Como alinhar produtividade e bem-estar sem cair na “hustle culture”
Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) revela que 70% dos alunos que adotaram métodos como Pomodoro e Matriz de Eisenhower relataram um aumento significativo em sua concentração.
Postado em 08/04/2025
De acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome de burnout, uma doença ocupacional reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022, sendo o segundo país com o maior número de diagnósticos, de acordo com a International Stress Management Association (Isma).

Muitas pessoas acabam buscando formas de serem mais produtivas sem cair na armadilha do “hustle culture”, um termo utilizado para se referir a filosofia de alta produtividade a qualquer custo, logo, métodos como Pomodoro e Matriz de Eisenhower surgem como estratégias para aumentar a eficiência sem comprometer a saúde. De acordo com um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), 70% dos alunos que adotaram essas técnicas relataram um aumento significativo em sua capacidade de concentração e eficiência.
Maria Eduarda Dias de Sá, estudante da UnB (Universidade de Brasília), passou a utilizar algumas técnicas depois de se sentir sobrecarregada com a faculdade. Ela conheceu após a recomendação de um professor a Técnica Pomodoro, que consiste em dividir suas atividades em blocos de trabalho ativo e blocos de descanso: “Antes, eu estudava 6 ou 7 horas seguidas e, praticamente, não via resultados. Era exaustivo e eu sentia como se não tivesse absorvendo nada do conteúdo.” Maria conta que, agora, seus estudos são muito mais proveitosos e eficientes sem que ela precise se desgastar demais.
A aluna também passou a utilizar metas SMART, sigla em inglês para técnica que define a elaboração de objetivos “específicos, mensuráveis, atingíveis, relevantes e temporais”, que pode auxiliar na autocobrança excessiva. Outro método muito utilizado por estudantes e trabalhadores é a Matriz de Eisenhower, que consiste em uma técnica para definir a urgência e a relevância dos afazeres, auxiliando na priorização daquelas mais importantes, evitando o gasto desnecessário de energia com atividades que terão pouco retorno.
A psicanalista clínica Myriam Dias reforça que a produtividade não deve ser confundida com estar constantemente ocupado. “Acho que a pergunta inicial a ser feita é: ‘O que é produtividade?’ e acredito que as respostas serão pessoais, da mesma maneira que sucesso também é um conceito pessoal. Momentos de ócio e lazer também produzem algo, não necessariamente de valor monetário”, explica. Ela ressalta que o excesso de trabalho contínuo é prejudicial à saúde mental e que o cérebro precisa de pausas para processar as informações vividas e aprendidas. “Muito tempo contínuo de informação gera uma desconcentração e precisamos da pausa para reorganizar tudo internamente e voltar ao estímulo.”
Produtividade saudável: adaptações e limites

Lívia Castro, vestibulanda de Medicina, sempre procura novas formas de otimizar seus estudos e, aos poucos, encontrou o que melhor funcionou para ela: “Eu uso o método Pomodoro de uma hora, então eu estudo uma hora seguida e descanso 10 minutos, então eu vi que funcionava pra mim. Outra coisa que me ajuda é não ficar no celular nessa pausa, prefiro ler um livro, tomar água, levantar, procurar outras coisas, nada de celular, porque quando a gente tende a descansar, é preciso descansar a cabeça também.” A estudante percebeu a necessidade de fazer ajustes na própria rotina para lidar com as dificuldades específicas: “Eu precisava reorganizar a minha rotina de acordo com as minhas dificuldades e não me baseando nos outros.”
Lívia também conta que começou a utilizar salas de estudo on-line para motivar mais seus estudos. “Eu fiz uma sala no Discord pras pessoas poderem ligar a câmera e se sentirem menos sozinhas, porque esse processo de estudo pode ser muito solitário. Então, pelo fato do meu Instagram atingir vários vestibulandos, eu acabei criando essa sala e eu senti que essas pessoas se sentem mais empolgadas para estudar, porque, realmente, traz uma sensação de presença dos outros.”
Ela ainda comenta como busca preservar a saúde mental evitando gatilhos comuns nas redes sociais: “Eu evito muito ficar olhando muito as redes sociais, já que eu sigo muitas páginas de estudos, porque eu sei que eu me comparo e cada rotina é uma rotina. Eu sei que o melhor é o que eu dei naquele dia e eu fiz o que eu pude. Então quando a gente entende que tem que fazer aquilo que tá no nosso controle, que tá ao nosso alcance, tudo muda.”
Myriam Dias aponta que estratégias como organização da rotina e inserção de pausas estratégicas podem ser grandes aliadas na melhora da produtividade. “Organização e rotina são fundamentais, nos ajudam a ter uma base para realizar as tarefas necessárias. Pausas ao longo do dia, uma sugestão é a cada 1 hora e 30 minutos de atividade fazer uma pausa de 15 minutos, são essenciais. E separe momentos para o seu descanso e o seu lazer, coloque na agenda e busque cumprir”, aconselha. Para ela, é melhor traçar metas reais e possíveis do que tentar resolver tudo de uma vez e acabar se frustrando.
Por fim, a psicanalista alerta sobre os riscos da busca incessante por resultados. “O excesso de produtividade espaçado já pode nos afetar mentalmente, o contínuo mais ainda. O ponto exato de perceber que está nos afetando é pessoal, mas podemos tentar reconhecer alguns sinais: insônia, ansiedade fora do usual, irritabilidade, excesso de cansaço, entre outros.” Ela reforça que é importante respeitar os próprios limites e lembrar que outras áreas da vida também demandam atenção. “Horas extras devem ser exceção, não regra.”