Arte de rua vista como uma expressão intergeracional

Diferença de idade e vivências entre os artistas urbanos contribui para o enriquecimento da arte de rua

Larissa Barros

Postado em 25/03/2024

A maior influência dos pixadores e grafiteiros, com certeza, é a rua. A rua é utilizada como uma galeria de arte, onde os artistas se manifestam em busca do desejo de ser ouvidos por meio da resistência cultural. Através de formas, letras e desenhos, a arte urbana se fortalece e se torna cada vez mais influente, atravessando gerações. Transmitindo tradições e inovações artísticas ao longo do tempo, a expressão artística nas ruas não reflete apenas as vozes do presente, mas também conecta diferentes épocas. Com um diálogo intergeracional, a diferença de idade, as vivências e origens entre os artistas urbanos contribui para a evolução e enriquecimento da arte de rua.

O pixador e artista de rua Alberto de Castro, o Doka, 20 anos, afirma que praticamente tudo que aprendeu foi com as vivências que teve na rua e que busca sempre enfatizar essa influência nos trabalhos que ele faz. “A arte sempre irá se renovar porque nossa sociedade se renova. Cada geração terá suas contradições e suas indignações; o importante é estarmos sempre atentos a essas mudanças. E sempre aprender com a geração antecessora à nossa”, declara.

A galeria dos pixadores é a rua. Foto: Larissa Barros

Fundador do grupo PSG (Pixadores da Santa Ganja), criado em 2016, Deryk Woryk, conhecido como Rabisk, 30 anos, relata que a preservação da arte urbana, especificamente do pixo em locais públicos, ajuda na manutenção da conservação da identidade de pessoas que se expressam de formas diferentes há muito tempo. Ele ainda finaliza: “A união dessas gerações traz essa evolução para nós. Essa união faz com que o escândalo, esse grito e essa expressão tenham mais visibilidade”.

Doka e Rabisk fazem parte do mesmo grupo, o PSG. Apesar das origens e histórias distintas, os dois são motivados pela mesma arte. Morador de um bairro de classe média alta em Brasília, o Sudoeste, Doka conta que na rua teve vivências e contatos com pessoas e situações que dentro da sua bolha não teria. “O conforto que a rua me proporciona acabou me influenciando muito, tanto no meu modo inquieto quanto no meu próprio senso crítico”.

Já Rabisk cresceu em Santa Maria, na favela 318. Com influências muito fortes de hip hop e pixo, Rabisk encontrou na arte de rua, aos 9 anos, em 2002, uma forma de fugir da realidade e não se envolver com o crime e o tráfico. As trajetórias dos dois exemplificam como a expressão artística pode unir pessoas de origens diversas em torno de um propósito comum.

Mais que Tinta

O grupo PSG tem uma iniciativa social dedicada a auxiliar a comunidade por meio de doações, principalmente de alimentos e roupas: a Mais que Tinta. Originada de uma ação de Rabisk, a Mais que Tinta teve seu início na Asa Norte, atendendo inicialmente pessoas em situação de rua. Expandindo para Valparaíso, Samambaia, Santa Maria, Gama e agora com apoio dos integrantes, o projeto chega ao Rio de Janeiro. Com o objetivo de ampliar a visibilidade da causa, a iniciativa se estende para outras ações, como doações para pessoas afetadas pelo câncer. Atualmente, com 60 membros que compartilham suas necessidades em busca de apoio mútuo, o PSG e o Mais que Tinta foram criados para promover a paz, proibindo conflitos e sendo um espaço dedicado à amizade acima de tudo.