Na UnB, jogos de RPG são utilizados para tornar alunos protagonistas da aprendizagem

O ensino lúdico é utilizado não só para transferir conhecimentos, mas também para criar um ambiente de interação e inclusão

Anabelle Amorim

Postado em 16/04/2024

A Universidade de Brasília (UnB) oferece para seus alunos a possibilidade de aprender de forma lúdica por meio da metodologia de Role-Playing Game (RPG). O projeto do departamento de Psicologia, criado pelo professor Domingos Sávio Coelho em 2019, busca ensinar conteúdos para os alunos com o uso de jogos interpretativos que incentivam a criatividade e a proatividade do estudante no processo de aprendizagem.

A ideia do uso do lúdico na educação não é recente, sendo discutida por teóricos clássicos como Piaget e Vygotsky já na década de 1960, mas costuma ser reservada para o ensino básico. Para o professor Domingos Sávio, porém, existe espaço para esse tipo de ferramenta no ensino superior. Ele vê que o uso do RPG em sua sala de aula cria nos alunos um novo tipo de relação com a educação. “A criança aprende muito porque ela não tem inibição para inventar e imaginar. O RPG traz isso. Ele faz a pessoa se sentir mais à vontade, o que é fundamental para a assimilação de qualquer conteúdo”. 

O professor Domingos Sávio vê a metodologia como uma oportunidade para novas experiências | Foto por Anabelle de Amorim

O jogo interpretativo substitui as aulas expositivas nas matérias do professor, que conta com o auxílio de diversos monitores para a transmissão dos conteúdos por meio da condução de narrativas. As turmas, divididas em pequenos grupos, aprendem com histórias em que são os protagonistas de forma dinâmica e leve. Vinicius de Lucca Pimenta Barbosa Gomes, estudante de licenciatura em Letras- Português e um dos monitores do projeto, vê a diferença que a metodologia traz. “Os alunos tendem a se engajar mais com os temas propostos e é mais fácil de trabalhar a relação entre os textos”.

Eliza dos Anjos achou a metodologia desafiadora no início, mas a experiência foi gratificante | Foto por Anabelle de Amorim

Eliza dos Anjos Marques Silva, estudante de Design- Programação Visual, teve dificuldade em se adaptar ao jogo, mas logo se acostumou. “Foi no dia a dia que fui pegando o jeito da coisa, participando cada vez mais”. Para ela, esse envolvimento é o diferencial do método. “Em uma aula comum, o professor tem que instigar bastante para fazer o aluno participar. Já no RPG, se você não participa, fica muito alheio ao que está acontecendo e não absorve [o conteúdo] direito. Nós somos levados à participação ativa nessa construção [de conhecimento]”.

Além do maior envolvimento do estudante, o jogo traz diversos outros benefícios. Para Thaís Andrade Hastenreiter Ferreira da Silva, estudante de Artes Visuais, o acolhimento que encontrou na mesa a ajudou a lidar com a insegurança. “Eu morria de medo de cortar alguém e soar rude ou de não falar nada e parecer chata. No começo eu ficava super insegura e não conseguia aproveitar muito. Mas, para a minha sorte, todo o grupo era bem legal e eu consegui ficar bem mais confortável”. Para ela, aprender com a metodologia foi bem mais prático e uma ótima experiência.

Para o professor Domingos Sávio, o RPG é também uma poderosa ferramenta de inclusão. Ela permite que os alunos tragam para sala de aula aspectos de suas vivências que são muitas vezes ignorados, abordando coisas como religião, língua e cultura. Possibilita também uma integração mais orgânica de alunos com deficiências, que recebem um acolhimento mais completo e adaptações mais efetivas. “Minhas narrativas favoritas são as que produzem a inclusão e a inovação, que criam esses espaços para os alunos. É um desafio imenso trabalhar com essa aula que não é simplesmente expositiva e me conectar com os alunos, mas é algo muito gratificante”.

Como funciona o RPG

O RPG é uma atividade em que os participantes assumem papéis fictícios e colaboram para criar narrativas em um mundo imaginário. Os jogadores criam personagens com habilidades e características únicas e interagem com o ambiente apresentado pelo mestre do jogo, que guia a história. A narrativa é criada de forma colaborativa, combinando as decisões dos jogadores com a condução do mestre, resultando em uma experiência dinâmica e envolvente para todos os participantes.

Na UnB, a bibliografia do curso e os conceitos principais são inseridos na narrativa pelo mestre, se tornando parte da história. Os alunos, além de lerem os textos e participarem do jogo, produzem diversos trabalhos sobre a jornada dos seus personagens durante o curso, incluindo o conteúdo estudado e os eventos ocorridos nas produções.