Mulheres seguem quebrando tabus e conquistando espaços no jiu-jitsu

O esporte feminino foi legalizado em 1970, 56 anos após a chegada no país, mas a prática feminina dentro dos campeonatos começou apenas 15 anos depois

Reportagem multimídia

Postado em 07/04/2022

Mesmo com dificuldades, as mulheres vêm conquistando seus espaços nas academias e campeonatos de luta / Foto: Arquivo Pessoal

A luta das mulheres para conquistar o espaço dentro do esporte é algo que vem crescendo nos últimos anos. O jiu-jitsu chegou ao Brasil no ano de 1914 e nos primeiros anos do século 20, a prática era de exclusividade do gênero masculino. Nos tempos atuais, a mulher continua tendo dificuldade de ingressar no esporte e ter o mesmo reconhecimento e respeito. O jiu-jitsu feminino foi legalizado em 1970, porém, elas apenas entraram nos eventos em 1985.

Por ser mulher, muitas lutadoras são invalidadas, termo usado quando lhes são tirados o mérito ou a importância, seja da luta ou do campeonato que foi disputado, principalmente no início da carreira. O direito de lutar, seja por lazer, para se profissionalizar ou apenas para se proteger, continua sendo um tabu, mas as mulheres vêm conquistando seus espaços nas academias e campeonatos de luta. 

Yvone Duarte, 58, foi a primeira mulher faixa-preta do Brasil e do mundo e hoje segue sendo a primeira e única faixa-coral (vermelha e preta), conquistando a maior graduação na história do esporte feminino. Ela começou a treinar jiu-jitsu em 1979, juntamente com seu irmão. Dentro de casa, Yvone teve o apoio de seus pais, mas fora de lá, sofreu com o machismo. “O começo no jiu-jitsu feminino é cercado de dificuldades para nossa participação. Não havia competição, havia poucas mulheres, não tinha academias que abriam turma para as mulheres, não tinha apoio das academias e federações”.

Leticia Rocha, 18, começou a participar de campeonatos aos 15 anos e relata que já sofreu machismo ou foi invalidada durante a sua carreira. “Não de forma escancarada, mas, muitas vezes, somos invalidadas ou subestimadas por sermos mulheres. Por exemplo, é comum escutarmos frases dizendo que vai lutar com ela (mulher) para descansar”, declara. 

Ela já participou do campeonato brasileiro, um dos mais importantes do mundo e que foi um divisor de águas na vida da profissional. Muitas vezes, sofre retaliação dentro do tatames, mas segue lutando pela representatividade feminina no esporte. ”A cada dia eu sinto que eu estou ocupando mais o meu espaço”, diz Letícia. 

Autocuidado e autoproteção

Quanto mais mulheres no jiu-jitsu mais mulheres empoderadas e capazes de se defender / Foto: Arquivo Pessoal

Além da representatividade no esporte, o jiu-jitsu também é essencial para o autocuidado e a autoproteção. Giovana Alves, 23, começou a praticar a modalidade por indicações de profissionais da saúde para que ela começasse um esporte, por causa de um distúrbio alimentar. “Eu comecei o jiu-jitsu porque estava doente e ele foi uma das minhas curas”. Atualmente, Giovana é faixa azul e também traz o alerta sobre a defesa pessoal: “Quanto mais mulheres no jiu-jitsu, teremos mais mulheres empoderadas e capazes de se defender”. 


Sobre o espaço da mulher no esporte, Giovana declara: “A representatividade é justamente colocar uma mulher num lugar onde as pessoas dizem que é só para homem”. Giovana é um exemplo para sua filha Maria Antônia, 4, que já pratica judô e tem vontade de começar no  jiu-jitsu, além de incentivar as mulheres ao seu redor.