Mercado de bebidas artesanais cresce no Distrito Federal

Processo lento e complexo atrai produtores e público exigente

Priscilla Burmann

Postado em 24/05/2022

Bebidas artesanais são fruto de um complexo processo de produção, geralmente feito em pequenas quantidades e por empresas familiares para consumo próprio.

As cervejas artesanais, em especial, começaram a ser produzidas no Brasil em 1830, por imigrantes. Inicialmente, por se tratar de uma atividade culinária, somente as mulheres produziam as cervejas.

Até pouco tempo atrás, quem se aventurava pela seção de bebidas no supermercado encontrava poucas opções de sabores de cervejas, restando apenas a tradicional industrializada à base de trigo ou cevada, com cereais não maltados, aromatizantes, antioxidantes, corantes e estabilizantes.

Todavia, o cenário está mudando e o mercado de cerveja artesanal, que era feito inicialmente para o consumo familiar, está em constante ascensão no mercado brasileiro. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), quinze novas empresas, em média, são abertas todos os meses. Esse número, no Distrito Federal, quase triplicou nos últimos anos: a região passou de cinco fábricas para treze marcas locais, de acordo com a Abracerva-DF. 

Sobre o fato, a Associação Brasileira da Cerveja Artesanal  (Abracerva-DF) acrescenta: “A produção de cerveja artesanal das empresas do DF tem crescido em ritmo acelerado e atualmente são produzidos cerca de 150 mil litros pelas cervejarias locais, porém boa parte desta produção é realizada em fábricas fora do DF”. Acrescenta a Abracerva-DF.

Receitas inusitadas atraem o consumidor

Água, malte, lúpulo e levedura são ingredientes base para toda cerveja artesanal. A produção, todavia, é complexa e demanda tempo. As receitas artesanais combinam diferentes grãos, em diversos graus de tosta, com grande variedade de lúpulo e leveduras. Processo fundamental para produzir sabores com ervas aromáticas, frutas tropicais e até chocolate.

Brasília promove desde 2018 o maior evento de cervejas artesanais da região, o festival  Beba do Quadrado. Contudo, desde 2020 o festival não acontecia devido a pandemia da COVID-19, como explica o organizador do evento, Guilherme Sette: O público ficou 2 anos esperando pelo evento. Durante esse tempo ensaiamos dois retornos que foram abortados por novos lockdowns”.

O festival retornou este ano, em parceria com mais de quatorze produtores locais e oferecendo mais de 150 opções de torneiras com sabores variadores como: café, cajá-manga, puro malte, goiaba, pitaya, chocolate amargo, maracujá, cacau à cervejas artesanais premiadas.

Em 2022, a primeira edição do Parque da Cidade foi sucesso absoluto, batendo recorde de público de acordo com o organizador Guilherme Sette, que afirma que a maior dificuldade do produtor é vender e explica como surgiu a ideia do festival:

Festival Beba do Quadrado aconteceu no dia 30 de abril, com recorde de público. Foto: Priscilla Burmann

“Em 2017/2018 além de uma loja de bebidas eu tinha 2 operações de beer truck. Na loja eu armazenava a maioria do estoque das cervejarias locais. Ao perceber uma demanda de cerveja de qualidade em eventos de rua, chamei as cervejarias para fazer uma edição única. Deu tão certo que pediram para repetir todos mês… e estamos aí até hoje!”

Variedade de cervejas artesanais – Foto: Unsplash

O evento acontece em diferentes regiões de Brasília com o intuito de abarcar diferentes perfis de público e este ano terá uma edição inédita na rua do lazer em Águas Claras:

Beba do Quadrado – Feira de Cervejas Artesanais

Local: Rua do Lazer ( Entre Av. Paineiras e Av. Águas Claras) – Águas Claras/DF

Data: 28 de maio e 29 de maio de 2022

Horário: 11h às 22h

Chá é

O “Chá é” é uma marca brasiliense do Chef Rafael Santos, 31. A marca produz desde chás gaseificados à kombuchas e limoncellos. O Chef se orgulha por cultivar de forma orgânica a maior parte da matéria prima utilizada em seus produtos, porém afirma que o maior desafio é a padronização: “Em uma produção realmente artesanal e natural, onde cultivamos e colhemos a maior parte dos ingredientes utilizados, respeitando o tempo e as condições da natureza, são muitos os fatores variáveis distribuídos por todo o processo. Então, uma vez que até mesmo o ponto de maturação da casca de um determinado fruto altera todo o resultado final, fica improvável conseguir 2 resultados idênticos, mesmo durante anos. Apesar disso, a busca é incessante por entregar sempre um produto que pareça “igual” ao anterior.”

A produção da bebida artesanal do “Cha é” é mais complexa do que bebidas tradicionais por necessitar de diferentes etapas na produção. Além do cuidado e cultivo da matéria prima, etapas como infusões de chás, coleta de kombuchas e alimentação das colônias e a gaseificação são necessárias até o envase.

“O processo natural de cultivo e cuidado dos ingredientes e do ambiente no qual vivem: É esse processo que traz realmente vida a tudo. Artesanal e natural de verdade, permitindo o acesso a ingredientes raros e que não se podem comprar em algum distribuidor.”

Rafael se diz um “apaixonado pelas ciências botânicas, culturas e conhecimentos perdidos na sociedade atual”. O que influenciou no surgimento da ideia do chá gaseificado: “A ideia do negócio mesmo surgiu de maneira repentina na busca por alguma possibilidade de “mudar de ares”. Cultivar especiarias e frutas incomuns é um hobby que tenho desde novo, muito antes de ingressar na faculdade de gastronomia. Uni a paixão botânica com o conhecimento técnico gastronômico e coloquei em prática a Chá é.”

Chá gaseificado de diferentes sabores “Chá é” – Foto: Priscilla Burmann

Como empreendedor, Rafael acredita que o mercado é favorável ao ramo: “Creio que poucos crescem com uma constância anual quanto o mercado das bebidas artesanais. Enxergo como a ponta de um iceberg, tendo ainda muito a crescer e atrair de investimentos.”

Por fim, Rafael compartilha que a “Chá é” procura entregar bebidas obtidas com ingredientes cultivados com muito amor e zelo. “Criamos até mesmo as abelhas que polinizam nossas plantas e nos dão mel. Assim podemos entender toda a cadeia de vida dos nossos produtos, procurando reviver nos dias atuais algumas das riquezas gastronômicas que existiram em outros tempos.”

Ficou curioso?

@chaeh.gastronomia

@bebadoquadrado