Grafites trazem cores às avenidas e ruas do Distrito Federal

Entre 2019 e 2021, o Governo do Distrito Federal já investiu cerca de R$358 mil para que grafiteiros revitalizassem os espaços públicos da cidade
Créditos de Imagem: Arquivo pessoal

Isadora Mota

Postado em 04/11/2021

Os muros cinzas e paredes vazias da capital estão, pouco a pouco, sendo cobertos por diversas cores e muita arte. O grafite, ou arte de rua, vem ganhando cada vez  mais espaço no Distrito Federal, transformando a vida daqueles que produzem e da comunidade que tem a oportunidade de observar essas criações enquanto realizam os percursos do dia a dia. 

De acordo com o Governo do Distrito Federal (GDF), entre 2019 e 2020, foram investidos cerca de R$ 277,5 mil para que grafiteiros revitalizassem os espaços públicos da cidade com suas pinturas.  Em setembro deste ano, o GDF deu início ao projeto W3 – Arte Urbana, que destinará R$ 81 mil para intervenções artísticas que serão realizadas nas paradas de ônibus da avenida. Além dessas ações pontuais, outros pequenos projetos acontecem ao longo de todo o ano. 

Com o intuito de desenvolver a cultura do grafite no Distrito Federal, Thiago Azevedo deu início ao coletivo Grafitti da Capital / Créditos de Imagem: Arquivo pessoal

O apoio do governo é algo recente. O doutor em Teoria, História e Crítica da Arquitetura e Urbanismo, Claudio Bull, explica que a classe artística da arte de rua se esforçou para iniciar um processo de fazer um meio de políticas públicas para que o grafite pudesse acontecer. Antes associado ao vandalismo, as pinturas que hoje colorem as ruas, fachadas e prédios de Brasília eram consideradas crime. 

Raquel Bastos, 22, grafiteira, conta que a história do grafite faz parte de uma transgressão de ocupar os espaços sem permissão: “Essa falta de permissão, a rebeldia, não é uma coisa bem quista. Hoje isso mudou porque existem mais segmentos e houve um movimento de higienização do grafite”.

Para a artista, apesar das mudanças em relação à percepção quanto à arte no país, alguns empecilhos ainda fazem parte da realidade. “Existem algumas políticas públicas que reforçam a política do grafite. Ao mesmo tempo, vemos casos como o do João Doria [governador do estado de São Paulo] querendo apagar grafites em São Paulo. Por mais que existam incentivos, a lei é bem vaga, ela pune o grafiteiro. Tem incentivos mas também tem essa contra ajuda do governo”, esclarece. 

Além de pinturas em muros

É comum que a arte nos muros receba destaque pelo embelezamento e revitalização de espaços da cidade. Como aponta o especialista Claudio Bull, o grafite melhora os aspectos dos ambientes e traz várias possibilidades visuais ao quebrar com o cinza. “O grafite acaba sendo muito interessante para se pensar dentro desse contexto de como a cidade pode se emancipar da sua frieza e da sua feiura. Ele entra como uma possibilidade de repensar esses espaços”, explica. 

Apesar desta característica, a jovem Raquel Bastos compartilha que o grafite não se limita somente a isso, vai além, é uma espécie de termômetro urbano que influencia a cidade e também é influenciado por ela. 

 Raquel Bastos começou a grafitar em 2017, depois de ser incentivada e inspirada por outros artistas do segmento / Créditos de Imagem: Arquivo pessoal

O grafiteiro Thiago Azevedo, 37, diz que a arte é feita como uma forma de chamar a atenção de quem mora na cidade para o que acontece com ela. Para o artista, as experiências do local são representadas em forma de desenhos, que têm o intuito de despertar um pensamento crítico sobre diversos temas. 

Rodolfo Madureira, grafiteiro conhecido como Caabure, traz ainda a questão do acesso à cultura como um ponto importante do grafite. O artista explica que a maior importância desse segmento artístico é o de levar a arte para todo tipo de pessoa: “O grafite torna a arte mais acessível. Muitas pessoas, principalmente das periferias, não podem ir a museus ou exposições de arte, e o grafite proporciona isso. A pessoa tá lá andando na rua da casa dela e se depara com um grafite”.