A realidade do brasiliense que depende de transporte público

Antes mesmo da Covid-19, a vida do cidadão que precisa utilizar o transporte público do DF já era complicada; com a pandemia as dificuldades só ficaram mais evidentes.

Victória Cruz

Postado em 23/09/2021

Depender de transporte público no Distrito Federal não é uma tarefa fácil. Pistas esburacadas, ônibus de péssima qualidade e velhos, metrôs cheios e sem ventilação apropriada, valor de passagens que só aumentam a cada ano é a realidade que os brasilienses que já enfrentavam antes mesmo da pandemia chegar e implementar as normas sanitárias.    

Durante os primeiros meses do novo coronavírus no DF, devido ao isolamento social em que muitos indivíduos começaram a trabalhar remotamente, o número de pessoas que utilizam o transporte público diminuiu 71% de acordo com dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). No mesmo período, as normas sanitárias para o translado começaram a ser implementadas, uso de máscaras e álcool em gel se tornou obrigatório, os ônibus e metrôs tinham que ser higienizados a cada viagem, disponibilizar álcool 70% nos veículos, entre outros.

Mas já no começo de 2021 com o início da vacinação contra a Covid-19, os cidadãos começaram aos poucos a voltar  às  suas rotinas de trabalho presenciais e, por consequência, a utilizar o transporte público. Com isso, foi notório o aumento no número de passageiros. O cenário que não era visto há quase um ano, voltou, isto é, veículos cheios e sem distanciamento social, a rodoviária do Plano Piloto lotada de pessoas se locomovendo durante todo o dia e as normas sanitárias não sendo cumpridas. 

A rodoviária do Plano Piloto é a verdadeira realidade dos brasilienses, não retrata a beleza presente na parte central do Plano Piloto, mas, sim, pessoas que dependem do péssimo serviço público de transporte para se locomover. Foto: Acácio Pinheiro por Agência Brasília
 

Eric Ribeiro, estudante de administração, se locomove de ônibus todos os dias para ir trabalhar e afirma que não há transporte suficiente e de qualidade nas ruas. Diz também que com a vacinação avançando houve um aumento de passageiros nos ônibus.  

Para piorar a situação dos brasilienses que correm o perigo de se contaminar com o vírus todos os dias ao sair para trabalhar, em 19 de abril de 2021, a Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) entrou em greve por tempo indeterminado, devido ao corte do auxílio-alimentação e também aos descuprimentos judiciais de acordos entre o governo e a categoria. Com isso, os trens começaram a rodar apenas com 80% da sua capacidade nos horários de pico e nos demais horários com 60%. E, por consequência, os ônibus começaram a lotar mais devido à falta de trens. 

Cinco meses após o início da greve, o sindicato ainda não dá uma data para o fim do movimento e os reflexos continuam a ser sentidos pela população. Com a falta de trabalhadores, dependendo da hora que se vai até a estação, não há guichês abertos para a compra de bilhetes e as pessoas acabam embarcando nos trens sem pagar passagem. O horário de espera que antes da greve variava no máximo 30 minutos, hoje pode passar de uma hora dependendo do momento do dia em que se vai para a estação.

A estudante de direito, Dayanne Santiago, relata que devido a redução de trens, já teve que esperar mais de uma hora para poder embarcar, pois não era mais horário de pico e, nesse caso, só 60% dos trens estavam em circulação. Além disso, afirma que os trens estão cheios e que a cada dia a quantidade de passageiros só tem aumentado. 

População sofre com as consequências da greve do Metrô-DF

No dia 13 de setembro, um trem com destino à estação Central descarrilou, isto é, saiu dos trilhos, entre as estações Central e Galeria, por volta das 20h. Antes mesmo do ocorrido, passageiros neste dia esperaram mais do que o normal. O tempo máximo de espera passou de 6 minutos entre um trem e outro para 30 minutos, com destino a Ceilândia e Samambaia. Por consequência, as estações estavam lotadas devido ao atraso dos trens, além disso, vários veículos ficaram retidos por um determinado tempo, o que já mostrava que algo não estava certo.

Com a demora de 30 minutos à espera do trem que iria para Samambaia, quando o trem estava chegando a plataforma para os indivíduos descerem, ouviu-se um barulho muito forte. Os cidadãos que estavam à espera do trem e os trabalhadores presentes se assustaram com o estrondo vindo dos trilhos. Um ponto de interrogação pairou no ar, ninguém sabia o que tinha acontecido. Por uns 15 minutos, o trem ficou parado e os indivíduos continuavam a espera para embarcar. Quando foi constatado o que aconteceu, a estação Central se tornou um lugar cheio de pessoas irritadas e cansadas. 

As pessoas que estavam nos vagões do trem que descarrilou começaram a sair pela saída de emergência do túnel até a plataforma da estação. Já os indivíduos que esperavam, indignados pelo ocorrido queriam o seu dinheiro de volta, pois com o valor da passagem de R$5,50, o que se espera é que tenha qualidade, o que não ocorreu. Além de que, devido a isso, deveriam gastar mais dinheiro de passagem para voltar às suas casas. 

Como consequência do ocorrido, os trens começaram a demorar mais para chegar às outras estações na noite do dia 13. Além disso, a estação Central ficou fechada até o meio-dia do dia 14 de setembro, o que atrapalhou a vida de quem trabalha nas redondezas da estação. 

Com mais de 5 meses de duração, essa é considerada a maior paralisação dos metroviários. A segunda maior foi em 2017 que durou 77 dias. O Metrô-DF segue em negociação com o governo distrital para o fim da greve. Foto: Tony Oliveira por Agência Brasília

A Companhia do Metropolitano deixou de aplicar mais de R$111 milhões na manutenção de trens e trilhos entre 2018 e 2020, o que pode explicar o ocorrido. Em nota, o Metrô-DF afirma que o acidente ocorreu devido a falta de manutenção dos trilhos, que se deve a uma greve que dura mais de cinco meses e quem está ficando no prejuízo é a população que depende desse transporte. 

Éric Ribeiro (20) acredita que a solução para a melhora do transporte público do DF seria colocando mais veículos nas ruas, pois, dessa forma, geraria mais empregos também. Já Dayanne Santiago (21) afirma que para melhorar a qualidade do sistema público é necessário que se faça um estudo para ver a demanda das regiões administrativas e também renovar a frota dos veículos. Em relação ao metrô, ela diz que a qualidade é boa, mas que devido ao excesso de greves, acaba sendo ruim para os cidadãos que dependem desse transporte. 

Atualização: no dia 25 de outubro, o Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10), suspendeu a greve dos metroviários que já durava mais de 6 meses.