A preta é rainha
Beyoncé influencia e empodera jovens negras com música e militância
Postado em 06/05/2024
Você já ouviu falar da Beyoncé, certo? Com 78 milhões de ouvintes no Spotify, ela é uma inspiração para jovens negras. Com canções poderosas e repertório cultural e político, a cantora traz em seus álbuns um posicionamento que vai além da música.
Por muito tempo, jovens negras sofreram com falta de artistas que pudessem se identificar e com o silenciamento histórico de pessoas negras na sociedade. Agora, com cantoras como Beyoncé na linha de frente, as fãs sentem-se representadas e ouvidas.
A artista fez uma participação especial no Coachella, um dos maiores festivais de música e arte dos Estados Unidos, apresentando, em um áudio, a cantora brasileira Ludmilla. A aparição causou um grande impacto, virou notícias nos jornais e os nomes Ludmilla e Beyoncé ficaram o dia inteiro nos “trend topics” do X, antigo Twitter. A deputada federal do Rio de Janeiro, Erika Hilton, do Psol, também gravou uma mensagem de respeito para a abertura do show de Lud.
A cantora brasileira foi a primeira afro-latina a se apresentar no evento e é uma grande fã da Beyoncé. Quando se lançou no mundo musical, sua grande inspiração e motivo de ter escolhido essa carreira era a artista. Por conta disso, seu nome antigo, que emplacou no cenário do funk carioca, era Mc Beyoncé. “Eu falava sempre da Beyoncé. E aí começaram a me chamar de Beyoncé, de apelido, e ficou”, disse em entrevista ao site UOL. Somente depois de alguns anos trocou para Ludmilla.
Além desse acontecimento envolvendo o Brasil, Beyoncé esteve entre os principais assuntos das redes sociais no final do ano passado, quando esteve em Salvador para lançar o filme da turnê do seu álbum “Renaissance”. Ela veio para um evento particular com fãs e a imprensa. Um dos motivos da vinda à capital baiana foi pelo fato de ser a cidade com a maior população negra fora do continente africano, um marco significativo para a comunidade negra brasileira e fã da cantora. “Era muito importante para mim estar aqui, bem aqui na Bahia. ‘Renaissance’ é sobre liberdade, beleza, alegria, resiliência. Tudo que vocês são”, disse Beyoncé em uma aparição rápida no palco do evento antes do filme começar.
São momentos como esse que fazem a Beyoncé se tornar mais que uma cantora, mas uma referência de identidade negra. Para Ana Paula Lima, estudante de jornalismo e fã desde os 12 anos de idade, a artista norte-americana sempre foi uma inspiração. Agora, Ana tem esperança e acredita que é possível chegar aonde ela quiser. “Ela é uma artista que me impacta em como eu me enxergo, com a minha beleza e o meu empoderamento. Também, como eu me vejo como uma mulher negra, que pode conquistar determinados espaços, mesmo que para a gente tenha que ser três vezes mais corrido e sofrido”.
A cantora, com 42 anos atualmente, quando era jovem,se intitulou como uma “lenda em formação”, em uma entrevista para o jornalista australiano, Liam Bartlett, em 2007. Nessa época, já possuía oito grammys, o maior prêmio da indústria musical. Em 2024, Beyoncé é a artista mais premiada da história do Grammy, com um recorde de 32 vitórias.
Por isso, a cantora se tornou um símbolo de mulher que conseguiu chegar ao topo com muita luta e persistência. Para Sarah Aline, psicóloga especialista em diversidade e inclusão, Beyoncé é uma das artistas globais que vem reescrevendo a história, ela tem uma representatividade importante, que ajuda no reconhecimento da própria identidade de uma mulher preta. “Crescer sem poucas referências midiáticas é uma realidade que vem sobre as nossas vivências, enquanto pessoas pretas. O processo de silenciamento histórico das nossas existências, principalmente da nossa potência, faz que tenhamos essa ausência social”.
Ana Paula é embaixadora do projeto Conexão Afro e tem sua própria marca de acessórios, a LaMade. Foto: Arquivo Pessoal
Sarah é ex-bbb, possui 1 milhão de seguidores no instagram e é fã da Beyoncé desde criança. Foto: Arquivo Pessoal
No seu novo álbum, Cowboy Carter, lançado no último dia 29 de março, ela traz de volta as vozes de artistas country negros, que tiveram suas vozes silenciadas por muito tempo pela indústria musical. Com um álbum composto por 27 músicas, a artista se tornou a primeira mulher negra a alcançar o Top 1 Álbum Country da Billboard, revista americana que realiza métricas baseadas nas vendas do álbum. Logo após o lançamento ela ficou no Top 1 da mesma revista, dos 200 álbuns mais vendidos dos Estados Unidos.
Em 2019, a cantora lançou um filme musical chamado “Black is King”, o Preto é Rei em português, um conjunto de seu álbum criado para o filme “O Rei Leão”. No filme, a história principal é baseada no conto infantil e possui elementos da cultura negra, como roupas, danças e ritmos. Esse projeto foi importantíssimo, principalmente por fazer parte da Disney, umas das marcas mais famosas dos EUA. Por isso, contar uma história como essa de um jovem negro princípe era algo grandioso e uma artista como a Beyoncé se propor a embarcar a fundo na produção, significativo.
Músicas que transformam
Para Sarah, “Love on Top” é a sua música favorita. “Tem um lugar muito reservado e afetivo no meu coração, porque é uma música que toca na festa de família, eu, minha irmã, minha mãe e tias enlouquecemos. Possuímos momentos assim, desde o lançamento dessa música, dançando e curtindo junto interpretando a Beyoncé.” E não é apenas esse lado da diversão que a música traz; ela vai além, pois para a psicóloga, ela cria uma relação de comunidade para famílias pretas. “É algo que une todas as gerações que têm dentro da minha casa para dançar e celebrar com uma arte que a gente se identifica”.
Ana Paula também considera “Love on Top” uma das suas músicas favoritas, mas acha difícil poder escolher apenas uma. Entretanto, uma das canções que mais marcaram sua trajetória foi Pretty Hurts, lançada em 2013. A jovem estava no começo da adolescência e era uma música que, mesmo ela não sabendo o significado na época, a impactava de uma forma como se soubesse a letra de cor. “A música foi lançada quando estava começando a minha transição capilar. Então, me marcou demais, eu lembro que eu via o clipe e eu sentia que entendia tudo, mesmo sem saber a tradução e eu chorava, porque me identificava muito”.
Quem participou dessa matéria montou uma playlist para quem quiser conhecer a cantora. Acesse aqui.