Os desafios de morar no exterior
Histórias de quem deixou suas raízes em busca de uma vida melhor
Postado em 09/05/2022
Segundo estimativas do Ministério das Relações Exteriores, tendo como base o ano de 2020, a quantidade de brasileiros que têm residência fora do país ultrapassa a casa dos 4 milhões. Alguns dos países que detêm o número mais significativo são Portugal, Japão e Estados Unidos.
A possibilidade de viver em outro país faz parte do desejo de muitas pessoas, principalmente em busca de oportunidades de emprego, melhoria na renda ou capacitação profissional. Mas essa não é uma decisão simples. Ir para o exterior, muitas vezes sem companhia e longe da base de apoio familiar, torna todo o processo ainda mais difícil e essas questões precisam ser consideradas por quem resolve se aventurar.
Conheça histórias de pessoas que tomaram essa decisão e quais desafios elas precisaram vencer para seguir conquistando objetivos mesmo estando longe de casa.
Pricilla Aragão, 29 anos, Quebec- Canadá
Pricilla mora há um ano e onze meses fora do Brasil e conta que esse sempre foi seu desejo porque já estudava idiomas há algum tempo. Seu esposo conseguiu um trabalho inicialmente na Polônia e depois foi transferido para o Canadá. Durante todo o processo da mudança ela contou com o apoio da família.
Uma das barreiras enfrentadas nessa transição foi o idioma. “Embora eu já tivesse estudado, foi um desafio, pois o sotaque daqui é bem diferente da França, então tive que dar um passinho para trás e estudar de novo”. Em Quebec, a língua mais falada é o francês e, segundo Pricilla, o governo paga para que as pessoas estudem o idioma.
Alguns dos pontos que devem ser observados ao trocar de país, segundo a experiência da jovem, é o tempo de espera para a resolução das etapas referentes à imigração, as despesas e a mudança no estilo de vida, o que pode significar a necessidade de retroagir na carreira.
Mesmo sentindo falta da família, dos amigos e de prazeres simples como consumir produtos tipicamente brasileiros, ela não pensa em voltar para firmar moradia. “Os impostos aqui são bem altos, mas vale a pena pelo investimento que o governo faz em segurança, educação, saúde, etc”.
Amanda Cristhine, 29 anos, Sydney- Austrália
Amanda reside fora do país há pouco mais de três anos. A decisão de viver no exterior era inicialmente voltada para estudos e tinha prazo de validade, três meses. Contudo, passado esse tempo, ela se apaixonou pelo estilo de vida: “A forma como me sentia segura em qualquer lugar mesmo estando sozinha”. Outras questões que colaboraram com a decisão de permanecer no país foram a possibilidade de trabalhar, estar em contato com novas culturas, boa qualidade de vida e por não ter uma diferença extrema entre as classes sociais, ainda que estas existam.
Ao optar pela mudança, Amanda considerou além da possibilidade de estudar e trabalhar, o clima, que não fosse frio o ano todo. Mas sua decisão não agradou imediatamente seus familiares. Ela conta que o maior incentivo veio do irmão. O restante da família tinha medo porque ela estaria sozinha, em um país desconhecido e sem dominar o idioma. Contudo, apesar do receio inicial, eles não deixaram de oferecer apoio.
De certo modo, a preocupação da família dela, tinha fundamento. Amanda conta que um dos fatores que mais dificultaram a adaptação no país foi o idioma. Por não conseguir se comunicar, ela se sentia engessada para crescer profissionalmente e para se integrar melhor à cultura. Outra questão era a necessidade de lidar com os trâmites relacionados ao visto de permanência no país.
Os costumes locais também foram um ponto de desafio para sua ambientação . “As pessoas aqui são mais fechadas e não tão expressivas quanto nós, brasileiros. Raramente você ouve música muito alta, australianos acordam e dormem muito cedo; então, a maioria dos eventos acabam antes da meia-noite”.
Apesar da saudade da família e dos amigos, não existem planos no momento para voltar a viver no Brasil. Ela está conseguindo se estabelecer, estudar e tem ganhos maiores do que teria retornando ao país, mesmo trabalhando em outras ocupações que não sejam relativas a graduação concluída em sua terra natal (Direito). Com o aperfeiçoamento do idioma, ela conseguiu aproveitar algumas matérias e iniciou os estudos no mesmo curso, agora na Austrália.
Entre os fatores que novos residentes devem considerar, diante de sua experiência, estão a cultura, as possibilidades de visto e a saudade de casa. “Tem dias que vai ser normal, mas tem dias que vai doer profundamente estar longe de pessoas que você ama tanto”.
Luana de Almeida, 25 anos, Portugal
A brasileira mora em Portugal há pouco mais de 2 anos e conta que entre os principais motivos que a levaram a optar pelo processo de emigração estão a falta de oportunidades profissionais e acadêmicas e a desigualdade social. No processo de escolha do país, ela considerou a possibilidade de viver legalmente e teve total apoio da família.
Entre as principais dificuldades do início da jornada relatadas por Luana, estão a aquisição dos documentos necessários para permanência em Portugal, encontrar um local para moradia e a entrada no mercado de trabalho em sua área de formação. Com essas questões resolvidas, após aproximadamente um ano, ela já passou a considerar o país como lar.
Como as outras entrevistadas, ela também sente falta de seus familiares, mas não pensa em voltar definitivamente ao Brasil. Para aqueles que também têm como objetivo a mudança de país, ela afirma que é importante considerar que a vida vai começar do zero em todos os aspectos. “De uma hora para outra você não tem mais família, nem amigos, nem carreira profissional. Começa sendo ninguém”. Mesmo nesse ambiente que parece tão desfavorável, Luana diz que aos poucos tudo vai se reconstruindo, mas que é necessário ser resiliente e paciente.
Robson Bonin, 32 anos, Itália
O professor de italiano já vive fora do Brasil há três anos. Ele optou por realizar a mudança porque não se sentia feliz no trabalho e parecia difícil recomeçar a carreira em outra profissão. A descendência italiana ajudou na escolha do país e ele contou com o apoio integral dos seus familiares.
Sobre os obstáculos referentes a adaptação, as mais marcantes estão ligadas ao clima, pois o inverno é muito diferente do que ele estava acostumado no Brasil, e sobre à cultura: ” Tenho certa dificuldade em criar amizades mais concretas na Itália”.
Robson sente falta da família e, diferente das outras entrevistadas, pensa em voltar a morar no Brasil. Permanecer vivendo na Itália por um período ainda mais longo não faz parte dos seus planos. “Já sinto isso em três anos, acredito que renunciar isso por muito tempo não será saudável para mim”.
Com relação as questões que podem ser observadas para quem sonha em seguir este caminho, o professor dá algumas dicas: viajar para o país a turismo em um primeiro momento, buscar alguma maneira de imersão cultural e utilizar plataformas de trabalho voluntário que permitam que a pessoa sinta de forma mais próxima a experiência de morar em outro local antes de tomar a decisão definitiva sobre a mudança.