A gordofobia se faz presente na indústria da moda íntima brasileira

Mulheres plus size encontram dificuldades na hora de se vestir em um país com mais de um quinto da população adulta acima do peso

Priscilla Burmann

Postado em 07/05/2022

No Brasil, cerca de 46 milhões de adultos estão obesos. O número corresponde a 22% da população adulta brasileira, segundo o relatório “Estatísticas da Saúde Mundial de 2021”, divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). E embora seja um número relevante, as mulheres plus size ainda encontram diversas dificuldades, inclusive na hora de se vestir.

Uma parcela significativa da população a vê a mulher plus size como uma mulher sem vida sexual ativa e desprovida do desejo sexual. Lilian Lemos é consultora de imagem especialista em plus size, atua no mercado há mais de 10 anos e reforça: “Nós crescemos escutando que a gorda ou ela é preguiçosa ou ela é doente. E isso não existe, as pessoas podem ser ativas sim, gordas, sim, e saudáveis, sim. Obter um determinado tipo de corpo para poder ter uma relação sexual é cruel.”

A indústria apenas reflete essa condição ao não disponibilizar ao público feminino plus size, peças íntimas que reflitam o seu anseio sexual.

Quando se trata de número, o assunto ronda o dia a dia da mulher plus size. Seja o número de calorias, peso, calçado, e, por fim, tamanho ideal da roupa. Todavia, se tornou comum no meio publicitário, propagandas a respeito de vestir todos os corpos. Ou, em outras palavras, viabilizar a visibilidade de corpos fora do padrão e pluralizar as roupas.

Todavia, Mariana Leite, 26, designer de moda e estudante de psicologia afirma que a moda íntima brasileira não é democrática: “De forma geral, não. A moda íntima brasileira não pensa em corpos gordos. Ela tem um padrão já estabelecido, com modelagens limitadas e uma grade com tamanhos que variam normalmente entre o PP e o GG. Para mulheres gordas têm sido necessário ‘aceitar o que tem’ e não escolher com prazer e desejo entre várias possibilidades como para mulheres com o corpo considerado ‘padrão’.

Ensaio fotográfico da Mariana Leite exalta a feminilidade e sensualidade da mulher plus size – Foto: @priburmannfotografia

Indústria da moda e a pluralidade dos corpos

A indústria da moda encontra inúmeros desafios para democratizar suas roupas. Mariana compartilha um pouco a respeito: “Acredito que a indústria da moda não tem um real interesse em representar as mulheres gordas. Poucas são as marcas que realmente tem empenho e interesse em pluralizar as suas peças, pensando na modelagem, ergonomia, tecidos e aviamentos adequados para este público.”

Se torna necessário para a indústria que pretende atender a este público realizar a padronização dos tamanhos e pesquisas de público-alvo para compreender quem são essas mulheres, o que desejam transparecer ao usar determinada roupa e quais os critérios decisivos na escolha da peça: sensualidade, cuidado, conforto, bem estar?

Lilian Lemos posa de lingerie para campanhas sobre o empoderamento feminino em suas redes pessoais – Foto: Arquivo Pessoal

Lilian Lemos completa: “Embora o mercado esteja crescente, ele precisa se profissionalizar. Não é só aumentar a grade, aumentar a numeração, fazer sutiã grande para poder caber a mama, mas não tem sustentação, conforto, o tecido não tem qualidade. É um corpo cheio de curvas, que precisa ser observado em todos os ângulos. Ainda não existe uma tabela nacional (referente aos tamanhos), existe um estudo da Associação Brasil Plus Size que procura trazer uma grade universal. Numeração brasileira é um desafio.”

A alternativa encontrada pela Mariana Leite foi confeccionar as próprias roupas: “Uma das alternativas adquiridas por mim, como mulher gorda, foi começar a fazer as minhas próprias peças de roupa. Este movimento influencia diretamente na minha auto estima e em como eu me apresento para os outros. A terapia é uma importante aliada em todo este processo, se não a mais importante.”

Bianca Dhavala (foto – acervo pessoal), 37, que é sexóloga e educadora compartilha vivências para a mulher plus size driblar os obstáculos criados pela indústria da moda e fortalecer a sua autoestima: “Em primeiro lugar se aceitar fisicamente como se está e sem fazer com que isso seja um ponto final ou um sinal de menor valor. Depois entender que sua beleza e auto estima esta além do corpo. Desenvolver maneiras únicas e pessoais de ser feliz com suas particularidades, buscando e criando sua moda, percebendo o que é bom para ti e não o que é imposto. O plus size, em geral, na moda, é uma peneira tampando o sol, uma falsa inclusão de corpos reais”.

Desmistificando o termo “gorda”

O termo gordo é apenas uma definição de tamanho, assim como magro, alto, estreito, largo, baixo. Lilian Lemos, especialista em empoderamento da mulher gorda afirma:

como pejorativa para denegrir alguém. Isso está errado! Não tem problema nenhum a gente falar a palavra gorda. Quanto mais as mulheres gordas escutarem e mais perceberem o quanto é natural essa expressão, melhor a gente consegue fazer com que elas olhem para o próprio corpo, se respeitem e entendam as próprias características para fazer o que tem vontade, serem mais felizes e se libertarem também desses paradigmas que nós crescemos ouvindo tantas coisas pesadas sobre o corpo grande.”

Curiosidade: A Associação Brasil Plus Size considera plus size pessoas que vistam a partir do tamanho 44 no Brasil.

Para conhecer mais a respeito do trabalho da Lilian Lemos como consultora de imagem, Mariana Leite como designer de moda/ psicóloga e da sexológa Bianca Dhavala, as siga nas redes:

Lilian Lemos : @lilianlemosmachado

Mariana Leite: @maarileite

Bianca Dhavala: biancadhavala