A força do coletivo

Lojas colaborativas viabilizam negócios de artesãos e microempreendedores

Fernanda Rodrigues Ferreira

Postado em 08/06/2022

Você tem um produto, quer vender e não quer ou não tem como montar uma loja própria? A solução pode estar numa loja coletiva.

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, Sebrae, define a loja colaborativa como um negócio fundamentado nos princípios da economia colaborativa, que é o compartilhamento de um espaço físico para expor produtos e serviços de artesãos, microempreendedores individuais e pequenos negócios.

As empresárias e designer de moda da marca Adentro, Ana Luiza Olivete ,42, e Romilda Gomes, 43, conheceram as lojas colaborativas por indicação de amigos e em discussões sobre consumo consciente. A marca prega a simplicidade da moda real para pessoas reais.

O empresário e proprietário da loja colaborativa Markant, Victor Loureiro, 41, conta que conheceu o modelo de negócio como consumidor e viu que poderia trabalhar para muitas áreas diferentes. Por ser formado em publicidade e marketing, a parte de planejamento e criação o conquistaram. 

Já Luana Freitas, 36, comerciante e uma das sócias da loja colaborativa Endossa, conta que conheceu o sistema em São Paulo, no ano de 2010. ”Achei incrível, realmente me encantei com o modelo de negócio e acreditei que faria todo sentido em Brasília. Uma loja compartilhada era algo muito inovador”, diz. A Endossa está presente em quatro capitais, Belo Horizonte, Florianópolis, São Paulo e Brasília, onde tem três unidades.

As lojas colaborativas são uma excelente alternativa para divisão de custos. Foto: Banco de Imagens

E lucro, tem?

O lucro das lojas colaborativas vem por meio do aluguel de espaço. Há cobrança dos impostos devido à taxa de cartão, mas nesse quesito é mais para cobrir custos, não para ter um lucro propriamente dito. 

As empresárias da Adentro contam como tem sido: “É um investimento recente que fizemos, por isso ainda é pouco, mas enxergamos que há um grande potencial.” Elas acreditam também que é um modelo de negócio com grandes chances de expandir, pois é uma forma de reduzir custos em relação a ter uma loja própria. “É uma maneira de expor em lugares legais, uma vantagem de ter outros produtos de marcas parceiras chamando atenção e dividindo espaço, uma forma de movimentar as redes sociais em parcerias e valorizar o consumo consciente que prezamos com a Adentro”, contam.

Luana diz acreditar no poder da coletividade: “Poder compartilhar um espaço, as contas, os clientes em um espaço maneiro localizado em um ponto valorizado da cidade é bom pra todo mundo.”

Já Victor analisa que o modelo já foi mais interessante, talvez no momento em que ele surgiu. Ele diz que hoje todo mundo, por menor que seja, consegue vender diretamente ao público. “Quando as lojas colaborativas chegaram não era assim, era um canal para que pequenos empreendedores, para que artesãos vendessem seus produtos para um público que eles não tinham como alcançar; hoje acaba que a internet ajuda mais a marca individual do que a loja colaborativa” diz.

Ele conta ainda que há empresas adotando muitas lojas que não são lojas colaborativas em essência adotando uma certa colaboratividade, como uma maneira de reduzir custos: “As lojas disponibilizam alguns espaços para que algumas marcas entrem na loja, façam um pequeno investimento na loja, que na prática para ele significa reduzir os custos, lojas inclusive agora já estão surgindo com esse conceito.”

Artesãos, microempreendedores e estilistas compartilham do mesmo espaço, contribuindo para uma loja com diferentes produtos. Foto: Banco de Imagens

Funcionamento 

Luana conta que na Endossa o aluguel de espaço varia de acordo com o tamanho e localização da caixa. “Hoje temos aluguéis de $220 a $540 por período, equivalentes a quatro semanas. Passado o período inicial obrigatório de três períodos, as marcas renovam o contrato mês a mês. Fazendo um mix de produtos muito interessante todo mês.” 

Quanto ao perfil dos empreendedores, tanto os iniciantes quanto os mais consolidados procuram a Endossa. “Temos marcas que já chegam prontas. Com identidade visual, expositores e todas as estratégias de venda pensadas. Outras estão no começo. Tiveram a ideia de um produto, mas nem começaram a organizar os processos da marca. Nesses casos, a gente dá apoio e compartilha contato de profissionais que podem auxiliá-las nessa construção.”

Victor sinaliza que muitas marcas pequenas procuram as lojas colaborativas como se fossem magicamente multiplicar as vendas e não é esse o propósito. Ele reforça ainda que se a marca abrir uma loja própria ela vai ter que divulgar seus produtos e atrair seus clientes para lá. “É exatamente a mesma dinâmica com a loja colaborativa, a diferença é que ao invés de ela ter todo o custo de uma loja exclusiva dela, ela vai compartilhar esse custo com uma série de outras marcas. E que se todo mundo trabalhar direitinho uma acaba levando o cliente para conhecer a outra”, diz.