Escola Precoce promove inclusão na rede pública do DF
O programa existe há mais de 30 anos e faz a diferença na educação e no desenvolvimento de crianças deficientes
Postado em 23/04/2022
O Programa Escola Precoce (PEP) é uma iniciativa do Governo do Distrito Federal (GDF), com a Secretaria de Estado de Educação (SEE) e está há 35 anos fazendo a diferença na educação de crianças com deficiência. Ele tem por objetivo trabalhar tanto a parte motora, quanto a pedagógica, de crianças de 0 a 3 anos, 11 meses e 29 dias, por meio de atividades lúdicas e espaços ambientados adequadamente para as necessidades dos alunos.
Estudos mostram que o potencial humano não se define de antemão: nos três primeiros anos de vida, a criança forma mais de 90% de suas conexões cerebrais por meio da interação do bebê com estímulos do meio ambiente. Por isso, na Escola Precoce os alunos desenvolvem suas potencialidades em aspectos físicos, cognitivos, psicoafetivos, sociais e culturais, priorizando o processo de interação e comunicação.
A princípio, as escolas precoces ficavam nos Centros de Ensino Especial (CEE) do DF, mas a partir de 2005 elas foram introduzidas dentro dos Centros de Educação Infantil. A mudança foi feita para que os pequenos tivessem modelos expositivos e fossem incluídos na sociedade. O Centro de Educação Infantil (CEI) 04 de Taguatinga foi o primeiro a receber o programa e hoje em dia é referência em educação precoce.
Sabrina Marques e Dayse Viana são pedagogas e as gestoras do CEI 04 de Taguatinga. Sabrina trabalha com o programa desde o ano de 2009, quando foi substituir uma colega e, depois disso, se apaixonou e tomou a frente. Elas contam como funcionam as aulas, que ocorrem duas vezes por semana. “São 50 minutos de aula com o professor de educação física, para trabalhar a parte motora das crianças e uma de 50 minutos com o pedagogo.”
O foco do programa, de acordo com Sabrina, não é clínico, mas sim educacional. Todo o trabalho feito por elas é para que as crianças do precoce possam ir para a educação infantil desenvolvidas ao máximo, e principalmente, com a habilidade de interagir com outras crianças. “Não é um trabalho fácil, pois muito depende da própria criança, dos pais e dos professores. O tratamento não acaba quando eles saem daqui e vão para casa”.
Mais que uma escola
Dayse e Sabrina relatam que muito mais do que só uma escola, o programa trabalha em todos que fazem parte dele, sejam alunos, pais, professores e, principalmente, nas outras crianças, sentimentos como empatia e solidariedade. “Sempre frisamos aos pais da educação infantil que os filhos deles estão tendo a oportunidade de serem melhores que nós porque eles estão vivendo a inclusão todos os dias”, comenta Dayse.
Elas também contam que por muitas vezes precisam se policiar para não se envolverem tanto com a realidade das famílias, porque a maioria delas chegam até elas ainda pelo processo do “luto”, após receber um laudo ou até mesmo, porque a maioria dos pais vivem somente por conta dos filhos. “O nosso trabalho vai além das crianças, ele vai para as famílias também, porque para fazermos dar certo temos que trabalhar o conjunto sempre”.
As gestoras do CEI 04 afirmam ter muito orgulho de dirigir o programa e mencionam sua equipe de profissionais, onde todos são muito competentes e principalmente, apaixonados pelo o trabalho. Todo esse carinho e união fazem a diferença no desenvolvimento das crianças e na execução daquilo que é proposto pelo PEP. “Tenho uma equipe muito boa, de professores que são mais que colegas. Falando do profissional, eles são muito capazes e fazem tudo com amor!”.
Atualmente a escola conta com 24 professores: 12 pedagogos, 12 professores de educação física, um apoio a coordenadora e uma coordenadora.
“O programa também nos muda como seres humanos porque você começa a ver as crianças, principalmente as especiais, com outros olhos. Às vezes ao ver uma criança na rua dando “birra”, por exemplo, ao invés de julgar, você imediatamente pensa “essa criança pode ter TEA (Transtorno de Espectro Autista), ela não é mimada, sem limites ou malcriada”, conta Dayse.
Por experiência própria
Helena Moura, portadora de TEA, faz parte do projeto no CEI 07 de Taguatinga e sua mãe, Carol Moura, descobriu em uma conversa com uma colega sobre o programa. “Eu nunca tinha ouvido falar e acredito que a maioria das mães também não porque não é divulgado. Assim que soube, logo me interessei porque vi uma oportunidade de desenvolver a Helena mais ainda, antes que ela fosse inserida na Educação Infantil”.
Ela conta que Helena, hoje com três anos, apresenta hiperlexia – uma síndrome, muitas vezes caracterizada como elemento do autismo, que envolve a capacidade de leitura precoce e a obsessão por números e letras – e que ela ter sido inserida em meio a outras crianças despertou nela o desenvolvimento em outras áreas, como a fala, por exemplo.
Ela diz ter sido o despertar do seu interesse pelo PEP o suporte que eles poderiam dar à sua filha, pois até então ela não havia encontrado nada do tipo que fosse gratuito. Carol conta que escolas especiais destinadas a crianças deficientes são da iniciativa privada e com preços fora do seu orçamento.
Ela frisa que quanto antes os pais tiverem um laudo e começarem os tratamentos, como as terapias e programas como o PEP, melhor será a desenvoltura da criança tanto na escola como na sociedade, independente da deficiência. Para ela o programa tem sido ótimo e ela recomenda aos pais que busquem esse apoio.
Onde estão essas escolas?
No DF, o programa está presente em 20 Centros de Educação Infantil e para determinar quais escolas adotarão a escola precoce, teoricamente, basta ter um diretor à disposição. Na prática, o programa exige um investimento maior pois há a necessidade da adaptação dos ambientes para as atividades dos alunos e este é um fator que provoca no governo certa resistência ao demandar verbas para a execução dele.
Em contrapartida, o custo-benefício é maior, visto que essas crianças, no futuro, têm total competência para ingressar no mercado de trabalho e gerar frutos para a sociedade.
Para se inscrever no PEP basta clicar aqui, seguir as orientações para as etapas da matrícula e ver qual fica mais perto da residência do interessado. Vale ressaltar que é destinado a crianças entre 0 e 3 anos, 11 meses e 29 dias.