Redes sociais amplificam ativismo pela beleza dos corpos reais
De acordo com a ABPS (Associação Brasil Plus Size), o mercado de roupas com tamanho a partir da numeração 44 ou da etiqueta GG cresceu 21% entre 2019 e 2021.
Postado em 06/05/2022
A moda plus size vem ganhando destaque no mundo fashion. Ela está nas capas das revistas, desfila nas passarelas das semanas fashion do mundo todo e aparece nos catálogos de grandes agências e marcas. Rompe padrões e define um território que por décadas lhe foi negado. Em alta, a moda plus size reflete a valorização do corpo gordo e livre, cada vez mais mostrado nas redes sociais e assumido pelos fabricantes de roupas. Quem ganha é a população de mulheres com manequim acima do 44, que passa a se identificar na publicidade e a encontrar variedade nas vitrines.
A quebra de barreiras ocorre em meio a preconceitos contra pessoas gordas que ainda são muito arraigados na sociedade. Uma pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), e, fevereiro de 2022, por exemplo, mostrou que a gordofobia está presente na rotina de 92% dos brasileiros. Trata-se de um problema que enfrenta desafios semelhantes ao do combate ao racismo e à homofobia. A gordofobia causa manifestações ignorantes e ataques às marcas que tentam se adaptar com mais rapidez.
Ana Paula Onselen (@anapaulaonselen), começou a modelar depois de participar de concurso de beleza plus size, em 2019. No começo fazia trabalhos para marcas que atendessem o seu manequim. Ana Paula ainda conta que ser modelo nunca foi sua primeira opção, durante a adolescência, até brincava com a possibilidade. A vontade veio foi após o falecimento de sua mãe, também gorda, para que pessoas com corpos parecidos com o dela e o com seu se sentissem representadas.
Ela também conta que ainda enfrenta dificuldades, principalmente porque muitas marcas plus size não atendem tamanhos maiores. “A dificuldade começa a partir do momento em que a grande maioria das marcas não produzem roupas que vistam gordas maiores”, conta Ana Paula. “Poder mostrar para a mulher que está em casa, com vergonha de sair na rua, que seu corpo existe. Que vestir 60+ não é exclusivo dela e isso não é uma aberração como a sociedade nos julga. Tudo compensa quando você recebe uma mensagem contando o quanto a nossa imagem dá força a outras mulheres.”, finaliza, sobre as vantagens de ser modelo pluz size. Além de modelo, Ana Paula também é fotógrafa e criadora da @upcriativehome.
Para Thais Carla(@thaiscarla), criadora de conteúdo digital, a parte mais difícil ainda é lidar com os comentários em suas postagens. “Eu sei o que sou e eu adoro ser o que sou! Mas me incomoda que, algumas pessoas venham ao meu perfil apenas para criticar a minha vida ou o meu estilo de vida”, conta.
Fora isso, diz que é muito gratificante posar para uma marca de roupas plus size, roupas que antes nem sonhava existir. “Liberdade, essa é a palavra que define o que eu sinto quando eu penso nas marcas de roupas plus size, liberdade de ser quem eu sou, sem restrições nem medo. Uma marca que me dá autoestima, que vai muito além de uma roupa. Não tem nada melhor do que você se sentir abraçada e acolhida em uma lugar”, comenta.
Gabriela Caroli(@gabicaroliplus), também é modelo plus size. Já fez várias campanhas para marcas famosas, mas também já sofreu para encontrar roupas do seu tamanho. “Por ter os seios muito grandes, era difícil achar sutiãs, tops e biquinís que ficassem bons. Até que fui convidada para representar uma marca de lingerie plus size. Foi uma surpresa maravilhosa, principalmente por representar mulheres que sofrem com o mesmo problema que eu”, conta Gabi.
A Wonder Size (@wondersizebr) surgiu depois que uma de suas criadoras não conseguia achar roupa plus size para fazer exercício, daí a ideia de montar uma loja virtual. “No começo foi muito difícil, até porque ainda existem pessoas com a mentalidade de que gordo não se exercita. Mas no fim deu tudo certo e hoje a Wonder está indo muito bem e cada vez mais clientes aparecem e agradecem por encontrarem uma leggin, por exemplo, que não fique transparente’, conta Amanda.
O maior espaço ocupado por modelos com diferentes tipos de corpo e as reivindicações por representatividade no mundo fashion tem gerado reflexos positivos na indústria de vestuário. De acordo com a ABPS (Associação Brasil Plus Size), o mercado de roupas com tamanho a partir da numeração 44 ou da etiqueta GG cresceu 21% entre 2019 e 2021. No mesmo período, as fabricantes de roupas de tamanho padrão tiveram queda superior a 5%. De acordo com a entidade, 25% das lojas de varejo de roupas possuem em suas prateleiras tamanhos plus size.
Grandes marcas nacionais, como Marisa, Malwee e Duloren, apostam em linhas exclusivas feitas apenas com números plus size. E muitos fabricantes já começam a produzir peças de numeração maior que a padrão para outros públicos além do formado por mulheres, gerando identificação entre homens, jovens e idosos gordos. Tais dimensões fazem com que o segmento seja avaliado atualmente no país em R$ 7,6 bilhões, segundo a ABPS.
Saiba mais
O assunto não é nada novo. Na década de 1970, importantes agências internacionais já tinham em seus elencos modelos definidas como plus size. O início da onda das roupas desenhadas para corpos gordos é ainda mais antigo. Remonta à campanha da marca americana Lane Bryant “for the stout women” (“para mulheres corpulentas”, em tradução livre), criada em 1920, quando os catálogos ainda usavam ilustrações em vez de fotografias. Contudo, foi apenas nos últimos anos que modelos com dobras e estrias de uma mulher real saíram da posição de ínfima minoria e ganharam os holofotes.