Capital do skate: conheça os principais picos e a cultura do esporte em Brasília
Modalidade ganha visibilidade, tornando-se uma forma de expressão e estilo de vida
Postado em 08/04/2024
O Skate surgiu na Califórnia no século passado, tornando-se uma modalidade olímpica apenas nas Olimpíadas de 2021, em Tóquio. Por mais que o reconhecimento como categoria olímpica tenha acontecido de maneira tardia, a cultura do skate vem se propagando não só como esporte, mas como estilo de vida, no Brasil e no mundo. Nesta matéria você conhecerá um pouco mais da cultura do skate em Brasília, assim como os principais “picos” frequentados pelos skatistas do DF.
Setor Bancário Sul: O “Banks”
O Setor Bancário Sul, localizado na Asa Sul, é considerado por muitos skatistas como o principal e mais clássico pico de skate de rua em Brasília. A arquitetura do local é perfeita para a prática da modalidade Street, contando com extensas porções de piso liso, além de escadas, bordas, bancos e gaps (desníveis semelhantes a altas calçadas) que fazem parte do projeto original do Banks.
Além da própria arquitetura, o “bancário” possui obstáculos feitos pelos próprios skatistas, como caixote, corrimão e rampas. O Banks é conhecido internacionalmente, fazendo com que skatistas de vários lugares do mundo venham à Brasília para conhecer o pico e gravar vídeo – parts.
“Você não tem um lugar igual a esse quase em local nenhum no Brasil. É coberto, tem um piso feito de granitina polida ou mármore. Isso aqui é tradicional, os gringos quando vêm pra cá querem andar aqui”, diz Mailson de Lima Ribeiro (50), skatista há 31 anos e “local” do Banks.
Skatepark do Deck
O skatepark do Deck é uma pista destinada à modalidade Skate Street e fica localizado no St. de Clubes Esportivos Sul, em frente ao lago Paranoá. Diferente do Setor Bancário, que foi construído com outra finalidade e acolhido pelos skatistas, o Deck é uma pista própria para skate, sendo considerado um dos melhores picos, não só por conta dos obstáculos, mas também pelo ambiente ao redor, que transforma a energia do local.
O Deck possui rampas, bordas e corrimãos propícios tanto para skatistas mais experientes quanto para os que estão iniciando. O local é cercado por uma árvore que em determinados momentos do dia faz sombra na pista, além da bela vista para o Lago Paranoá.
SkatePark da Octagonal: o Sukata
O Sukata, como é apelidada a pista de skate da Octagonal, é uma das mais tradicionais de Brasília, tendo sido reconstruída e reinaugurada em 2023. A pista do Sukata é própria para a modalidade do Skate Park, onde os principais obstáculos são curvas sinuosas e bowls (buraco que se assemelha a uma piscina/tigela). Além dos obstáculos direcionados ao Skate Park, o Sukata possui também 2 corrimãos no solo, bordas e um caixote, para aqueles que praticam a modalidade Street. O Sukata é um skatePark de fácil acesso para moradores da Octagonal e regiões ao redor, e possui como outro ponto positivo a localização ao lado do Terraço Shopping, fazendo com que o lazer não se prenda apenas ao skate.
Matheus Vinícius Barros (24), começou a andar de skate há 15 anos, por influência do pai, e desde pequeno é skatista “local” do Sukata:
“Sukata tá perfeito. Eu lembro que teve um rolê aqui, chegaram uns moleques com mesa de som, disco, instrumento; a gente começou a tocar e ficou música e skate, então a cena tem muito espaço para crescer”, diz.
Skate salva, skate é amizade
O skate vai muito além de um esporte. Para muitas pessoas, é uma verdadeira forma de vida e ferramenta de expressão. Ele incorpora uma cultura única, repleta de criatividade e uma atitude de desafio em relação a ”quebrar as regras”. O skate é muito mais do que a prática de um exercício físico, tornando-se também um ato de explorar e enxergar com outros olhos a cidade, encontrando novos obstáculos. É uma maneira de se expressar, interagir com a arte urbana, construir comunidades e se conectar com outros skatistas:
“Eu costumo dizer que o skate salva, salva do dia ruim, da alma cansada, das situações difíceis com a família, às vezes até num relacionamento. Você sai, cabeça quente, vem pro bancário, esfria a cabeça andando de skate. Eu vejo o skate hoje em dia mais família, você chega nos lugares, as pessoas se cumprimentam, a gente se conhece. O skate é inclusivo, não importa quem você é ou a sexualidade que você tem, o que você entende como ideologia ou cosmovisão da vida, você vai se abraçar da mesma forma”, declara Mailson.
O skate tem um poder transformador para muitas pessoas. Ao enfrentar desafios, os skatistas encontram uma sensação de realização e confiança que pode se estender para além do esporte e influenciar positivamente outras áreas de suas vidas:
“O skate é a minha oportunidade de sair da rotina, sair de casa, do trabalho. Posso conhecer gente nova, encontrar os amigos de muito tempo, então o skate pra mim é amizade, com certeza”, reitera Matheus.
A cultura do skate, que por muito tempo foi vista como algo criminalizado, ganha força no Brasil, tornando-se de vez um esporte e acabando com a imagem de vandalismo.
“Na década de 1990, quando eu comecei a andar de skate, o skate era uma coisa mais criminalizada. A gente andava de skate, mas era mais para ir contra o sistema. Hoje continua sendo uma forma de expressão, com suas questões culturais, mas agora é um outro skate. É um skate que tem um mercado, você agora é tratado como um atleta, não mais como um desconhecido ou como um rebelde sem causa. Ainda assim, não deixa de ter a miscigenação com aquele skate da década de 1990, ou com o skate 2000 também”, reforça Mailson.
A inclusão do skate às modalidades olímpicas somado a influências como a “Fadinha” Rayssa Leal, estão desempenhando papéis importantes ao inspirar uma nova geração de skatistas e ajudar a mudar a percepção pública sobre o skate.