Café do Cerrado é destaque no mercado internacional

Desde 2013, grãos do bioma recebem certificação de origem, um status de eminência e qualidade reconhecida

Artur Lesnau

Postado em 10/06/2022

O café do Cerrado brasileiro é apreciado mundialmente. Desde 2013, os grãos de produtores da região recebem certificação de origem pela qualidade e conservação de características únicas. É o caso também do queijo da Serra da Canastra, em Minas Gerais, e do champanhe, original da região homônima, na França. O mercado consumidor de café “requintado” pelo mundo gosta das características do café da nossa região, que abrange o DF e o oeste de Minas, grande produtor do grão.

Por ter alta qualidade e custo menor, o café brasileiro atrai o mercado, o que consolida o país como, além do maior produtor do mundo, o maior exportador. Apenas em fevereiro de 2022, exportamos 3,4 milhões de sacas de 60 kg cada. O segundo maior foi o Vietnã, que chegou a 4,8 milhões de sacas somente após os dois primeiros do ano. 

Café é como vinho: a depender da região onde a planta, que dá o fruto, é cultivada, as características e nuances podem ser alteradas. Detalhes minúsculos para os desatentos podem ser diferenças gritantes entre o café de uma região ou de outra. A altitude, clima, solo, variedade e espécie de café influenciam muito. No dia 24 de maio, o mercado cafeicultor brasileiro comemorou o Dia Nacional do Café, data que geralmente marca o início das colheitas do fruto.

Para os amantes, cada gota de café conta. Para o produtor brasileiro, cada grão é especial. Foto: Artur Lesnau

O café orgânico Suzuki, produzido pela Fazenda Paraíso na cidade de Paracatu, Minas Gerais, tem particularidades únicas. É cultivado próximo a Brasília, a uma altitude média de 688 metros, com um clima muito similar ao da capital. O aroma do grão orgânico cultivado, quando passado o café, lembra o mel de abelha. 

Maria Suzuki afirma que o produto é 100% natural. Utilizam apenas o adubo do tipo Bokashi, uma substância natural poderosa em nutrientes para plantas, e Microrganismos Eficientes, que auxiliam na nutrição do cafezal.

Existem duas espécies de café: a Coffea arabica e a Coffea canephora. A maior parte do café brasileiro é da espécie Arábica. O Vietnã é o maior produtor do café do segundo tipo, conhecido como Conilon, ou Robusta. O primeiro tipo, geralmente, é mais associado a uma bebida de melhor qualidade. Isso ocorre porque ele é mais fino e requintado, não é tão amargo. O preço dos grãos dele, naturalmente, é maior no mercado.

Maria Suzuki afirma que um diferencial do café dela, e consequentemente do brasileiro, é a espécie. Ela afirma que o café que eles plantam é Arábica, sem mistura com grãos da outra espécie.

O Brasil exporta tanto os grãos torrados, como verdes. Depende do importador. Muitas vezes, como é o caso de alguns comerciantes dos Estados Unidos, eles importam para fazer a torra por conta própria. Determinadas empresas escolhem esse tipo para ter maior controle do produto que comercializam internamente no país. 

A depender da torra, as qualidades se perdem do grão. Mesmo no Brasil, encontra-se cafés do tipo “extraforte”. Não existe planta que produza tantos níveis de “força”. O que existe é uma indústria que compra grãos de menor qualidade, muitas vezes junto de impurezas, e torram tudo o que estiver junto até unificar o sabor. 

A torra excessiva nivela o sabor por baixo, o que torna o produto mais amargo e com a sensação de ser mais “forte”. Esses cafés são mais escuros e mais baratos. Propriedades como os óleos, aromas e sabores mais adocicados se perdem.

Por ter um custo menor, esses cafés super-torrados são mais baratos que os “gourmets”, tratados com o mínimo de dignidade. Os importadores do café brasileiro preferem torrar eles mesmos os grãos. Um quilo de café do Cerrado, em um site americano consultado para a reportagem, chega a custar US$ 44, ou R$ 214,79. Outro anúncio, na Amazon dos EUA, vendia a US$ 26, R$ 126,92 em conversão. 

Semelhante a vinhos, que, onde é produzido, é barato, o café brasileiro, e em específico do Cerrado, tem admiradores gourmets que apreciam cada xícara com atenção às mínimas nuances de cheiros e sabores.