Mulheres se destacam no setor de tecnologia, apesar dos obstáculos

Projetos como Mulheres da Telecom e Meninas Poderosas buscam incentivar a participação feminina na área

Anabelle Amorim

Postado em 08/04/2024

Segundo pesquisa da YouGov Global Profiles, publicada em 2023, apenas 7% dos profissionais nas áreas de TI e Telecom no Brasil são mulheres. Embora atualmente sejam minoria no setor, elas se destacam na área, lidando com dificuldades, alcançando posições de destaque e trabalhando para incentivar a participação de outras mulheres na área da tecnologia.

Os setores de TI e Telecom são responsáveis por manter o Brasil conectado | Foto por Marcelo Moreira

Para Priscila Araújo, os obstáculos começam antes do início da carreira. A desenvolvedora de negócios digitais e gestora de projetos acredita que a falta de incentivo ao raciocínio lógico e solução de problemas para as meninas é uma barreira para a participação feminina na carreira. “Os meninos são expostos a esse pensamento desde a infância. Eles recebem desafios que vão fazendo com que eles se projetem muito nessas áreas. As mulheres precisam desse estímulo também”. 

Priscila, que cresceu em uma cidade do interior, vê que ingressar na área foi um desafio, principalmente devido à educação que recebeu. “Foi difícil trabalhar na faculdade essa questão do cálculo, que era algo que eu não tinha construído desde a infância”. Ela vê que sua sede de crescer na área a permitiu aprender sem medo e que a colaboração de seus colegas, professores e empregadores foi muito importante para seu desenvolvimento. “Eu consegui me projetar e fui abraçando as oportunidades.”

Tamara Martins, engenheira em Eletrônica especializada em sistemas de comunicação móveis, enxerga que os obstáculos continuam após a graduação. A visão antiquada de que apenas homens trabalham na área muitas vezes causa situações desagradáveis. “Às vezes eu chegava em alguma vistoria em alguma empresa que eu tinha que fazer e questionavam minha presença, perguntando onde estava o homem”. Porém, ela vê em sua qualidade profissional uma forma de lidar com as críticas. “Sempre foquei em dar meu melhor como profissional e conseguir fazer as coisas. Não me deixo pensar que por ser mulher eu não poderia estar fazendo aquilo”.

Virgília dos Santos Rodrigues, gerente de projetos de tecnologia da informação (TI), já passou por incômodos por ser uma mulher que trabalha na área. “Enfrentei e enfrento até hoje muita coisa, desde salário abaixo de salários de homens, como assédio”. Para ela, essas são situações que se repetem no ambiente de trabalha, mas que não podem ser deixadas de lado. “Muitas vezes deixamos muita coisa passar. Porém, em determinados casos, é importante a mulher se posicionar, se não nunca será ouvida.”

A permanência das mulheres na área de TI e Telecomunicações (Telecom) é um desafio melhor enfrentado em comunidade. É o que pensa Tamara Martins, cofundadora do Mulheres da Telecom, projeto criado para dar mais voz e visibilidade às profissionais da área. “O que a gente faz é mostrar que qualquer profissional tem capacidade para se desenvolver e atuar na área. Esse tipo de conexão tem ajudando a dar mais voz e espaço para as mulheres que já estão dentro desse segmento, que é bem machista e mais masculino”.

As mulheres podem ser a aposta do futuro do setor

Com o crescimento da indústria de Tecnologia da Informação e Comunicação, cresce também a necessidade por profissionais. Segundo uma pesquisa de 2021 feita pela Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), há a projeção de um déficit anual de 106 mil profissionais formados na área por ano. Entre 2021 e 2025, isso significará a falta de 530 mil profissionais no mercado. 

Para Priscila Araújo, a representatividade pode incentivar meninas a buscar a profissão | Foto por Anabelle de Amorim

As mulheres, que correspondem a 13,3% das matrículas nos cursos presenciais de graduação na área de Computação e Tecnologia da Informação e Comunicação, segundo o Censo da Educação Superior de 2019, são parte da demografia que pode suprir a demanda do setor. “A participação feminina que temos agora é fruto do trabalho das mulheres das décadas de 1980 e 1990”, afirma Priscila Araújo. “Agora nos temos que trabalhar para incentivar mais mulheres. Isso começa na infância e se reforça na adolescência, para que elas possam crescer com a ideia de que esse é um lugar delas”.

Araújo busca incentivar essa percepção nas mulheres e meninas ao seu redor. Ela lidera a comunidade de usuários da Cloud AWS em Brasília, auxiliando na criação de eventos de tecnologia para profissionais de TI, como, por exemplo, o evento para mulheres em TI AWSome Women em Belo Horizonte, no dia 9 de março de 2024. Em 2021, ela realizou outra iniciativa, o projeto Meninas Poderosas em sua cidade natal, Itacarambi, no interior de Minas Gerais. O evento, que durou dois fins de semana, trouxe mulheres empreendedoras e lideranças para inspirar as jovens da cidade. “As meninas puderam ver figuras femininas e se encorajar. Se empoderar”. Para ela, esse tipo de iniciativa é muito importante. “Nós vamos ver esses resultados daqui a algum tempo, mas já está mudando”. 

Para Virgília dos Santos, as mulheres devem continuar buscando seu lugar na profissão. “Estudem, sejam profissionais e deem o melhor de si, porque com certeza vocês terão seu reconhecimento”. Tamara Martins vê a resiliência como fundamental para as futuras profissionais da área. “Mantenham a cabeça erguida. Se esse é o sonho de vocês, não deixem ninguém impedir que ele seja alcançado”.