Entre promessas e abandono, futuro do Polo de Cinema segue incerto

Enquanto o cinema brasileiro conquista vitória no Oscar, talentos locais perdem oportunidades e produção audiovisual do DF fica estagnada

Silvia Bertoldo Guerreiro

Postado em 16/04/2025

Mais de 30 anos após a inauguração, Polo de Cinema continua fechado (Foto: Marina Gadelha – SECEC/DF)

Ao mesmo tempo em que celebramos o reconhecimento de nossa história mundo afora com o sucesso do filme Ainda Estou Aqui, o Polo de Cinema de Sobradinho sofre com o abandono e com a falta de incentivo em políticas públicas para o audiovisual no Distrito Federal.

Criado em 1991 e inaugurado em 1993, durante o governo de Joaquim Roriz, o Polo de Cinema e Vídeo surgiu no momento em que a Embrafilme, responsável por incentivar a produção e distribuição de filmes brasileiros, era extinta no governo Collor. Sua criação representou uma iniciativa ambiciosa e inspiradora para o setor à época. O polo foi pensado para servir como espaço de filmagem, destinar recursos através de editais e oferecer apoio institucional na intermediação junto a órgãos do Distrito Federal. 

Mais de 30 anos depois, o espaço segue fechado. A última produção realizada no Polo foi do filme O Outro Lado do Paraíso, de André Ristum, em 2013. Na época, uma reportagem da Agência Brasília informava que a produção seria a mais cara do DF e marcaria a retomada dos trabalhos no espaço. O longa-metragem recriou uma cidade cenográfica de 15 mil metros quadrados para reconstruir a cidade de Taguatinga em 1964. Baseado na no livro de Luiz Fernando Emediato, o filme ganhou sete prêmios na Mostra Brasília do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

O Polo de Cinema de Sobradinho, que já enfrentou o desgaste de sua estrutura física, a proximidade de uma área irregular de descarte de lixo e entulho, além do crescimento de uma comunidade em situação de vulnerabilidade, passou por uma reforma em 2021, com um investimento de mais de R$ 231 mil, e agora enfrenta seu maior desafio: a definição do uso e a abertura ao público. Na reportagem feita pelo Correio Braziliense, publicada em novembro de 2024, a classe artística não chega a um consenso sobre o uso do espaço, mas destaca que o verdadeiro problema é a falta de apoio ao setor audiovisual do DF

A incerteza sobre o futuro do espaço divide opiniões. Em entrevista ao Bom Dia DF, da TV Globo, no último dia 7 de março, a conselheira de cultura do DF, Neide Nobre, sugeriu que o local poderia abrigar uma escola técnica de artes. “Esse espaço foi construído nos anos 90 e foi palco de grandes produções. Atualmente está abandonado e é um local propício para a instalação de uma escola técnica de Artes, visto que o audiovisual absorve profissionais de todas as áreas das artes. Essa escola poderia capacitar e inserir no mercado de trabalho profissionais que, com certeza, seriam absorvidos”, afirmou.

Em 2022, o Polo de Cinema e Vídeo Grande Otelo voltou a ter movimento com uma iniciativa da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec) em parceria com o Instituto de Desenvolvimento, Inclusão Social e Cultural (Idisc). Com investimento de cerca de R$ 500 mil, o projeto Escola das Artes e Economia Criativa ofereceu oficinas de produção audiovisual para 200 estudantes de Sobradinho, Sobradinho II e Fercal, abordando roteiro, direção, produção e interpretação. A ação não teve continuidade e o polo seguiu sem um plano consolidado para seu funcionamento.

Paulo Duro Moraes, coordenador do curso de Cinema e Mídias Digitais do IESB, reforça a necessidade de investimentos para que o Polo cumpra sua função original. “É uma questão de política pública: uma produção audiovisual séria, com investimento. Não tem investimento? Mas com parcerias é possível, é viável. Isso aconteceu em Paulínia, cidade do interior de São Paulo. Tinha um festival super bom, com incentivo de produção”, argumenta.

Procurada pelo Portal do IESB, a Secretaria de Cultura e Economia do DF não se manifestou até o fechamento da matéria.