Tecnologia de Audiodescrição 2.0 oferece acessibilidade e normatividade para deficientes visuais

A startup Cinema Cego é pioneira no uso da tecnologia. Saiba mais sobre a ferramenta na prática da transmissão de produções audiovisuais

Ana Morbach

Postado em 27/10/2021

A tecnologia de Audiodescrição 2.0 (AD) tem como objetivo oferecer acessibilidade às pessoas portadoras de deficiência visual ou neurológica. Utilizando-se da voz de um profissional como forma de linguagem, a ferramenta permite que o público tenha a experiência de presenciar o filme sem perder o conteúdo, apreciando-o de outra maneira. Com um leque abrangente, a AD pode ser utilizada em filmes, séries, vídeos e até mesmo no teatro, podendo vir em diferentes formatos, através de fones, eletrônicos diversos ou emissão de som padrão. 

Como parte importante da inclusão social e cultural, em 2004, a tecnologia foi regulamentada no Brasil de acordo com o Decreto 5.269/ano. De acordo com a pedagoga e tecnóloga no campo da audiodescrição, James Menezes, a ferramenta de fato é voltada para um público de deficientes visuais, porém, também pode auxiliar significativamente um público com necessidades neurológicas, não somente no entretenimento, mas por exemplo, na sala de aula. “Para um professor que tem um aluno com autismo, por exemplo, é difícil trabalhar a concentração e fazer a criança aprender. Nesse caso, a AD beneficia ambos os lados”, revela.

A audiodescrição é normalmente feita com voz sintetizada, diz a pedagoga James Menezes/ Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

Marcando presença em Brasília

Um dos pioneiros da utilização da Audiodescrição em Brasília foi o Cinema Cego. Criada em 2016 por Marx e James Menezes, a startup veio no intuito de democratizar o recurso da audiodescrição e proporcionar entretenimento e conhecimento a profissionais e pessoas cegas. Primeiramente disponibilizando serviços de entretenimento como filmes e séries, o tempo fez com o Cinema Cego buscasse novas alternativas para disseminar a ferramenta.

Atualmente, a startup possui site para acesso a produções audiovisuais, o podcast “Cegocast” e um curso online sobre os fundamentos e práticas da audiodescrição 2.0. Com a chegada da pandemia, o estabelecimento fixo da empresa, localizado na Universidade de Brasília (UnB), foi temporariamente fechado e os seus serviços passaram a ser ofertados somente no formato remoto. Apesar das dificuldades, parar não foi uma opção. Buscando sempre exaltar a pauta da acessibilidade das pessoas cegas, o Cinema Cego inova a cada ano ao utilizar a ferramenta.

“Nossa mensagem é essa. É mostrar que os deficientes visuais podem fazer parte de tudo sem dificuldades. São pessoas que usam telefone, assistem filmes, trabalham e têm o direito de aproveitar e aprender tanto quanto as pessoas videntes. Estamos aqui para ensinar cada vez mais pessoas que a acessibilidade não é difícil, só é preciso saber como fazer”, afirma a fundadora e CEO da empresa, James Menezes.

O Cinema Cego foi utilizado a partir de uma tese de doutorado feita por Marx Menezes chamada “AD: framework de audiodescrição poética”. / Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

Audiodescrição na formação de profissionais

Embora a comunicação inclusiva esteja sempre em pauta, ensinar sobre acessibilidade ainda é uma dificuldade. Nas palavras do coordenador do curso de Cinema e Audiovisual do Centro Universitário IESB, Paulo Moraes, os professores não estão preparados para enfrentar um estudante e um público de deficientes visuais. “Os cursos de comunicação, no geral, não estão preparados. Eu enxergo a acessibilidade como um longo caminho a ser percorrido. Por experiências, tenho que adaptar meus ensinamentos, práticas e até os exercícios para meus estudantes deficientes”, comenta.

Tendo em vista o crescimento das redes sociais e dos streamings como Netflix e Amazon Prime, é possível observar que a AD se mostra presente, não somente para aumento de público, mas para mostrar que a acessibilidade e a inclusão social podem ser aplicadas no dia a dia. Para o professor Paulo, a implementação da tecnologia em cursos de cinema, publicidade e jornalismo é de extrema importância, partindo do pressuposto de que a capacitação de professores é vital para que os profissionais futuros e atuais saibam trabalhar a comunicação da forma mais abrangente possível. 

Conheça mais sobre o Cinema Cego: https://www.cinemacego.com/