Crescente onda de violência em casas de artigos religiosos assusta comerciantes em Brasília
Há mais de 35 anos, comércios sofrem com a violência urbana, além de intolerância e preconceito
Postado em 08/04/2024
A violência urbana é um problema de segurança pública. O medo, a insegurança e a falta de punição necessária para inibir infratores fazem com que moradores e comerciantes se sintam incapazes de mudar a situação. Mesmo com a interferência da Polícia Militar, o aumento do número de casos violência, intolerância e preconceito continua em alta.
Josiane de Oliveira, 64 anos, cuida dos negócios da família, uma loja de artigos religiosos chamada “Céu e Terra” em Brasília, na Asa Sul. Segundo ela, pessoas em situação de rua constantemente se reúnem na porta do estabelecimento. “Alguns pedem dinheiro, outros pedem artigos religiosos para revender. E como alguns são usuários de drogas, o receio é maior ainda”, relatou.
A casa de artigos religiosos dispõe de materiais para a igreja católica, esoterismo, umbanda e candomblé, e mesmo assim os comentários maldosos e as piadas são constantes. “Preconceito se rebate com informação”, completou Josiane. Para ela, o maior problema é enfrentar a onda de violência que cresce cada vez mais, e tende a piorar.
Os comerciantes não enxergam perspectiva de melhora. Para prevenir novas ocorrências, a medida mais imediata é reforçar a segurança da loja com gradeado, mesmo estando com as portas abertas. “A violência é tanta, que a única alternativa é colocar grade nas portas, e só abrir para liberar a entrada e saída de clientes. Assim, a gente se protege”, acrescentou.
Sarita Fernandes, 35, é atendente em uma loja de artigos religiosos em Sobradinho e pontua que situações de intolerância religiosa não são muito recorrentes na região, embora existam. O que explica o fato é o motivo de a cidade ter muitos terreiros e centros religiosos.
Para contornar a situação, os comerciantes usam do bom e velho jogo de cintura. “Preconceito sempre vai existir. É importante ter postura e aprender a levar na brincadeira”, ressaltou Sarita.
Uma via de mão-dupla: Tudo o que se exige é respeito
Marcelle Aquino, 26 anos, conta que quem é da religião vive uma insegurança muito forte em qualquer coisa. “Quando eu vou em alguma loja de artigos religiosos para umbanda e candomblé, eu preciso me esconder, para não correr riscos na rua”. Ela comenta que já passou por diversas situações de intolerância religiosa, e que outros colegas também já passaram pela mesma dificuldade.
“Eu evito andar com guia na rua, contra-egum, olho de boi no pescoço. Se a gente se rebelar, corre o risco de represália. Tanto no emprego, como na vida pessoal”, revelou Marcelle.
Em contrapartida, Pai Adilmo D’Ogum, que comanda um terreiro de umbanda em Sobradinho, sente que a intolerância religiosa parte do próprio meio espírita. “Em seis anos aqui, nunca sofri violência alguma de pessoas de fora. Coloco minha roupa branca e vou para os lugares, se eu perceber algum olhar diferente, nunca rebato.
“Enquanto não tiver respeito dentro da minha casa, eu não cobro dos outros”, declarou. Para ele, a religião, assim como outros aspectos da vida em sociedade, se trata de uma via de mão dupla. O respeito é primordial em qualquer denominação, e a obrigação do sacerdote é receber as outras pessoas com humildade e prestar caridade.