Projeto social prepara meninas para o futebol profissional

A partir do Xtreme, atletas alcançam times maiores

Estefania Lima

Postado em 27/05/2024

“Éramos 9, agora já passamos de 70 garotas”, diz Joelson Barbosa, treinador do time Xtreme, um projeto social nascido no Riacho Fundo 2 e que completou três anos de existência em abril. O Xtreme é um projeto que incentiva meninas de todas as idades a praticarem futebol ao mesmo tempo em que proporciona oportunidades de crescimento no esporte para as que sonham em ser jogadoras profissionais um dia. 

Viana e Clélia. Foto por Estefania Lima.

Kleidson Viana, conhecido apenas como “Viana”, é um dos que está à frente do projeto. “a iniciativa já tem mostrado muitos resultados positivos para as meninas, tanto dentro quanto fora de quadra”. O treinador Joelson também aponta melhoras e completa que responsabilidade e respeito são valores inegociáveis para pertencer à equipe: “Muitos pais vieram aqui me dizer que depois que as filhas começaram a frequentar os treinos elas tiveram uma melhora significativa no boletim escolar. E eu também aviso: ‘se tiver dando trabalho, não tiver indo bem na escola, não vai jogar’”.

A atleta e capitã do time, Rayssa Saraiva, de 17 anos, conta que o Xtreme partiu da iniciativa das meninas. “Antes do Xtreme, a gente era de outro time, mas aí ficamos sem treinador. A gente conversou com o Joelson e sugeriu dele formar uma própria equipe. Ele topou, e aí fomos com ele”, explica a capitã. Joelson relembra que no início tiveram muitos problemas, como desconfiança por parte dos pais das garotas, preconceito por parte de algumas atletas por causa da orientação sexual de outras do time, mas que, aos poucos, foram chegando mais e mais meninas para a equipe. 

O projeto abraça meninas e mulheres de todas as idades, sem discriminação. Tem atletas de 12 até os 52 anos, como é o caso da Clélia Dias, moradora do Caub 2 e integrante do projeto desde o seu início, em 2021. “Sempre pratiquei esportes, principalmente futebol. Aqui dentro [da quadra] me sinto uma menina de 22”, comenta. Muito competitiva, Clélia participa regularmente das competições.

Projeto também é degrau para alcançar times maiores

O sonho de muitas dessas meninas é um dia assinar com times grandes. Felizmente, algumas delas já conseguem subir o primeiro degrau em direção a esse sonho a partir do Xtreme. A atleta Hanna Nycole, de 14 anos, é uma delas. Atualmente ela joga na categoria sub 15/17 pelo Cresspom (Clube Recreativo Esportivo Subtenentes Sargentos da Polícia Militar do Distrito Federal), uma das principais equipes do DF, mas começou lá atrás, com o Xtreme. Ela diz que focar no treinamento e reduzir o tempo presente com os amigos e familiares foi um grande desafio.

Atletas do Xtreme reunidas antes do jogo. Foto por Estefania Lima.

“O Xtreme foi minha primeira casa e a primeira casa a gente nunca esquece”, conta Julia Rocha, 14 anos, atleta da categoria sub 14 pelo Cresspom. Julia, nascida e criada em Samambaia, relembra que conheceu o projeto através de um colega. Ela começou a frequentar os treinos a noite e, eventualmente, foi participando de amistosos e outros campeonatos. Quando surgiu uma seletiva para o Cresspom, ela participou e foi selecionada. Julia também foi convocada para jogar a liga de desenvolvimento sub 14 da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no sul do país. “Foi minha primeira viagem, meu primeiro jogo fora de casa. Foi um momento único que eu nunca vou esquecer”, ressalta.

Para as atletas do Xtreme Jéssica Taveira, 19 anos, e Geovanna Menezes, 15 anos, relatos como esses das garotas agora no Cresspom as incentivam a continuar seguindo nesse caminho. “Se elas conseguiram, a gente também tem chance”, comenta Geovanna. Em breve acontecem o Futfem e o Adeff, competições potencialmente importantes para quem pretende ser visto por um olheiro e ser selecionado para um time grande. O Xtreme irá competir e as atletas já revelam estar “muito ansiosas”.

Cenário atual do futebol feminino no DF

“O futebol feminino cresceu assustadoramente. Antes, nem se falava nisso, agora, tem campeonatos regulares e times em várias regiões do DF. […] Hoje em dia, as meninas do Xtreme são sempre convidadas para competir”, conta Joelson. 

Osvaldo Almeida, coordenador de base do Cresspom, também destaca as competências do futebol feminino na capital: “Temos muitas meninas muito habilidosas, com muito potencial. […] Vimos a necessidade de trabalhar a base delas, para elevar o nível do futebol feminino do país”. A filha de Osvaldo é atleta, jogadora pelo Ferroviária. Ele diz estar “muito contente em ver as mulheres ganhando espaço e reconhecimento”, no entanto, também aponta a falta de apoio e patrocínio como um desafio significativo. 

A jogadora do sub 17 pelo Cresspom Gabriela Sousa da Silva destaca a escassez de infraestrutura adequada para treinamento e competições como outro grande obstáculo. A exemplo, a quadra onde as meninas do Xtreme treinam tem diversos buracos nas grades, o chão está bastante gasto e o gol de um dos lados da quadra teve que ser removido após cair em cima de um menino. Um dos espaços mais adequados para treinamento do time – o campo sintético na QS 20 do Riacho 2 – não possui pavimentação na rua e à noite fica totalmente inutilizado, já que não há qualquer iluminação no campo.

Futebol feminino tem crescido no DF, mas ainda há muito o que melhorar em infraestrutura. Foto por Estefania Lima.

O aniversário

Desde cedo viam-se grupinhos de pessoas se juntando aqui e ali. Alguns para assistir, outros para competir. Ao lado da quadra coberta no Caub 2 – onde foi comemorado o aniversário – estava montada uma tenda com uma caixa de som e uma mesa expondo as medalhas e troféus que iriam ser entregues naquele dia e, claro, o bolo – massa de chocolate, cobertura de chantily e coco ralado e decorado com frutas em cima. 

A comemoração mesmo começou às 9h e foi até às 18h. Tiveram competições de vôlei, futsal e até queimada. Motoclubes e carros automotivos também marcaram presença por lá. Além de muito esporte, também teve prestação de serviço gratuito ao público, como exame de vista e atendimento jurídico. Alguns também aproveitaram para montar um bazar de roupas e outros objetos.