano, bem como para reconhecer o apagamento do legado desses povos. O CCBB, com essa exposição, promove um debate sobre a construção das identidades na América Latina, oferecendo caminhos para compreender a influência dessas culturas na contemporaneidade.

Uma homenagem ao legado histórico

“Tesouros Ancestrais do Peru” vai além de uma simples amostra etnográfica e arqueológica. Pretende ser uma homenagem reflexiva ao legado histórico das culturas originárias da América e sua influência na mestiçagem das identidades latino-americanas. A exposição apresenta objetos simbólicos, ritualísticos e de uso cotidiano, que narram a rica história dos povos que habitaram o Peru antes da chegada dos europeus.

As peças expostas, provenientes do Museu Oro del Peru, abrangem um período que vai de 900 a.C. a 1600 d.C., e pertencem a civilizações que se estendiam ao longo da Cordilheira dos Andes e da costa oeste do continente. A história do Peru, que abrange mais de 10 mil anos, testemunha a adaptação e desenvolvimento de sociedades culturalmente avançadas em ambientes variados como a selva tropical, os planaltos andinos e os vales costeiros desérticos.

Linha do tempo das civilizações andinas

Período pré-cerâmico ( 11.000 a.C – 1800 a.C)

Os primeiros habitantes da região eram coletores e caçadores que utilizavam instrumentos rudimentares de pedra e viviam em pequenos grupos nômades. Com o início da civilização, começaram a domesticar plantas e a construir os primeiros centros cerimoniais.

Período inicial (1800 a.C. – 800 a.C.)

Nesse período, foram construídos novos centros cerimoniais e edifícios administrativos. As técnicas agrícolas e de irrigação foram aperfeiçoadas e começaram a desenvolver cerâmicas, metais e tecidos.

Horizonte inicial (900 a.C. – 300 a.C.)

Marcado pela consolidação do sedentarismo e da economia agrícola. Surgiu a cultura Chavín, que se tornou um importante centro cerimonial dos Andes.

Período intermediário inicial (200 a.C. – 400 d.C.)

Após o desaparecimento da cultura Chavín, floresceram grupos sociais regionais com identidade cultural própria, como os Moche e Nasca, conhecidos por suas cerâmicas esculturais e policromáticas.

Horizonte médio (500 d.C. – 800 d.C.)

A cultura Huari, com grande desenvolvimento cultural e influência que se estendeu por várias regiões dos Andes.

Período intermediário tardio (900 d.C. – 1400 d.C.)

Depois do declínio de Huari, surgiram diversas culturas regionais com sociedades organizadas em senhorios e cacicazgos, como os Chancay e os Inca, que iniciaram sua expansão territorial.

Peças expostas: Um mergulho na cultura andina

Vestimentas e acessórios

bolsa no formato de um felino. / Foto: Ana Estigarraga

O uso de metais nas vestimentas era crucial para identificar etnias, status social e cargos religiosos. Ornamentos como cocares, anéis nasais e braceletes eram intrinsecamente ligados à tradição têxtil e arte plumária, simbolizando poder divino e proteção contra espíritos malignos.

Têxteis

estilingue da cultura nasca. / Foto: Ana Estigarraga

Os têxteis desempenhavam funções domésticas, sociais e religiosas, utilizando fibras vegetais e de camelídeos. Os antigos tecelões empregavam técnicas sofisticadas, criando tecidos com desenhos geométricos e cores vibrantes.

Cerâmicas

trombeta escultural. / Foto: Ana Estigarraga

A cerâmica andina, confeccionada a partir de argila modelada e queimada, revela a criatividade e habilidades técnicas dessas culturas. Utilizada tanto em contextos utilitários quanto cerimoniais, a cerâmica nos oferece uma visão profunda sobre a vida cotidiana e religiosa das antigas civilizações.

Divindades e semi-divindades

mascara funeraria representando o rosto do deus Naylamp. / Foto: Ana Estigarraga

Personagens divinos e semi-divinos permeavam diversos objetos, simbolizando a complexa mitologia e espiritualidade dessas culturas. Representações de deuses e seres mitológicos eram comuns em cerâmicas, metais e têxteis, refletindo a conexão profunda entre o mundo físico e espiritual.

escultura em formato de doninha. / Foto: Ana Estigarraga

Não perca a chance de visitar essa exposição e se maravilhar com a riqueza cultural e histórica dos tesouros ancestrais do Peru, uma verdadeira viagem no tempo que amplia nosso olhar sobre o legado das civilizações pré-colombianas e sua relevância nos dias atuais.