Exposição a telas: estímulos visuais e auditivos podem interferir na prática da linguagem em crianças
Atualmente, 95% da população de 9 a 17 anos, o que equivale a 25 milhões de brasileiros, faz uso da internet
Postado em 16/04/2024
O acesso cada vez mais precoce e frequente das crianças ao uso de dispositivos eletrônicos tem levantado preocupações relacionadas ao desenvolvimento da fala e da linguagem infantil. Com o uso excessivo de telas e a presença constante das redes sociais no cotidiano das famílias, os pequenos estão sendo expostos a uma quantidade significativa de estímulos visuais e auditivos que podem interferir na prática da linguagem. Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil, realizada desde 2012, com uma coleta de dados entre maio e julho de 2023, foi identificado que atualmente 95% da população de 9 a 17 anos, o que equivale a 25 milhões de brasileiros, faz uso da internet.
Para Amanda Bernardes, psicóloga infantil especialista em análise comportamental clínica e neuropsicologia, há uma redução da interação verbal quando a criança fica menos propensa a interagir verbalmente com outras crianças e adultos, limitando habilidades linguísticas como falar e ouvir.
“É importante ter em mente que o meio social, ou seja, a interação com outras pessoas, é o grande responsável pela aprendizagem de habilidades que são necessárias para a nossa sobrevivência. Ao focar nas telas e em demais dispositivos eletrônicos, a criança perde a oportunidade de entrar em contato com outras pessoas no mundo real, e é a partir desse contato que desenvolvemos capacidades sociais como: a empatia, simpatia, compreensão, tato ao lidar com as pessoas e a própria regulação emocional diante de frustrações”, conta.
Integração de tecnologia na infância
A sociedade Brasileira de Pediatria reitera que as tecnologias estão sendo usadas para preencher vácuos, como ócio, tédio, necessidade de entretenimento, abandono afetivo ou mesmo pais “ultraocupados”, muitas vezes, com seus próprios celulares.
A fala infantil surge a partir de imitações, da mímica facial, dos movimentos de lábio e língua e, por fim, da imitação de sons. “Quando a criança está concentrada exclusivamente em meios eletrônicos, não será demandado dela que fale, assim não terá estímulo o suficiente para que comece a verbalizar. Além disso, alternando sua atenção visual e auditiva para os dispositivos, ela retém menos informação”, relata a psicóloga.
Naiara Atinaê, mãe de uma criança com Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC), tomou a decisão de não expor seu filho mais velho às telas até os 12 anos de idade. Quando o transtorno de Gabriel foi diagnosticado, ele ainda não havia sido alfabetizado. Devido à situação, Naiara e a esposa optaram por iniciar o tratamento do TPAC sem interferências durante o processo de alfabetização de Gabriel.
“Antes disso, a gente queria que nossos filhos vivessem de forma mais lúdica, explorando mais a criatividade. Isso deu certo. Eles eram crianças que exploravam os lugares, faziam de um pedaço de madeira um brinquedo, jogavam muita bola. E isso se reflete até hoje nas preferências deles, pois eles são do tipo de crianças que trocam a tela por uma bola na rua com os amigos na hora”.
A importância da participação ativa dos pais no processo de fala
É essencial incentivar a interação verbal na substituição dos aparelhos eletrônicos, para garantir o desenvolvimento adequado da fala e da linguagem infantil. Os pais podem incentivar os filhos a participar de atividades que envolvam interação social, como atividades criativas, atividades ao ar livre e jogos. Também podem colocar a criança em contato com outras pessoas e verbalizar durante a interação. É fundamental que os pais sejam modelos positivos na manutenção das habilidades sociais e linguísticas das crianças.
A médica pediatra Luciana Tonussi Arnaut afirma que é ideal que haja a participação ativa dos pais no processo de desenvolvimento da fala. “Os pais precisam estar juntos da criança, acompanhar, interagir com ela e fazer comentários. Para equilibrar o uso de dispositivos eletrônicos, os pais podem adotar estratégias de estabelecer limites de tempo, priorizar atividades interativas e educativas, modelar comportamentos saudáveis de uso de tecnologia e garantir momentos de interação verbal e social sem dispositivos.
A pediatra também explica que, dos 2 aos 5 anos, é recomendado que as crianças utilizem dispositivos com uma limitação de até 1 hora diária. Já para as crianças de 6 a 10 anos, de uma a duas horas por dia. Lembrando que este tempo máximo de exposição não deve ser contínuo, mas sim fracionado.