Brenda Max: a drag queen barbada que busca quebrar padrões

No dia 10 de março de 2018,Gustavo começou a se montar e sua drag nasceu

Eduarda Neves

Postado em 23/06/2022

“A arte drag, para mim,  é uma forma artística, é uma arte na qual você faz do seu corpo um corpo político, na  qual você exige o seu direito de ir e vir e questiona certos estigmas da sociedade como padrões e estereótipos de estética e gênero.” Brenda Max é uma drag queen barbada, brasiliense, de 24 anos. Ela conheceu a arte drag pelo reality show  Rupauls Drag Race. No dia 10 de março de 2018, Gustavo colocou para fora seu lado artístico  e sua drag nasceu. Brenda  faz parte do coletivo  Distrito Drag  e atua como auxiliar administrativo.

Qual foi sua motivação para começar a se montar?

Após esse contato com o  Rupauls Drag Race até pensei nessa possibilidade , mas  eu não me sentia muito à vontade para me  encaixar nesse mundo drag, porque eu vi que o mundo drag estava muito padronizado que era uma forma só de fazer drag algo meio estereotipado. Como posso dizer, padronizaram uma coisa que foi feita para quebrar padrões. Eu não acreditava muito  em colocar drag dentro de uma caixinha e não me vi   fazendo isso. Eu queria fazer uma coisa totalmente diferente, mas eu não via ninguém fazendo algo que representasse  isso.

Na época da parada LGBTQIA+ de Taguatinga de 2017,eu estava mais engajado para fazer parte das lutas  da comunidade. Eu conheci duas drags, Ruth Venceremos,  que é super engajada com o movimento e me inspira muito, e a Rayssa , que é uma drag barbada e era isso que eu estava procurando para ter essa quebra. E a partir disso poder construir  uma identidade que  se parecesse mais com a forma  de drag que eu queria fazer. Conhecendo essas duas drags me motivou muito.

Como foi o processo de criação da sua drag?

Eu levei bastante tempo planejando e pensando desde  Parada  LGBTQIA+ de Taguatinga, fiquei pensando qual tipo de drag eu vou fazer. No evento de lançamento do primeiro Calendrag do Distrito Drag, eu decidi  ir com uma peruca azul, uma roupa diferenciada  e o gloss, achando que era  drag.

Neste evento estava a Ruth Venceremos. A gente já se conhecia, aí eu fui conversar com ela  sobre a minha vontade de ser drag e a Ruth me falou:  “você já é drag”. Eu senti aquela pontada no coração. E a partir dali  eu fui procurar inspirações de maquiagens, figurinos, perucas. No carnaval de 2018, eu comecei a testar para quando eu começasse minha drag. Em 10 de março de 2018,na  festa de um amigo, eu decidi começar a fazer  drag.  

Quais são suas inspirações e referências?

Em seu canal do YouTube, ela tem um quadro explicando as Eras da Lady Gaga

Minhas inspirações vêm muito da cultura pop, principalmente Lady Gaga. Ela é uma inspiração não só como drag, mas como artista e pessoa sendo membro da comunidade  LGBTQIA+.

Qual foi sua performance mais marcante?

Minha performance mais marcante foi a primeira no evento UnB Drag Race de 2019,eu já estava com 1 ano de drag, mas  não tinha feito tantas coisas. Eu  ainda estava testando maquiagem, looks e  as performances . Na semana do dia Internacional da Luta contra a LGBTfobia,  teve a competição de drag, eu fui participar e  acabei ganhando. A Unb inteira me conhece é eu nunca estudei lá, foi maravilhoso.

As pessoas, a recepção do público, com  drag e a  performance, foi assim, algo  que eu não esqueço jamais. E a partir dali só foram  acontecendo coisas boas com a minha drag e meu trabalho  foi tendo mais oportunidade.

A Brenda Max é uma coisa que é muito gratificante que as pessoas conhecem agora por outros trabalhos mesmo. Mas tudo começou ali  quando eu estava começando a testar coisas e quando eu decidi me jogar mesmo. 

Quais são suas maiores dificuldades até o momento?

A minha maior dificuldade  primeiramente, é  o financeiro. É muito notório que você tem que gastar mais e receber menos, porque é um investimento muito grande e o retorno é muito pouco. Porque infelizmente a arte drag no Brasil não é muito valorizada. Assim, você precisa fazer outras coisas para poder  acontecer.

E outra dificuldade é a forma que eu faço drag. Muitas pessoas não me considero uma drag. Eu já ouvi de certas pessoas que não consideram muito a minha drag, por eu fazer uma drag barbada. O que é totalmente fora do convencional e  eu considero a minha drag  muito fora do convencional.

Eu acho que muitas pessoas não têm esse tipo de recepção, por isso eu sinto um certo tipo de boicote não só do público, mas também das próprias drags.

No Instagram @brendamaxdragaqueen faz vídeos de transformações com maquiagem

Para você qual é a importância de fazer parte do Distrito Drag ?

Eu acredito que o grande diferencial em fazer parte do Distrito Drag é que vai muito além da gente. Fazemos muita coisa para  a comunidade LGBTQIA+, principalmente nesse setor mais artístico em cultura  que não tem tanta visibilidade na cena cultural, no geral, aqui no Distrito Federal. Temos projetos para incentivar a cultura e promover a  cultura LGBT, é  algo que eu sempre quis explorar, ir além da minha drag e beneficiar toda a comunidade.E está sendo muito gratificante!

Eu sempre agradeço o Distrito Drag  pela oportunidade que eles me deram nesses 4 anos  como drag, e ainda mais agora que eu estou fazendo parte da equipe com eles. Eu sou muito grato pela oportunidade que eles me deram e pela confiança de estar ali, junto com eles, trabalhando juntos, não só por nós, mas também pelas outras pessoas da comunidade LGBTQA+.

Como é sua vivência na cena drag brasiliense ?

Eu tenho contato com praticamente todas as drags  de Brasília, da maioria. Mas por conta da pandemia não teve muito  rolê presencial, nós tivemos  que fazer as coisas tudo online. E aí, a  partir desse momento, eu comecei a me dedicar para  fazer  as coisas online, principalmente no Instagram, fazendo o meu nome acontecendo na internet e uma coisa foi levando a outra. Acabei fazendo performances online para a Twitch, que é um aplicativo de steaming. Eu fui convidado pelo povo de fora do Brasil para fazer essas performances online e tive uma boa reação do público. Acabei colocando no meu canal no YouTube e eu decidi  criar conteúdo para a plataforma de vídeo, durante a pandemia mesmo. 

Mas, eu sempre mantive contato com a  cena  drag de Brasília e aos poucos foram acontecendo rolês presenciais, conforme a pandemia foi viabilizando. O primeiro rolê pós- pandemia  foi a segunda edição do  Hollywood Drag Show, e depois disso  teve o Calendrag 2022. Lembra que eu estava presente na primeira edição que eu nem era drag? Então, eu estou representando o mês  de junho, e  foi muito gratificante participar disso.

Eu acredito muito no crescimento da cena drag de Brasília. Ela tem de tudo para quebrar o eixo Rio/São Paulo porque a diversidade de drag é  grande. A cena drag de Brasília é um projeto incrível, porque fazem tantas coisas que, muitas vezes, não têm o devido reconhecimento.

Redes sociais da Brenda Max:

Canal do YouTube: https://www.youtube.com/c/BrendaMax

Instagram: @brendamaxdragaqueen