Ao longo da vida, as mulheres decidem se querem ser mães ou não. Nenhum método contraceptivo é 100% eficaz, portanto, pode acontecer uma gravidez indesejada. Mas, quando estão grávidas elas conseguem se planejar: montar quarto, descobrir o sexo do bebê, comprar enxoval, fazem pré-natal, exames e criar um vínculo com essa nova vida. Seu corpo começa a mudar também, o primeiro sintoma costuma ser o atraso da menstruação, seguido de enjoos, alterações hormonais, aumento e dor nos seios e entre outros. Mas, na gravidez silenciosa não é bem assim. 

A gravidez silenciosa é quando a mulher engravida mas não tem sintoma algum; algumas não têm sequer alterações no corpo. É um caso raro e incomum, mas que pode acontecer com qualquer mulher. Uma pesquisa divulgada pela revista servia Medicinski Pregled mostra que o fenômeno pode acontecer com 1 em cada 7.225 mulheres que descobrem a gravidez apenas no momento de dar à luz. Já em 2002 a British Medical Journal publicou que, em 2.500 gestações, pelo menos uma será silenciosa. É mais comum entre mulheres obesas, fisiculturistas, que fazem uso de drogas ou excessivo de álcool, mas também pode acontecer de ser um problema emocional, falta de conhecimento do próprio corpo, social. Quem tem ovários policísticos pode achar comum a falta de menstruação também. 

A médica ginecologista e obstetra Dra. Anna Luisa Mesquita explica sobre a gravidez silenciosa: “Mulheres que não percebem a gravidez são geralmente adolescentes, porque muitas vezes não conhecem o seu corpo, não entendem sobre regularidade menstrual, ou não observam algumas alterações que a gente tem. Como também algumas que são um pouco acima do peso, porque uma das principais características quando a gente tem uma gravidez mais avançada é o aumento abdominal, então uma paciente que está acima do peso às vezes não vai perceber essa alteração”. A médica explica que algumas vezes, essa paciente que tem obesidade já tem um ciclo menstrual irregular e isso poderia parecer normal e justificar a não percepção da gestação. 

A pesquisa divulgada pela revista servia Medicinski Pregled mostra que a gravidez silenciosa pode ocorrer de três formas:  

1º – Não tem nenhum sintoma de gravidez nas primeiras 20 semanas, isso acontece com 1 mulher a cada 475; 
2º – Nenhum sintoma até a segunda metade da gestação, isso acontece com 1 a cada 2.455 mulheres;
3º – Não ter sintomas até o parto, acontece com 1 a cada 7.225.

O fato aconteceu com a fotógrafa e designer Lorena Marins. Na época, foi um grande choque para ela e sua família. “Quando eu tive relação eu usei camisinha e pílula do dia seguinte, e eu descobri bem depois que a pílula do dia seguinte não funciona em pessoas acima de 80 quilos, e como eu tenho mais que isso, não fez efeito. Ao longo da gestação eu não tive sintomas, não tive mudanças no corpo em questões de barriga e menstruei. Minha rotina era muito intensa, me sentia um pouco mais cansada mas nada fora do normal. Eu fiz tatuagem, fiz progressiva, bebi, fumei, fiz tudo que diziam que grávida não podia fazer. Eu tenho problemas com cólicas que são frequentes até hoje, de ir para o hospital. E quando eu fui para o hospital achei que era outra cólica, e foi quando a médica falou que eu estava grávida e eu comecei a passar muito mal, minha pressão estava alta. Eu não fiz pré-natal então eu tive que fazer todos os exames na hora, teste de aids, de hepatite.”

Lorena também relata a gordofobia que sofreu por parte da equipe médica: “Eu sofri muita violência obstétrica lá na hora, muita gordofobia. Eu tive muita dificuldade na hora do parto por conta das vitaminas que não tomei, por conta de não saber da gestação. Foi um parto muito difícil”. A fotógrafa informa pelo fato dela ser grande e gorda o bebê ficou por trás da camada de gordura do corpo. Outro tipo de gordofobia sofrido por ela foi o fato de não poder fazer cesárea por conta de seu peso. Por não ter passagem, precisou fazer episiotomia que é o corte entre a vagina e o ânus: “Eu sofri bastante nesse sentido, pelo fato de ser gorda”, completa.

A gravidez silenciosa pode ser descoberta com 20 semanas, dias antes do parto ou até mesmo na hora de dar à luz. Nos casos descobertos no momento do parto, pode ser um fator de risco para a mãe e o bebê, já que o pré-natal não é realizado, não tem estímulo para o leite e então muitas delas não conseguem amamentar. É importante que toda mulher conheça seu corpo e seu ciclo menstrual. “Uma pessoa que não percebe mudanças no seu corpo são pessoas que não conhecem o que é normal, então se o seu normal é uma menstruação regular todo mês, a partir do momento que ela atrasa, é um sinal que está acontecendo algo”, diz Dra. Anna Luisa.