Conheça o app WHO Rast, uma ferramenta moderna para análise de riscos biológicos

A partir de algumas perguntas, o aplicativo avalia se há riscos e fornece orientações. Também é possível salvar e compartilhar resultados

Estefania Lima

Postado em 02/04/2024

Em enquete realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), durante o webinar “WHO Public Health Laboratories” (OMS Laboratórios de Saúde Pública, em tradução livre), 98% dos participante disseram que seria útil ter um ferramenta de avaliação de risco de pesquisa laboratorial e 89% disse que seria útil ter uma ferramenta de avaliação de risco para trabalho do tipo diagnóstico. O webinar aconteceu em novembro de 2021.

“A biotecnologia e seus avanços, além de suas colaborações nas diversas áreas como a medicina, a agricultura e a economia, inclui a presença de riscos. A existência de tais riscos indica a necessidade de haver normas de segurança destinadas à análise e desenvolvimento de estratégias para minimizá-los, principal função da biossegurança”, dizem os pesquisadores do artigo “Biossegurança: uma revisão”, publicado em 2020 nos Arquivos do Instituto Biológico, disponível pela SciELO Brasil.

Como uma dessas estratégias, a OMS lançou em fevereiro desse ano uma ferramenta de avaliação de riscos de biossegurança chamada WHO Rast. O WHO Rast é um aplicativo para celular, disponível gratuitamente para Android ou IOS, que, segundo a OMS, “visa aumentar a compreensão dos perigos e riscos e promover a adesão às práticas de segurança biológica para os profissionais de laboratório” (técnicos de laboratório, pesquisadores, microbiologistas, bioquímicos, entre outros profissionais). Além desse app, a OMS possui outros 20 apps disponíveis para download nas lojas virtuais de aplicativos. 

Essa matéria irá analisar o app WHO Rast, desde a precisão dos resultados até a segurança do usuário, entre outros pontos.

As práticas de biossegurança ajudam a garantir a proteção dos profissionais que trabalham com patógenos. Foto por Estefania Lima.

Experiência do Usuário

Todas as avaliações finais de risco podem ser marcadas e salvas para visualização posterior. Os favoritos podem ser baixados e compartilhados por e-mail ou plataforma de mídia da escolha do usuário.

A interface é bonita, dedutível e fácil de navegar. Possui três ícones na barra de navegação na parte inferior da página: Menu Rápido, Home e Marcadores. Também é possível utilizar o app mesmo offline. O app tem Classificação Livre.

O maior defeito: está disponível apenas em inglês. Os desenvolvedores disseram que “esperam expandir o número de idiomas” para “permitir alcance global” do aplicativo, porém não deram uma previsão de quando isso irá acontecer.

Precisão e Confiabilidade dos Resultados

O aplicativo permite que o usuário explore os possíveis perigos associados a três áreas de trabalho: Diagnóstico (atividades de testagem laboratorial para diagnósticos clínicos), Pesquisa (experimentos de investigação e avanços científicos) ou Trabalho em Campo (coleta de amostras e outras atividades em campo e fora do laboratório). Dependendo da área selecionada, o usuário escolhe o tipo de patógeno(s) [agente infeccioso] em que está trabalhando (humano ou animal). De forma prática, o usuário responde de 7 a 9 perguntas e, a partir das respostas, o aplicativo produz um “resultado inicial de risco”, que pode chegar desde risco “muito baixo” ao risco “ muito alto”, um resumo e considerações adicionais.

Na descrição do aplicativo, a OMS se isenta de qualquer responsabilidade: “a Ferramenta de Avaliação de Risco de Biossegurança atua simplesmente como uma orientação, destinada a ajudar os usuários a entenderem como realizar avaliações de risco”.

A biomédica, coordenadora do curso de biomedicina do Centro Universitário Iesb e presidente da Associação de Biomédicos do Distrito Federal (ABM-DF), Aline Reis diz que a experiência dela com o app WHO Rast foi mista: “a expectativa inicial era alta, dado o objetivo do aplicativo. No entanto, houve decepções”. Aline aponta que “as respostas às perguntas simples parecem óbvias, sugerindo falta de profundidade nas análises de risco”, o que, segundo a biomédica, “pode não atender às necessidades de usuários que buscam insights [percepções] mais detalhados e específicos”. Apesar das limitações atuais do WHO Rast, Aline também faz comentários positivos:

“A integração da IA [Inteligência Artificial] e da análise de dados avançados promete revolucionar a maneira como os profissionais acessam e utilizam informações de biossegurança no futuro”.

Aline Reis, biomédica, coordenadora do curso de biomedicina do Iesb e presidente da Associação de Biomédicos do DF.

Segurança e Privacidade

Os desenvolvedores afirmam que esse aplicativo “não coleta dados do usuário nem os compartilha com outras empresas ou organizações”. Essas informações podem ser atualizadas ao longo do tempo.

Compatibilidade

Para os aparelhos Android, o Sistema Operacional mínimo necessário para uso é o Android 5.0 e versões mais recentes. Já para o IPhone, o IPad, o IPod touch e o Mac é necessário o IOS 12.4 ou acima, o IPadOS 12.4 ou acima, o IOS 12.4 ou acima e o macOS 11.0 ou acima e um Mac com chip Apple M1 ou acima, respectivamente.

Aparelho eletrônicoSistema Operacional mínimo necessário
AndroidAndroid 5.0 e versões mais recentes
IPhoneIOS 12.4 ou acima
IPadIPadOS 12.4 ou acima
IPod touchIOS 12.4 ou acima
MacmacOS 11.0 ou acima e um Mac com chip Apple M1 ou acima

Atualizações

Atualmente o aplicativo se encontra na versão 1.0.1. A última atualização foi em 28 de fevereiro de 2024, para consertar bugs e outros aprimoramentos.

Biossegurança

Os pesquisadores do artigo “Biossegurança: uma revisão” definem biossegurança como “o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos que possam comprometer a saúde do homem e dos animais e o meio ambiente”. Segundo eles, os primeiros debates sobre biossegurança surgiram na década de 1970, impulsionados pelas preocupações com a segurança nos laboratórios e os potenciais impactos dos avanços na engenharia genética.

Os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) são exemplos de práticas de biossegurança. Foto por Estefania Lima.

No Brasil, a regulamentação nessas áreas começou em 1995 com a criação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. Esta comissão tem como responsabilidade fiscalizar a manipulação de organismos geneticamente modificados (OGM) e garantir a segurança nos ambientes laboratoriais. 

A biossegurança se aplica em diversas áreas, desde laboratórios biomédicos e de pesquisa até hospitais, clínicas, agricultura, indústria de alimentos e bebidas, biotecnologia e muitos outros setores. Até por isso, não é incomum que cada laboratório, clínica, etc, possua Manual de Biossegurança próprio.