Capital do país valoriza cada vez mais a gastronomia

Em ano pandêmico, as pessoas passaram a investir mais em gastronomia e começaram a utilizar a cozinha como forma de fuga do sentimento de solidão dado pelo isolamento social

Vítor Bueno

Postado em 03/10/2021

Uma das melhores maneiras de conhecer a cultura de um lugar é por meio da gastronomia . Cada vez mais, as pessoas estão investindo em experiências gastronômicas para conhecer um tipo de culinária nova ou construir uma bagagem de sabores, mesmo sem sair de casa. Grandes franquias estão se espalhando pela capital, novos restaurantes, hamburguerias, sorveterias e lugares especializados em comidas de outros lugares do mundo estão entrando no gosto dos brasilienses.

“O cenário gastronômico do Distrito Federal está em crescimento positivo. Sempre faço uma pequena comparação de quando cheguei para morar em Brasília, em 2007. Quando eu vejo, depois de 14 anos morando aqui, como a gastronomia sempre foi para melhor, sempre esteve em crescimento”, diz Sebastiàn Parasole, coordenador geral do curso de gastronomia do Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB).

A pandemia da Covid-19 trouxe dificuldade para os donos de estabelecimentos gastronômicos. Muitas pessoas não estavam se sentindo seguras ao sair de casa e estar sem máscara em ambiente com pessoas desconhecidas ao redor. Isso fez com que o faturamento no setor caísse R$ 1,5 bilhão no Distrito Federal, segundo dados do Ministério da Economia. 

Mesmo depois da flexibilização das medidas contra a Covid, restaurantes continuaram com baixo movimento – Foto: Unsplash

Cerca de um ano e meio depois, com o avanço da vacinação em todo o país, o comércio toma um respiro e projeta uma melhora no faturamento com as medidas de isolamento social flexibilizadas e os clientes mais confiantes para frequentarem os espaços. A estudante Laura Pimenta, 21 anos, soma a segurança e a vontade de experimentar novos lugares para construir seu paladar: “Neste último ano eu comecei a frequentar mais restaurantes porque estou tendo que almoçar todos os dias fora de casa. Procuro cada dia experimentar um novo prato ou um novo tipo de comida diferente”, conta. 

A mídia e sua influência gastronômica

Diversos motivos fizeram com que as pessoas se atentassem mais à gastronomia. Sem dúvidas, uma delas foi a alta em programas de televisão. O que antes eram programas de receitas voltadas para o público feminino, hoje se transformaram em reality shows que ganharam a atenção de um público muito maior. 

“Eu comecei a gostar de gastronomia e entender um pouco mais quando eu comecei a assistir programas de televisão que falam sobre gastronomia, realitys, como: Masterchef, Mestre do Sabor e SuperChef. Depois eu comecei a ver um monte de coisas sobre gastronomia. Foi me despertando. Comecei a ver que gastronomia não era só o arroz e feijão do dia a dia”, disse Laura. 

Depois de descobrir mais sobre o mundo gastronômico, o público se interessa em experimentar novos sabores e busca desvendar paladares, mas, nem sempre sabem o que a cidade tem a oferecer. O mineiro Rodrigo Lourenço, de 40 anos, quis desvendar e transmitir para os brasilienses as opções gastronômicas que Brasília oferece, para isso, criou o perfil Comidas de Brasília nas redes sociais. O perfil foi o primeiro especializado em gastronomia da capital federal no Tiktok e alcançou 155 mil seguidores na rede social, além dos quase 70 mil no Instagram.

“Quando eu cheguei aqui, muitas pessoas sempre me indicavam os mesmos lugares e eu fiquei imaginando ‘como que uma cidade desse tamanho só tem uma pizzaria? Por que todo mundo só me indica a mesma?’. A partir daí resolvi começar a desbravar a cidade, mostrando dicas diferentes, fugindo do trivial que jornais e outros influenciadores mostravam. Comecei a valorizar as cidades satélites e deu muito certo”, observa.

O chef Sebastiàn destaca a importância da ferramenta da mídia para a difusão de produtos para ajudar empreendedores durante a pandemia a se manterem ativos, além de propiciar uma maior atenção do público graças a plataformas digitais. Laura se apoia em conteúdos da mídia digital para tomar decisões de onde ir e o que comer: “Quando eu quero conhecer um lugar hoje em dia, eu olho resenhas no Youtube ou Instagram, para ver se é bom mesmo e compensa ir nesse lugar”, fala. 

Formando chefs

Cozinhar se tornou uma fonte de alívio para brasileiro nesse período de isolamento social. Muitas pessoas foram para a cozinha como forma de terapia. Segundo dados da empresa inglesa Global/WebIndex, um terço da população aprendeu a cozinhar durante a pandemia. “Durante a pandemia foi quando eu mais aprendi a cozinhar. Antes da pandemia não sabia fazer um arroz sem queimar, agora eu realmente sei cozinhar”, salienta Beatriz Soares, estudante de 21 anos. 

Durante a pandemia, muitas pessoas se aventuraram na cozinha e aprenderam receitas novas – Foto: Vítor Bueno

Por outro lado, a pandemia fez com que estudantes de gastronomia parassem de estudar, pois, como é um curso que exige a prática presencial e necessita de um lugar adequado e adaptado, os estudos foram afetados. Sebastiàn diz que, com a flexibilização dada graças ao avanço da vacinação, o número de matrículas está crescendo novamente.

“Cozinhar é uma das coisas que mais têm me agradado ultimamente. Está sendo a minha terapia. Eu sempre gostei de cozinhar, desde criança, ficava admirada com tudo que faziam na cozinha, foi algo que fez parte da minha vida. A melhor parte de cozinhar, é o resultado, é quando alguém experimenta. É gratificante saber que o que você colocou tanto esforço, fez bem para alguém e que esse alguém gostou”, conta Júlia Vieira, de 18 anos, recém-formada no ensino médio que planeja cursar gastronomia.