Brasília abriga times de futebol americano

Mesmo sem incentivo e estrutura adequada, times realizam treinos e participam de campeonatos

André Luiz Antunes Andrade

Postado em 22/04/2022

O crescimento do futebol americano no Brasil é resultado do número cada vez maior de fãs da National Football League (NFL). De acordo com dados do Sponsorlink, a maior pesquisa especializada de esporte no mundo do IBOPE Recupom, 33 milhões de pessoas se declararam fãs da NFL no país no ano de 2021. O prestígio da modalidade no DF fez surgir equipes masculinas e femininas do esporte.

Os times mais atuantes no DF são os Leões de Judá, Brasília Wizards e o tradicional Tubarões do Cerrado. No feminino, o único time atuante é o Brasília Pilots. As competições disputadas por essas equipes são o Brasileirão de Futebol Americano e a Liga BFA.

A partir de um grupo de amigos que treinavam por diversão, surgiram os times de futebol americano no DF.  A presidente do Tubarões, Paula Chiarotti, 32, conta como foi a fundação da equipe. “No começo não tínhamos equipamentos, porém começaram a brincar na Esplanada e essa brincadeira acabou se tornando o Tubarões do Cerrado, time mais tradicional do Distrito Federal”, diz.

Bruno Batista, Diego Santos, Eduardo Garcia, João Viktor, Luiz Eduardo, Raphael Lima, Vinícius Gomes e João Victor foram os aprovados no recrutamento do Tubarões do Cerrado em 2022. Créditos: Monique Del Rosso

O vice-presidente do Tubarões, Lucas Muniz, 28 anos, diz que atualmente eles treinam no clube da Aeronáutica e na Esplanada dos Ministérios. “A estrutura não é exatamente a ideal para a prática esportiva, visto que o campo é bem danificado, porém não é algo que nos impeça de fazer um bom trabalho”, explica.

Segundo Paula, presidente do Tubarões do Cerrado, para entrar no time há vários recrutamentos no decorrer do ano. “Nas seletivas são avaliadas as habilidades e aptidões atléticas dos inscritos e não as habilidades de futebol americano. As inscrições estão abertas de acordo com as datas do recrutamento e divulgado nas redes sociais do time”, completa.

“A prática de futebol americano é muito democrática. O peso e a altura, por exemplo, não são decisivos para saber se a pessoa pode jogar ou não. O que realmente é necessário é a disposição de aprender e participar dos treinos, frequentar a academia, cuidar do corpo e da mente. No fim das contas, para jogar futebol americano, você precisa se dedicar, mas não é seu tipo físico que vai decidir isso”, explica Lucas, que além de ser vice-presidente é atleta do Tubarões.

Futebol Americano Feminino

No Distrito Federal o único time de futebol americano feminino é o Brasília Pilots. Surgiu em 2016 por meio de um grupo de amigos amantes do esporte que se reunia, periodicamente, para jogar flag football, modalidade derivada do esporte. A partir desses treinos, veio a ideia de criar uma equipe para participar de campeonatos da região Centro-Oeste. Algumas mulheres que frequentavam os treinos pegaram os equipamentos emprestados dos jogadores do time masculino e assi, formaram uma equipe feminina de futebol americano, que hoje está no Top 3 da Liga BFA.

Atualmente os treinos acontecem duas vezes na semana>: quinta-feira, no gramado da Funarte, às 20h, e aos sábados, na Esplanada dos Ministérios (gramado da Alameda dos Estados), às 9h.

“Infelizmente presenciei casos de homens desmotivando suas companheiras a jogar por acharem que o futebol americano é apenas para o público masculino”, diz Betina Alcoforado. Créditos: Igor Alessandro

Betina Alcoforado Nogueira, 27 anos, é vice-presidente do Brasília Pilots e conta que os atletas encontram dificuldades para praticar o esporte. “Os gramados são desnivelados, não há iluminação adequada para os treinos noturnos e normalmente encontramos lixos no gramado, como cacos de vidro, tampas de garrafas, pedaços de ferro, dentre outros”, diz.

Ainda que no DF eles se considerem semiprofissionais, o fato de não haver remuneração para o exercício da atividade, a estrutura inadequada e o não incentivo público ou privado, por exemplo, os deixam em desvantagem. O jogador do Tubarões, James Springfield, é um norte americano em processo de naturalização e expõe a diferença entre o esporte nos Estados Unidos, país número um em consumo e prática, e no Brasil, mais precisamente no Distrito Federal. “A distinção está na organização. No Brasil o esporte ainda está em fase de crescimento, porém há muitas pessoas que estão engajadas em ajudar com esse desenvolvimento e fico feliz com isso”, afirma. 

James Springfield joga futebol americano desde os cinco anos de idade. Treinou no ensino médio e depois no universitário pela equipe de Tennessee. Créditos: Arquivo Pessoal

Tais adversidades são a realidade tanto dos times masculinos quanto femininos. Porém, há outros obstáculos que apenas as mulheres carregam. “Para uma mulher jogar futebol americano há várias barreiras, como preconceito, falta de incentivo, falta de visibilidade. Têm a baixa adesão de mulheres ao esporte que é visto como violento e masculino. O mito de que a mulher precisa ser atlética e forte para jogar. Eu gosto de dizer que o futebol americano é o esporte mais democrático que existe por aceitar todos os tipos de biótipos”, esclarece Betina.

James Springfield é um dos maiores incentivadores: além de comandar o Brasília Pilots, também é treinador da Defensive Line da Seleção Brasileira feminina de futebol americano.

As atletas do Brasília Pilots não são remuneradas, logo não conseguem se dedicar exclusivamente ao esporte. Porém, para quem tiver vontade de entrar na equipe basta seguir no Instagram (@brasiliapilots) e entrar em contato. “Adolescentes são e serão muito bem-vindas para compor nossa família, contudo, apenas atletas maiores de 16 anos são permitidas, conforme o regulamento, para participarem das competições. Nada impede que menores de 16 anos, com a devida autorização de seus responsáveis, treinem conosco e se preparem até terem a idade mínima para competirem”, diz a vice-presidente Betina. 

A Presidente do Pitos, Raquel Araújo, declarou que sua expectativa de crescimento para o esporte é a sua democratização. “Apesar de ser um esporte em que todos os biótipos são bem-vindos, os custos ainda são muito altos. Para além da democratização desejamos difundir o esporte para que apareçam mais equipes tanto femininas quanto masculinas, para que o futebol americano cresça no Brasil e receba mais incentivo”, completa.