As placas que orientam os caminhos de Brasília

A sinalização padronizada da cidade foi implementada em 1978, apenas 18 anos depois da inauguração; antes não havia padrão

Reportagem multimídia

Postado em 19/04/2022

A sinalização de Brasília é algo que, além de chamar atenção dos turistas, é motivo de orgulho para os brasilienses. As placas se tornaram parte da identidade visual da cidade, além de manterem motoristas e pedestres informados e localizados ao andar pela capital do país. Brasília completa 62 anos no dia 21 de abril e as placas continuam sendo um ícone e destaque da cidade aniversariante.

Em 1975, Danilo Barbosa, arquiteto da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), designer e avô das placas, como gosta de ser chamado, diante da total falta de padronização e precariedade da sinalização de endereçamento em Brasília, elaborou uma proposta para um novo projeto. 

Em outubro do mesmo ano, foi assinado um convênio entre a Codeplan e a Secretaria de Serviços Públicos do Governo do Distrito Federal (GDF) e o arquiteto selecionou profissionais e montou uma equipe com arquitetos, engenheiros e designers, iniciando os estudos preliminares, até abril de 1976. Após essa etapa foi desenvolvido e detalhado o projeto final que foi concluído em dezembro de 1976 e durante o ano de 1977 até meados de 1978, a equipe detalhou e acompanhou o processo de implantação da sinalização.

Na época em que as placas foram projetadas, não havia uso de tecnologias para a arquitetura e design, mas, ainda sim, tudo saiu conforme o esperado. “Os esboços (foram) feitos à mão e as artes finais desenhadas na prancheta. O único recurso utilizado foram ampliações e reduções fotográficas de letras e desenhos”, declarou Barbosa.

Além de serem ícones da capital federal, as placas cumprem o seu objetivo principal: manter as pessoas localizadas. Carolina Almeida, 20, mora em Brasília desde que nasceu, mas as dificuldades para andar na cidade não diminuíram por isso e as placas fazem parte do seu dia a dia. “As placas de sinalização, para mim, se tornaram extremamente importantes quando eu comecei a dirigir. Eu sou muito desorientada e não sabia chegar nos lugares quando estava dirigindo sozinha e ficava 100% ‘refém’ do Waze, até que um dia ele parou de funcionar e, hoje, eu só uso a ajuda das placas para me localizar.”

A cor de cada placa possui um significado diferente. Danilo Barbosa explica: “O fundo verde e as legendas em branco são os sinais direcionais, qual o caminho a seguir. O fundo azul com legendas em branco são sinais que indicam o local onde se está. Posteriormente, foram incorporados os sinais turísticos com fundo marrom e legendas em branco, tanto para direcionais, como para as identificações locais. Esta codificação turística é internacional.”

O designer gráfico, Kaio Oliveira, diz que em grandes centros urbanos e locais com grande fluxo de circulação de pessoas, como é o caso de Brasília, o design gráfico vai além da estética. “Ele é capaz de apresentar novas formas de mobilidade, trazer informação e construir uma relação melhor entre espaços e pessoas, além de estabelecer a própria identidade visual da cidade”, completa.

Bárbara Castro, 22, é turista em Brasília durante as férias e diz ter se encantado com a organização e padronização na cidade. “A cidade de onde eu venho não possui placas sinalizando em cada lugar em que eu estou. Apesar de Brasília ser gigante e cheia de nomes esquisitos, as placas me guiam para o local que preciso ir. Além de deixarem a cidade bem mais linda”, comenta.

A participação no Museu de Arte Moderna

Em 2010, começou o processo de apresentação do projeto ao The Museum of Modern Art (MoMA), o Museu de Arte Moderna de Nova York. O diplomata do Itamaraty, André Corrêa do Lago, como membro do Comitê  de Arquitetura e Design do MoMA, procurou Danilo Barbosa para apresentar o projeto para avaliação do Comitê, mas deixando claro que os conselheiros são muito exigentes nas avaliações e que poderiam recusar a aceitação do projeto.

Foram preparadas duas apresentações e o conselheiro solicitou enviar uma peça representativa do projeto. Em junho de 2012, o comitê avaliou e aceitou a peça enviada para o acervo permanente do museu. A peça escolhida foi o totem que orienta as superquadras sul 107/307 e 108/308. 

Placa que orienta as superquadras sul 107/307 e 108/308, escolhida para o MoMA/Foto: Arquivo Pessoal

“É o único projeto de sinalização urbana, até então, aceito pelo comitê do museu. É muito importante para Brasília, pela sua condição de Patrimônio Mundial, receber este reconhecimento de um dos museus mais importantes do mundo. Contudo, reafirmo o que sempre ressalto, o maior reconhecimento para o projeto, sem dúvida, é reconhecimento por parte da população, o que o tornou um ícone da cidade”, diz Barbosa.