Abrigo de gatos mobiliza a população do Cruzeiro

Márcia Braz protege 90 gatos através de sua renda e da ajuda de pessoas próximas no sobrado de sua casa

Vinicius Vicente

Postado em 24/05/2022

Durante a pandemia, o abandono de animais domésticos no Brasil cresceu cerca de 70%, de acordo o projeto Ampara Animal. Dados apresentados pela Qualibest apontam que o número de cães nas ruas é maior que o de gatos, mas que a preferência na hora da adoção é maior pelos caninos, fazendo com que os bichanos dependam mais dos chamados ‘gatis’ e de seus protetores.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), até o fim de 2022, a população de gatos no país passará de 30 milhões, fruto do grande número de felinos que vivem nas ruas e que não são castrados. Em Brasília, cerca de 60% dos moradores tem pets, destes, de acordo com a Qualibest, apenas 38% são tutores de gatos.

Márcia Braz, moradora do Cruzeiro, aposentada pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade e proprietária de um brechó que montou na garagem de sua casa, acolhe 90 gatos no sobrado de sua residência. Márcia conta que tudo começou há 4 anos, quando ela, juntamente com 5 amigos, montaram uma operação para resgatar 70 gatos que viviam em situação precária na casa de um acumulador de animais. Hoje a aposentada cuida sozinha dos animais, alguns ainda do primeiro resgate, outros de resgates mais recentes, alguns devolvidos após a adoção e outros que foram deixados na porta de sua casa.

“O sobrado, que é a casa deles hoje, era para ser temporário, até achar um lar para todos”, conta Márcia, que atualmente gasta cerca de 3 mil reais com 80 quilos de ração, além da areia e a auxiliar de limpeza, renda que é fruto de sua aposentadoria e das vendas do brechó. “Os animais, quando entram aqui recebem todas as vacinas e exames, além de todos serem castrados, para que vivam em segurança”, explica a protetora.

Paula Dias, veterinária na clínica Dogtique, conta que atende Márcia há 2 anos na clínica e que o esforço e dedicação realizado por ela e por outros protetores é de extrema importância, pois ali os gatos recebem amor e cuidado. “Ela sempre leva os animais para consultas, vacinas e castrações solidárias, fazendo o controle populacional e sanitário na região. Isso é amor pelos animais”, afirma Paula.

A cuidadora, que além de tudo ainda faz parte de um projeto que alimenta e cuida de gatos de rua no Setor de Embaixadas Norte, mostra em sua rede social todas as vezes que algum dos bichanos faz uma visita ao veterinário. Ela conta que criou um novo perfi no Instagram, para postar fotos, nomes e história dos gatos e para procurar possíveis lares para os animais e pede ajuda na divulgação e compartilhamento do perfil, mas pede que a localização do abrigo não seja citada, pois, infelizmente, muitos animais já foram deixados em sua porta após a divulgação do local.

Márcia em seu brechó, montado na garagem de sua casa

Rede de apoio

“É um trabalho de importância social e claramente feito com muito carinho, já que todos os gatos estão muito bem cuidados”, explana Fernanda Monteiro, estudante de relações internacionais, que conhece o brechó a pouco mais de um mês. A estudante conta que possui apenas um gato, adotado, mas que, apesar de conhecer o abrigo há pouco tempo, pretende auxiliar nos cuidados pelo menos uma vez por semana, além de fazer doações sempre que possível.

Márcia também realiza ações entre amigos para custear os cuidados com os animais. Alex Rojas, jornalista peruano que está há 16 anos no Brasil, diz que participa das ações há 3 anos, contando que o brechó e abrigo são dois centros importantes da cultura e história do local. “Esse é um serviço humanitário. Aqui, ela (Márcia) dá mais do que pode através da caridade e serviço social”, aponta Alex.