Eu fumo, você fuma, nós fumamos

Para o fumante social, hábito abre espaço para novas amizades e facilita conexões

Yasmim Souza Rodrigues

Postado em 16/04/2025

Em bares, festas e até mesmo no trabalho, o cigarro muitas vezes funciona como ponte para conversas, conexões e interações sociais. O chamado “fumante social” vê no ato de fumar uma oportunidade de se integrar em determinados círculos e situações. 

Iago Navas, 29 anos, fuma há 8 anos. E se considera um fumante social. “O ato de fumar é um facilitador de conexões. Reunir em círculo para fumar e conversar sobre coisas da vida. Uma vez estava fumando com um amigo em uma praça no Guará, quando um motoboy passou por perto e perguntou se podia dar um trago. A gente acabou conversando por duas horas sobre a situação econômica do Brasil.”

Iago Navas se considera fumante social. Foto: Yasmim Souza.

Muitas pessoas sentem que fumar em grupo as tornam mais integradas e aceitas dentro de determinados círculos. A troca de cigarros, a busca por um isqueiro ou a formação de pequenas rodas para fumar são mecanismos que estimulam conversas e aproximam pessoas. O tabagismo social está enraizado em um fenômeno psicológico conhecido como “comportamento de pertencimento”.

Maurílio de Andrade, 21 anos, estudante, confessa que depois da maioridade o ato de fumar começou a se tornar presente na sua vida. “Apesar de saber dos riscos que o vício traz, ainda mantenho o hábito em minha rotina. Pois notei que através do tabagismo eu consegui criar novas conexões.”

Kelly Gennari, 52 anos, psicóloga especialista em neuropsicologia e bases biológicas do comportamento, acredita que essa relação se dá pela necessidade do fumante de se sentir pertencente a um grupo que o apoia. “Ou seja, se sentir bem ao unir-se aos outros usuários que vão lhe dar o sentimento de aprovação por simplesmente ter um hábito em comum que é fumar.”

A psicóloga ainda alerta sobre os efeitos desse hábito em jovens. “Já é comprovado que quanto mais cedo você começa a usar substâncias que causam dependência, mais fácil é para evoluir para uma dependência mais rígida. Outro fator da evolução é a quantidade, pois quanto mais é consumido, mais o cérebro vai enxergar como uma necessidade, fazendo com que a pessoa consuma mais ainda, prejudicando consequentemente o vício.”

O cigarro ainda é uma ponte para o sentimento de pertencimento.
Foto: Yasmim Souza

Um estudo publicado no Journal of Adolescent Health mostra múltiplos sintomas de dependência entre adolescentes fumantes sociais, concluindo que mesmo o uso intermitente pode levar à dependência de nicotina. Além disso, uma revisão na revista Circulation apontou que fumantes ocasionais apresentam um risco 1,5 vezes maior de mortalidade cardiovascular em comparação com não fumantes.

No Brasil, a implementação de leis antifumo e o aumento da tributação sobre produtos derivados do tabaco reduziram significativamente o número de fumantes nos últimos anos. No entanto, o desafio atual é combater o tabagismo esporádico, que muitas vezes passa despercebido como um fator de risco.