Administração de Ceilândia quer transformar Galpão do Jovem de Expressão em estoque de medicamentos

O espaço abandonado por mais de um ano foi reformado pelo programa Jovem de Expressão para a realização de ações culturais e sociais | Crédito de imagens: Jovem de Expressão

Isadora Mota

Postado em 21/10/2021

Após passar por revitalização para dar espaço a projetos culturais e sociais, a Administração de Ceilândia pede a retomada do Galpão Cultural da Praça do Cidadão, localizado na cidade de Ceilândia Norte, para dar início a um estoque de medicamentos. Há 11 anos o local funciona como sede do programa Jovem de Expressão, uma iniciativa do Instituto Caixa Seguradora, em parceria com a Rede Urbana de Ações Socioculturais (RUAS). Com isso, a continuidade do programa fica ameaçada já que ele perderá sua sede física.

Depois de mais de um ano abandonado, o antigo posto policial foi reformado pelo Jovem de Expressão. Após a restauração, o galpão inaugurou salas de dança, teatro de bolso, estúdio audiovisual, galerias de arte, espaço para reuniões, palestras, aulas, cultos religiosos, terapias e várias outras atividades, e se tornou um lugar para promover a saúde social e a cultura para cerca de 500 jovens periféricos por ano. 

De acordo com a coordenadora do Jovem de Expressão, Rayane Soares, a equipe do programa ainda não foi notificada oficialmente sobre a solicitação do local, mas já está ciente de que existe um documento demandando o encerramento das atividades no Galpão Cultural. “Existe uma documentação doando o nosso espaço para uma farmácia”, explica. 

Como reivindicação, o grupo iniciou uma petição na internet para buscar assinaturas contra a suposta decisão da Administração. A campanha já reúne mais de 7 mil participantes e pretende chegar aos 10 mil. Rayane Soares reforça que a participação da sociedade é muito importante, pois o espaço é da comunidade. 

“Se a comunidade está com a gente, é sinal de que ela se utiliza desse espaço. O Jovem de Expressão é um dos únicos lugares na Ceilândia que trabalha com a juventude. A comunidade é bem carente de espaços como esse e o projeto tem muito a contribuir devido a essa escassez de ações e políticas públicas para o local”, esclarece a coordenadora. 

A Administração de Ceilândia não respondeu até a publicação desta matéria. 

Transformações para jovens periféricos 

Para Gabriela Pires, 24, fotógrafa, participar do programa fez com que ela encontrasse um lugar no mundo. Após ter sua primeira filha, aos 16 anos, a jovem desenvolveu uma depressão pós-parto por conta da gravidez precoce. Foi por meio do Jovem de Expressão que conseguiu se reerguer e encontrar uma chance de se reinventar. 

“A minha filha estava com 1 ano de idade e eu estava totalmente perdida. Parei os estudos, parei a vida por conta dessa gravidez precoce.  Eu estava estagnada, sem renda e o Jovem de Expressão me deu esse voltar a vida, me trouxe uma profissionalização”, compartilha Gabriela. 

Depois de se formar no curso de fotografia, oferecido gratuitamente pelo programa, a fotógrafa começou a cobrir eventos e grandes festivais no Distrito Federal: “Me ofereceram a formação e o meu primeiro emprego, através da cobertura de eventos. Durante uns quatro anos minha renda era toda por conta do Jovem de Expressão”. 

Além da promoção ao acesso à arte e cultura, o programa oferece oficinas de fotografia, audiovisual e empreendedorismo, cursos de profissionalização, aulas de pré-vestibular, terapias em grupo, aulas de dança, meditação e muito mais. O professor voluntário de Biologia do curso pré-vestibular do programa, Hudson Monteiro, conta que as ações oferecem ferramentas para o jovem alcançar carreira profissional, construir o portfólio ou conseguir o acesso até o ensino superior.

“São coisas que normalmente esses jovens não teriam acesso, mas como está situado na região da periferia, próximo de onde eles moram, de graça, a gente tenta trazer essa acessibilidade. O Jovem de Expressão está dando oportunidades para esses jovens”, explica o professor.