Moda consciente: um novo ‘‘normal’’ na vida dos consumidores

O slow fashion e o eco fashion trazem um novo hábito para os amantes de moda e os empreendedores

Amanda Sales

Postado em 29/11/2021

Para entender essa nova onda de moda consciente, é necessário destacar o significado dos dois conceitos: slow e eco fashion. O primeiro  é um movimento sustentável, uma alternativa à produção em massa, criado em 2008 pela inglesa Kate Fletcher, professora de design sustentável do britânico Centre for Sustainable Fashion, inspirado no movimento Slow Food.  Assim como em relação à comida, o movimento incentiva a criação de consciência para que as pessoas reflitam sobre a procedência daquele produto, levando em consideração a sua produção, matéria prima e trabalho manual.

Já o Eco Fashion  é baseado na preservação do meio ambiente em todas as etapas de produção, buscando reduzir a quantidade de poluentes usados nas matérias primas. A utilização de produtos com fibras biodegradáveis ao invés de materiais como poliéster, viscose ou nylon  é um ponto importante na moda sustentável, já que esses materiais utilizam uma grande quantidade de produtos químicos que poluem o mundo em que vivemos. A moda eco slow incentiva que possamos reconhecer que os impactos de nossas escolhas de consumo afetam o ambiente e as pessoas. 

Uma pesquisa realizada pelo Mercado Livre, em 2020, mostrou que houve um aumento de 55% na procura por produtos sustentáveis. O que nos leva a acreditar que as pessoas têm buscado alternativas para minimizar os possíveis danos ao meio ambiente. Como foi o caso da estudante, Cynthia Araújo, que busca em brechós novas opções de peças para seu guarda roupa. 

Brechós são uma excelente escolha para quem está começando no mundo do slow fashion. A rotatividade de roupas, muitas vezes, de design local ajuda a diminuir o consumo de roupas  que poluem ou trazem histórias  de fast fashion, que muitas vezes, é fruto de um trabalho mal remunerado.

“Eu gosto de imaginar quem era aquela roupa, o caminho que percorreu até chegar em mim e é uma forma de ajudar o planeta com uma peça que pode passar por gerações, evitando o consumo excessivo”, comenta Cynthia.

Ana Karolina (22 anos), além de ser consumidora assídua de brechós, abriu o seu próprio na plataforma digital Instagram, e se surpreendeu com a quantidade de pessoas interessadas nas suas peças. ‘‘Eu me surpreendi quando eu comecei, porque é uma rede de pessoas muito unidas sempre trocando ideias e indicações.  Várias meninas entram em contato para ajudar ou para comprar roupas e é bem bacana. Estamos sempre em contato, trocando as roupas entre nós’’.

E de acordo com o levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a abertura de estabelecimentos que comercializam produtos de segunda mão teve um crescimento de 48,58% entre os primeiros semestres de 2020 e 2021. 

Por dentro do movimento

O movimento mundial Slow Fashion Movement trabalha para unir as pessoas ao redor do mundo com o objetivo de fazer ações coletivas para promover uma moda sustentável e slow. A visão do movimento é estabelecer o mundo em uma realidade onde é impossível se comprar blusas ou calças jeans que podem acabar pintando rios de azul. 

A coordenadora do Slow Fashion Movement Brasil, Paula Martin, destaca a necessidade do ser humano rever seus excessos de consumo materiais, além de explicar a necessidade de rever os materiais que são usados.

‘’A mudança começa pequena, só de você evitar comprar roupas novas, parar de ser um indivíduo consumista. A gente precisa repensar os nossos padrões de consumo,  os materiais que são usados. Focar mais em matérias primas que sejam biodegradáveis, para que possam ser transformadas em coisas novas. A chave é fazer um moda regenerativa, um moda pró sustentabilidade”.

 A prática de sustentabilidade pode ser um desafio para o ramo da moda, por ser um setor que visa a produção. É revigorante saber que algumas marcas já estão focando suas produções para roupas sustentáveis. Como é o caso da marca brasileira Osklen, que utiliza materiais como seda orgânica, algodão orgânico e PET reciclado.

O algodão orgânico é usualmente utilizado para substituir o algodão comum como uma forma de reduzir a poluição. No cultivo desse algodão utilizam-se métodos naturais de controle das pragas e doenças. A marca de roupas íntimas Tita Cofaz o uso de algodões orgânicos em todas as peças, além disso a empresa não trabalha com tingimento químico, um dos maiores poluentes das nossas águas.  

‘‘Durante as pesquisas de fornecedores descobri o algodão orgânico e fiquei maravilhada, me deu ainda mais vontade de fazer acontecer, pois além de criar algo que estava carente no mercado ainda iria beneficiar a natureza de  alguma maneira e os agricultores envolvidos nas plantações por não há agrotóxicos’’, comenta a CEO, Luiza Bartz.

A empresa vem tendo um crescimento numa  média de 1200 pessoas novas por ano, o que demonstra o maior interesse do público por uma opção de vestuário mais sustentável. Os algodões da marca  vêm do grupo Natural Cotton Color, que é localmente conhecido como “Algodão Colorido da Paraíba”. É plantado por pequenos produtores no estilo de agricultura  familiar.

O consumidor deve valorizar e preferir as peças produzidas de forma sustentável e  evitar o consumo sem freio. Preferindo doar, trocar, vender ou compartilhar  suas peças antigas.