Estudo revela cinco motivos para fazermos selfies

Pesquisadores ampliam a interpretação de que selfies são feitas apenas pela “glorificação do eu”

Estefania Lima

Postado em 27/05/2024

Em um mundo onde as redes sociais dominam a comunicação digital, as selfies se tornaram uma forma de expressão pessoal e socialmente compartilhada. Um estudo publicado em 2021, feito de 2017 a 2019 pela psicóloga Isis Graziele da Silva, sob orientação do Prof. Daniel Kuperman, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), revelou que existem, pelo menos, cinco tipos de selfies: a selfie imperativa, a falsa selfie, a selfie inquietante, a selfie memória e a selfie demanda de amor. Para os autores do estudo, esses outros cinco tipos “mostram a pluralidade de sentidos que há nesse tipo de fotografia”, ampliando a interpretação de que selfies são feitas apenas por uma necessidade narcisista do fotografado em conquistar a atenção/admiração dos outros.

Para o estudo, os pesquisadores fizeram duas perguntas a cada um dos 15 entrevistados: “Por você fez essa foto? Por que a compartilhou?”. Os pesquisadores notaram que os jovens entrevistados não faziam distinção entre tirar uma foto e compartilhá-la. Isso sugere que, para esses jovens, a intenção por trás de tirar uma foto está tão ligada à ideia de compartilhamento que não faz sentido considerar essas ações como separadas, ou seja, para eles (entrevistados), a principal razão de tirar uma foto é justamente para compartilhá-la com os outros.

1. Selfie Imperativa

A selfie imperativa reflete a percepção de que tirar selfies é uma obrigação social. Você provavelmente já foi a um show e se sentiu “na obrigação” de fazer uma foto ali com os amigos ou sozinho, né? “Só para mostrar que eu vim”. Ou então fez uma tatuagem nova ou um corte de cabelo maneiro e pensou “tenho que postar no insta para todos verem”. Esse pensamento de “tenho que” está bastante associado a esse tipo de selfie.

Foto por Freepik.

2. Selfie Inquietante

As selfies inquietantes são aquelas que são compartilhadas com filtros ou edições para melhorar a aparência da pessoa. Essas fotos podem criar uma representação distorcida da pessoa na internet, apresentando uma versão idealizada ou aprimorada de si mesma. 

3. Selfie Memória

As selfies de memória são tiradas para capturar momentos importantes e criar lembranças. Essas fotos são frequentemente compartilhadas em redes sociais como uma forma de documentar e celebrar eventos significativos, como viagens, encontros com amigos ou marcos pessoais, como aquela viagem para Caldas Novas, GO, com a família nas férias ou aquela formatura do terceirão.

Foto por Freepik.

4. Selfie Demanda de Amor

Às vezes, a gente posta uma foto só pra receber likes e comentários positivos – para dar aquela alavancada na autoestima. A selfie da demanda de amor reflete a busca por validação ou conexão emocional nas redes sociais. Em momentos de solidão ou crise emocional, as pessoas podem recorrer às selfies como uma forma de sentir-se conectadas e reconhecidas pelos outros, buscando apoio ou afeto através das interações online.

5. Falsa Selfie

As selfies falsas retratam uma realidade diferente da experiência real da pessoa. Muitas vezes, essas fotos são editadas ou tiradas em momentos que não refletem verdadeiramente o estado de espírito ou a situação da pessoa. Elas podem ser compartilhadas nas redes sociais para criar uma imagem mais positiva ou interessante da pessoa, mesmo que isso signifique distorcer a verdade. Se você já foi em algum rolê que achou chatíssimo, mas na hora de publicar no Instagram escolheu uma foto em que você aparentemente “estava muito feliz e se divertindo muito”, provavelmente vai entender a selfie falsa.

Foto por Freepik.

Entenda um pouco sobre esse fenômeno

De acordo com o Oxford Dictionaries, “a selfie consiste no ato de se autorretratar, em geral com smartphone ou webcam, e compartilhar a imagem em uma rede social”. 

Pesquisadores do Frontiers from Psychology sugerem que tanto selfies quanto autorretratos tradicionais refletem o desejo de manter e documentar alguma parte da vida de alguém. Eles entendem que isso pode não ser necessariamente um ato narcisista de se referir a si mesmo, mas sim uma maneira complexa e rica de comunicar o que se passa dentro de alguém.

Segundo pesquisa encomendada pela Samsung em 2015 à Anntenas, consultoria de business insights completamente mobile, 90% dos brasileiros fazem selfies. Destes, 58% tiram esse tipo de foto quase todo dia.

“Mesmo não postando selfies todos os dias, quando penso que estou há muito tempo sem postar nada, eu posto uma [foto] só pra atualizar e não acharem que eu morri”, comenta a estudante de farmácia Cler Lima. Ela tem 23 anos e usa com bastante frequência o Instagram. 

Análises de Etgar e Amichai-Hamburger revelaram motivações distintas para tirar selfies (aprovação própria, pertencimento e documentação) que podem estar relacionadas de forma diferente às características da personalidade. Essas descobertas contribuem para a compreensão dos fatores que motivam a postagem de selfies e destacam a importância de entender as selfies como um fenômeno multidimensional.

Dhir e colegas abordaram um impedimento menos estudado para a postagem de selfies: preocupação com a privacidade pessoal. As preocupações com a privacidade correlacionaram-se com uma redução nos comportamentos de selfie entre adultos de ambos os sexos e de todas as idades, mas não entre adolescentes do sexo masculino e jovens adultos do sexo masculino.