Brechós promovem reaproveitamento de roupas e consumo consciente
Os brechós são uma alternativa para o consumo consciente e sustentável, pois reaproveitam roupas e desestimulam a produção desenfreada
Postado em 10/09/2021
O segmento têxtil é considerado um dos setores mais poluentes do mundo. Os impactos ambientais perpassam pelo uso de agrotóxicos na plantação de algodão, tingimento, chegada aos consumidores finais e o descarte na natureza.
De acordo com o relatório “Fios da moda”, produzido em 2021, a quantidade de resíduos têxteis enviados para aterros por dia no Brasil é de 275 a 330 toneladas, sendo suficientes para encher mais de 100 caminhões de lixo.
Esse sistema de produção linear – em que há a extração de recursos da natureza, transformando-os em produtos e por fim o descarte – é contraposto pela chamada economia circular, cuja premissa é estender a vida útil dos produtos ao longo de vários ciclos de uso. Sendo assim, os brechós são espaços que promovem esse modelo.
Para Maísa Abranches, coordenadora do curso de moda do IESB, os brechós vêm se destacando e ganhando muitos clientes, por ser uma forma mais sustentável e consciente de consumir. Na contramão da fast fashion (moda rápida), em que há a fabricação em larga escala de peças pela indústria da moda, os brechós representam a economia circular, por reaproveitar peças.
No ramo da moda, há algumas alternativas que estão sendo postas em prática para aumentar a vida útil das roupas. Diferentemente da reciclagem, upcycling é uma técnica que consiste na adaptação quase sempre manual, utilizando a criatividade para dar um novo significado a um material que seria descartado. Transformar blusas em vestidos, saias, bolsas ou faixas de cabelo é um exemplo de upcycling.
A tendência é reaproveitar
Lorena Castro, de 28 anos, criou o brechó Las Hermanas juntamente com sua irmã Luciana Hozana, 32. Elas começaram a vender peças em 2012, pela internet, como renda complementar. No entanto, em 2015 a demanda aumentou e elas decidiram se dedicar de forma integral ao brechó. Em 2017, as irmãs abriram um espaço físico. Segundo Lorena Castro, a peça mais sustentável é aquela que já existe. “Nós damos um novo ciclo de vida às peças de segunda mão e isso ajuda a reduzir os impactos causados pela indústria da moda”, afirma.
Arthur Lôbo, de 24 anos, é estudante de turismo na UnB e criador do Amarelo Brechó. Para ele, além da importância na questão ambiental, os brechós também contribuem no âmbito social, por terem preços mais baixos, sendo mais acessível a pessoas de menor poder aquisitivo.
Rafaela Lacerda, de 18 anos, aponta a quebra do preconceito em relação aos brechós. “Agora os brechós não são mais aquele tumultuado de roupas, muitos têm curadoria”. Rafaela é a criadora do brechó Mercado de Pulgas, sendo a única fonte de renda dela, e também é idealizadora do evento Remoda, que acontece mensalmente em Ceilândia e já está na quarta edição, reunindo vários brechós, com o intuito de levar moda consciente e sustentável para todos, com peças a partir de R$ 1. Ela ressalta o trabalho envolvido nos brechós, como o processo de garimpo, curadoria, lavagem e até restauração de peças. “As peças de brechó são únicas, gosto de deixá-las mais raras ainda, colando patches, customizando desenhos com tintas”. Há peças vintages que contém etiqueta com a sigla CGC, o que significa que a roupa tem no mínimo 20 anos de história, explica a Rafaela.
Os brechós estão se tornando um referencial de moda, além da questão do reaproveitamento de roupas, há o fato de que os preços são mais acessíveis, o que torna esses espaços atraentes. A estudante Scarlath de Oliveira, de 23 anos, conta que gosta de brechós porque é sustentável e variado. “Gosto também da ideia de me expressar através das roupas”, relata. Rafaela Lacerda, que está nesse ramo desde 2018, disse que nessa trajetória aprendeu vários truques para reaproveitar roupas, e ressalta: “toda peça merece uma chance de ser salva”.