Cheerleading, de animação de torcida à esporte profissional

País tem vários pólos de treinamento, ginásios bem equipados e competições específicas

Ana Estigarraga

Postado em 09/05/2024

Superando limites, conquistando sonhos / Reprodução: Ana Estigarraga

O cheerleading é um esporte que envolve animadores de torcida, também conhecidos como cheerleaders. Ele se originou na Inglaterra e foi posteriormente popularizado nos Estados Unidos para animar a torcida durante os intervalos dos jogos. Com o tempo, o cheerleading evoluiu de uma atividade de entretenimento para se tornar um esporte.

A União Brasileira de Cheerleaders (UBC) oficializou os grupos de cheerleaders no país em 2009. Bruna Corrales, uma das sócias do time Brasília Xtreme e atleta de cheerleading desde 2010, destaca que o esporte tem experimentado um crescimento significativo nos últimos 15 anos.

A evolução do cheerleading no Brasil tem sido marcada por uma transição para a profissionalização. Embora ainda não haja atletas profissionais recebendo patrocínio para treinar exclusivamente, o esporte tem ganhado reconhecimento e estrutura. Ginásios equipados têm surgido em todo o país, funcionando como empresas e atendendo a uma crescente demanda. “Temos alguns pólos fortes, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Uberlândia, Paraná e Minas Gerais, incluindo cidades como Valorizonte e regiões do interior paulista”, cita Bruna.

Ela, que fez parte da confederação por muitos anos, observa que o Nordeste está em um processo de crescimento, seguindo uma curva ascendente.

Um exemplo é o CheerFest, um campeonato que contou com a participação de mais de cem equipes em sua última edição.

“O cheerleader foi reconhecido como esporte pelo Comitê Olímpico Internacional em 2021 nas Olimpíadas de Japão, em Tóquio. Não faz parte dos Jogos Olímpicos, mas ele é reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional. No Brasil, esse ano, ele foi reconhecido pelo Comitê Olímpico Brasileiro. Então, esse também já é um grande avanço”

A possibilidade do cheerleading ser incluído nos Jogos Olímpicos em 2028, nos Estados Unidos, já não está em pauta. Apesar disso, as federações nacionais continuam a lutar pela inclusão em futuras edições. Bruna diz que a visibilidade proporcionada pelos Jogos Olímpicos é crucial para o esporte, abrindo portas para patrocínios e reconhecimento profissional. A atleta destaca a necessidade de desmistificar o cheerleading. “Temos uma diversidade de modalidades, indo muito além do tradicional cheerleading de sideline com pompom”.

Reprodução: Ana Estigarraga

No Brasil Xtreme, o foco é no cheerleading desportivo, que envolve competições e acrobacias, diferenciando-se do cheerleading escolar, mais comumente associado às torcidas em jogos. Bruna ressalta que o cheerleading desportivo é um esporte complexo, comparável à ginástica, que requer muito treino e dedicação.

Um dos principais estereótipos enfrentados pelo cheerleading é a hipersexualização da mulher, que é associada ao esporte de forma negativa. Bruna reforça a importância de mostrar a verdadeira essência do esporte, que oferece benefícios físicos, mentais e emocionais aos praticantes.

Treinamento e pressão

O cheerleading demanda o uso de todos os grupos corporais e exige treinadores capacitados tanto em educação física quanto dentro da especificidade do esporte.

Reprodução: Ana Estigarraga

O cheerleading é um esporte acessível a todos. Para os iniciantes, os obstáculos são mais físicos, exigindo que eles desafiem seus corpos. Já para os atletas mais experientes, o maior desafio é a falta de incentivo financeiro. Como não há patrocínio para atletas de alto nível, eles precisam custear suas próprias competições. Bruna mencionou que os atletas gastam, em média, R$17 mil para participar do campeonato mundial da ICU nos Estados Unidos.

Além disso, a conciliação entre treinamento, trabalho e estudo é outra questão enfrentada pelos cheerleaders de alto nível.

No que diz respeito aos critérios e padrões de julgamento, Bruna explicou que o cheerleading é um esporte amplo, com várias vertentes. Há o cheerleading escolar acadêmico, que representa entidades e não é competitivo, e o performance cheer, mais focado em dança. O julgamento nas competições de cheerleading é regido pela ICU e pela IASF, que estabelecem as regras para competições de países e para a All Star Federation, respectivamente.

As competições são divididas em categorias que consideram idade, gênero (coed e all girl) e nível de habilidade (do nível 1 ao nível 7). As notas são dadas com base em um sistema de pontuação, dividido em diferentes critérios. É um sistema regulamentado, que requer estudo e compreensão técnica para julgar corretamente.

Precisão e sincronia: a chave para o sucesso! / Reprodução: Ana Estigarraga

Uma das integrantes da equipe Brasília Xtreme, Fabrícia Mendes, 25 anos, pratica cheerleading há 15. “O cheer é um esporte completo que abraça qualquer pessoa, independentemente de idade, altura, peso ou sexualidade”. Mas para ser um cheerleader de alto nível Fabrícia explica que é necessário trabalhar várias áreas, como elevações, pirâmides, saltos, tumbling e dança. No Brasil Xtreme, equipe em que atua, os treinos têm uma carga horária de quatro horas semanais, além das aulas extras de tumbling e flexibilidade.

Suas aspirações no esporte incluem elevar o cheerleading ao alto rendimento e torná-lo um esporte olímpico. Apesar do reconhecimento como uma instituição federativa pelo COI, ela acredita que ainda é necessário reforçar a ideia de que o cheerleading é um esporte legítimo e competitivo, e que a meta final é competir nas Olimpíadas.