Pesquisa mostra mudanças no comportamento de quem consome produtos jornalísticos

Trust Project divulgou pesquisa durante o 16º Congresso da Abraji

Larissa Alves

Postado em 06/09/2021

A iniciativa internacional que ajuda pessoas a avaliar a qualidade e a credibilidade do jornalismo, o Trust Project, divulgou no final de agosto uma pesquisa que aponta as principais mudanças de perfil do público consumidor de jornalismo nos últimos quatro anos. A divulgação aconteceu durante o 16º Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

A pesquisa aborda três pontos gerais como as maiores mudanças ocorridas: o uso da emoção para identificar se algo é confiável ou não; a vontade de interagir mais com a notícia e fazer parte dela; e o querer conhecer mais quem produz as notícias, a lógica e o processo da produção jornalística. A pesquisa contou com entrevistas de 28 pessoas na América do Norte, Europa e Austrália.

De acordo com pesquisa produzida e divulgada pelo Trust Project, o público consumidor de notícias quer conhecer a fundo quem produz as notícias, a lógica e o processo da produção jornalística. (Crédito: Larissa Alves)

Essa pesquisa nos representa?

Ao se deparar com as afirmações da pesquisa do Trust Project, a jornalista Adriana Izel confessa que se surpreendeu.”Nos últimos anos, a gente vem percebendo na verdade um distanciamento do público, ainda mais com a força das redes sociais”, afirma Adriana. Para ela, dentro da redação, os jornalistas têm pouco a percepção de que eles têm um papel tão grande, ou seja, os jornalistas ainda subestimam a importância deles na percepção de quem consome as notícias.

Adriana Izel é jornalista e trabalhou no Correio Braziliense por nove anos, cobrindo a editoria de cultura. Hoje trabalha com produção de conteúdo para redes sociais, para assessorias de imprensa e comunicação interna. (Crédito: Arquivo pessoal).

A jornalista aponta que a pandemia pode ter mudado a relação de consumo entre público e imprensa. “As pessoas queriam se informar e buscaram muito a mídia, parecia que elas estavam voltando a confiar nos jornalistas e nas informações repassadas. Mas, ao mesmo tempo, como a pandemia se prolongou, algumas coisas foram deixadas de lado”, conta. Adriana concorda que, por mais que essa seja uma pesquisa importante e deva ser analisada, ela faz um recorte muito pequeno do cenário mundial, que não leva em consideração as especificidades de cada país, como o Brasil.

Jornalistas engajados promovem laços, mas também insegurança

Durante a transmissão do 16º Congresso da Abraji, a jornalista Charity Brown, editora de produtos novos do jornal americano The Washington Post (associado ao Trust Project), explicou algumas estratégias do jornal para aproximar leitores. Uma delas foi colocar mais informações sobre o jornalista que escreveu determinada matéria. Além do nome de quem escreveu, há uma foto, endereços de redes sociais e e-mails, até mesmo uma breve biografia do jornalista, que é incentivado a estar mais presente na internet. Charity afirma que eles ficaram felizes com o resultado que mudanças como essa trouxeram.

Entretanto, para Thiago Sousa, estudante de Línguas Estrangeiras (LEA – MSI) na UnB, por mais que as redes sociais possam promover um vínculo maior entre jornalistas e público, isso não significa apenas benefícios. “Hoje em dia, as pessoas estão cada vez mais conscientes de que grande parte do que é visto nas redes sociais é somente uma faceta do que a pessoa quer expor. Neste caso, só uma parte do que o jornalista quer mostrar é exposta e o público está atento nisso”, afirma Thiago. 

Thiago Sousa estuda Línguas Estrangeiras Aplicadas ao Multilinguismo e à Sociedade da Informação (LEA – MSI) na Universidade de Brasília – UnB, e faz estágio no Ministério da Justiça e Segurança Pública. (Crédito: Arquivo pessoal)

Para Adriana Izel, outro fator é ainda mais atenuante no que diz respeito à presença dos jornalistas nas redes sociais: a segurança deles. “Uma vez me chamaram no Twitter para reclamar de um artigo que eu escrevi, em que eu falava sobre machismo, e isso é uma coisa pequena. Agora imagine você sendo uma repórter que cobre crimes aqui no DF”, explica a jornalista. Ela ainda chama a atenção para o fato de que os veículos de imprensa nem sempre se preparam para proteger seus jornalistas. “A gente sabe que muitas empresas jornalísticas não dão esse respaldo para jornalistas. Até onde é interessante e seguro para o repórter aparecer nas redes sociais? Para algumas editorias pode ser interessante, mas para outras pode ser perigoso”, conclui.