Batalha da V1: O palco da rua que salva vidas de adultos e crianças
No Paranoá, movimento artístico apresenta artistas independentes em praça pública. Evento acontece toda segunda-feira e já reuniu até 200 pessoas
Postado em 19/03/2024
As batalhas de rima são manifestações artísticas popularmente conhecidas por reunirem pessoas apaixonadas pela cultura hip-hop e compositores de freestyle, os MC. A dinâmica é bem simples: basta ser criativo, bom na arte de rimar e ter coragem para se apresentar em público. As disputas são individuais e vence o que mais cativar a atenção da plateia.
A Praça da Bíblia, na Quadra 21 do Paranoá, é o palco da competição. Em clima amistoso e com uma recepção calorosa, os espectadores se dividem entre pessoas comuns e os MC que participam das batalhas. Há quem goste e, também, quem esteja só de passagem. Isabelle Taynara, 15 anos, conta que andava por ali e sempre via o movimento: “Comecei a conversar com as pessoas e gostei. Futuramente, a minha vontade é de competir; já estou treinando para isso’’.
O público, composto por adultos e crianças, é bem entusiasmado. Paulo Santos, mais conhecido pelo nome de batalha, Dushaenne, tem apenas 13 anos e participa ativamente do movimento. A inspiração para o nome vem de um filme no qual o personagem principal é um menino que cresceu na favela e teve seu talento reconhecido. Para ele, estar nas batalhas de rima é como um trabalho que envolve dedicação e compromisso.
Rodrigues MC, organizador da disputa, comenta que o que há de mais interessante na cena é a participação, cada vez mais comum, dos espectadores: ‘’É gratificante colher os frutos do que nós plantamos um dia, e poder ver que hoje somos bem representados, independentemente do que as outras pessoas pensam’’. Quando perguntado sobre a visibilidade, ele ressalta que os projetos ficam na comunidade e que conseguem impulsionar o movimento para outras regiões graças às publicações em redes sociais, já que a batalha da V1 – que tem esse nome em referência ao número da quadra em que a disputa é realizada, sendo V a inicial do número 21, e 1, o final -, especificamente, acontece toda segunda-feira, às 20h.
Andrielly Rochelly, de 20 anos, conhecida como Dry, é fotógrafa e entrou para a organização há dois anos. ‘’Eu fico nos bastidores, faço a lista, tiro fotos dos MC, puxo um ‘grito’, e vez ou outra apresento a batalha. Eu aprendi bastante com a música, com o ritmo, e tudo o que envolve o universo artístico da escrita”, afirma. O hip-hop abre portas, salva vidas. O que eu aprendo hoje, posso passar para alguém amanhã e vice-e-versa. Assim a gente cresce junto’’, acrescenta.
Liberdade de expressão, acolhimento e união
Felipe ‘‘Dupe’’ tem 17 anos e se interessou pela batalha depois de ver um anúncio nas redes sociais. Movido pela curiosidade e pela liberdade de falar e também de ser ouvido, se encontrou no movimento. ‘’Aqui é o lugar onde venho para desabafar e me expressar, sem medo de ser julgado’’, completa.
Marcello Humberto, é MC cultural. Segundo ele, tudo começou com os desenhos, e logo depois o grafite, que o introduziram na cena underground. Hoje, aos 24 anos, afirma sem medo de errar: ‘’O rap é compromisso, mas também é união’’.
Igor “Yang Priv”, de 23 anos, começou a acompanhar as batalhas de rima pela internet e hoje é MC e artista independente. ‘’Eu sempre tive algo dentro de mim que eu não conseguia expressar; achei isso na música. Fui incentivado a participar do movimento por amigos. Comecei a primeira vez e me encantei. Aqui, todo mundo é bem aceito’’, comenta.
Falta reconhecimento, empatia e incentivo
Luiza Fonseca tem 20 anos e conta que conheceu as batalhas ainda criança, quando assistia as transmissões pelo YouTube: ‘’Cresci com MC BMO, rapper e compositor de freestyle, que ganhou destaque na cena de São Paulo. Também gostava de acompanhar a Batalha da Aldeia e a Batalha do Tanque, tudo pela internet. Só tive a oportunidade de ir pessoalmente anos mais tarde, em 2023; desde então, não parei de acompanhar a cena local’’, afirma.
Apesar da diversão, público e participantes da batalha, afirmam: não há incentivos governamentais e o movimento acaba sendo malvisto por quem está de fora, já que não tem visibilidade e nem apoio. Porém, quem participa, tenta fazer o possível para mudar essa realidade.
SERVIÇO:
Praça da Bíblia, Quadra 21 do Paranoá
Toda segunda-feira, às 19h30
Entrada gratuita