Mulheres enxergam no crochê possibilidade de renda extra

O item que se reinventa ao longo dos anos contribui com a mudança da realidade de muitas mulheres

Manuella Lago

Postado em 01/04/2024

Crochê muda a vida de muitas trabalhadoras. Reprodução/ Manuella Lago

O crochê e sua popularidade vem crescendo ao longo dos anos. O item, que faz parte da sociedade há séculos, ganha espaço no mercado de trabalho e pode servir como renda extra para muitas mulheres. Segundo a pesquisa feita pelo Instituto Cidades Sustentáveis, em parceria com a Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), 31% dos brasileiros precisaram fazer alguma atividade extra para complementar sua renda em 2023. 

Bolsas, blusas e decorações são alguns dos itens que são produzidos através da técnica. Dentro da área do artesanato, há cerca de 8,5 milhões de pessoas. Além disso, o meio movimenta mais de 100 bilhões por ano, de acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). 

A diretora do Instituto Proeza, Katia Ferreira, conta que a criação do Instituto foi uma possibilidade que o grupo enxergou no crochê e no artesanato de gerar renda para as mulheres. A diretora conta que o projeto começou em 2020, e que justamente por muitas mulheres estarem passando por um momento crítico, devido a pandemia da Covid-19, elas buscaram uma estratégia para contribuir com esse grupo.

O Instituto, localizado no Recanto das Emas, tornou-se, segundo a diretora, uma renda principal fundamental para muitas trabalhadoras conseguirem sair de uma realidade e irem para outra. “O projeto, sem dúvida, contribui com a transformação da vida de mulheres, principalmente do nosso grupo que são mulheres, em sua maioria, monoparentais femininas. Isso realmente faz uma diferença na vida delas, para boa parte, a única fonte de renda hoje é o crochê”, finaliza.

Crochê como transformador de realidades

A estudante de administração, Micaela Borges, de 21 anos, relata que começou a fazer crochê no final de 2021, com a sua avó. Após isso, por ter vontade de iniciar uma graduação e os seus pais não terem condições financeiras para pagá-la, começou a vender crochês para financiar a faculdade. Micaela conta que quase todo mês ela possui encomendas e que garante uma boa renda extra. “Eu vendi pouco, mas o crochê é muito caro. Então, o pouco que eu fiz, deu muito dinheiro”, conclui.

Micaela conta que faz sousplat e que o preço varia de acordo com a quantidade de cores, mas afirma que a época que mais vende é a natalina. “O pessoal gosta de deixar a mesa posta, principalmente com as cores do natal”, declarou.

Luciana Mathias, professora de língua portuguesa, fala que faz crochê desde os seus 13 anos e que, desde então, nunca mais parou. Ela relata que com a pandemia intensificou os seus trabalhos, buscando diferentes técnicas e modernização. Entretanto, após passar por uma fase de mudanças, em 2022, decidiu se profissionalizar e começar a fazer bolsas. Depois de obter muito êxito, decidiu criar sua própria marca: Nó demais.

A professora afirma que as épocas mais lucrativas, sem dúvida, são: Dia das mães, dos professores e final do ano. Luciana diz que muito da popularização do crochê vem da grande utilização dele por famosos. “O crochê é uma técnica versátil e adaptável. Além disso, traz uma memória afetiva fascinante, resgatando peças que estão na família há muitos anos. O fato de vermos hoje muitos famosos utilizando peças em crochê ajudou a popularizá-lo ainda mais”, termina.

Prática entre gerações

O amor é transmitido através do trabalho manual. Reprodução/ Manuella Lago

Lianca Lorraine Nunes, estudante de enfermagem, de 22 anos, conta que começou a fazer crochê por influência de sua avó. Até que nesse ano, após ver vídeos de crochê, resolveu voltar a fazê-los. Lianca diz que a princípio começou a divulgar apenas para amigos próximos. Entretanto, com o apoio do seu namorado e da sua avó, criou a sua marca. 

A estudante conta que mesmo tendo começado há pouco, acredita que o crochê pode sim contribuir como uma renda extra. Ela fala que fazer crochê, além do lucro, traz uma conexão dela com a avó. “A cada ponto que faço é uma lembrança afetuosa do amor e carinho que ela sempre teve comigo através da sua paciência em me ensinar a fazer crochê. Tento transmitir esse amor nas minhas peças e encomendas já que o crochê é tão especial por cada peça ser única e feita 100% à mão”, declarou.

A servidora pública, Daniela Moraes, assim como Lianca e Micaela, começou a fazer crochê através da sua avó. Porém, aprimorou seus talentos durante a pandemia. A servidora relata que no começo fazia apenas para filha e amigas, mas depois criou um perfil para realizar suas vendas.

Daniela, que trabalha com crochê há 1 ano e meio, declara que, embora o crochê seja uma renda extra, há dificuldades na venda, além de achismos sobre a facilidade da realização das peças.“As vendas são bem complicadas. Alguns produtos são mais baratos e o frete fica muito caro. Outros produtos são bem caros e é bem difícil conseguir realizar a venda. As pessoas não costumam valorizar o trabalho manual”, conclui.