Alimentação saudável melhora a vida de quem tem endometriose

Ginecologistas e nutricionistas devem se aliar no combate à doença

Clara Montenegro

Postado em 26/03/2024

Uma dieta anti-inflamatória reduz os sintomas da endometriose e melhora a qualidade de vida das pacientes. Em 2021, um estudo holândes realizado por três nutricionistas e uma ginecologista e publicado no jornal “Reproductive BioMedicine Online” comprovou que uma alimentação saudável pode trazer benefícios para pessoas que possuem a doença. 

Em Brasília, a nutricionista Denise Samiri acompanha diversas mulheres. “Uma dieta equilibrada combinada com uma profunda avaliação nutricional é uma grande aliada no tratamento”.

Denise Samiari, nutricionista, recomenda uma dieta rica em alimentos anti-inflamatórios, redução da gordura corporal, quando necessário, uma avaliação da necessidade de suplementos, e compostos bioativos com atividade antioxidante. Foto: Clara Montenegro

Com essa mudança de hábito, as inflamações relacionadas à doença diminuem e a qualidade de vida da paciente aumenta. A redução do consumo de carne vermelha, gordura saturada, bebidas alcoólicas, cafeína e alimentos ultraprocessados é necessária, visto que são alimentos que podem aumentar o risco da endometriose.

De acordo com a nutricionista é recomendado o consumo de frutas, vegetais, gorduras poli-insaturadas (como o ômega 3), a ingestão adequada de cálcio e de antioxidantes, tanto para redução do risco, como na estratégia complementar ao tratamento da doença.

Existe também a indicação de suplementação de nutrientes e compostos bioativos antioxidantes, como vitaminas D, C e E, minerais como selênio e zinco, fitoquímicos e resveratrol que são benéficos no tratamento e prevenção da doença.

Para o ginecologista Marcelo Marinho, o trabalho multidisciplinar no tratamento da endometriose é imprescindível. “O melhor entendimento da evolução de um estado inflamatório abriu campo vasto para um enfoque multidisciplinar. Não apenas os tratamentos medicamentosos anti-inflamatórios e hormonais, mas também uma abordagem que leva em conta aspectos de estilo de vida, com atividade física regular, exposição ao sol, controle do peso e dieta equilibrada, tem seu lugar reservado.”

O ginecologista acredita na importância da nutrição e indica com frequência às pacientes o acompanhamento com nutricionistas. Mas, Marinho não deixa de lado a necessidade de consultas periódicas e outros tipos de tratamento dos sintomas, como atividades físicas, uso de medicamentos e mudança no estilo de vida. Por isso, é extremamente importante a ida ao ginecologista.

Mestre em ginecologia, Marcelo Marinho, lembra que a endometriose pode ter seu diagnóstico atrasado. “Estima-se que o tempo decorrido entre o início da doença até seu diagnóstico pode chegar a 10 anos, podendo representar risco enorme de lesões pélvicas, lesões tubárias e ovarianas, com sérias repercussões no campo da fertilidade”. Foto: Arquivo Pessoal

De acordo com o Ministério da Saúde, a endometriose é uma modificação no funcionamento normal do organismo em que as células do tecido que reveste o útero, o endométrio, em vez de serem expulsas durante a menstruação, se movimentam no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal, onde voltam a multiplicar-se e a sangrar. Isso cria endometriomas, que são inflamações e podem ir para diversas partes do corpo, como intestino e ovários. As causas da doença ainda não estão bem estabelecidas pela ciência.

No DF, cerca de 150 mil brasilienses são afetadas pela endometriose. Foto: Clara Montenegro

A endometriose é uma doença crônica, difícil de ser diagnosticada. Caso sinta sintomas como: cólicas fortes durante o período menstrual, dor durante as relações sexuais, dor e sangramento ao urinar e evacuar, especialmente durante a menstruação, fadiga; diarreia ou dificuldade de engravidar é essencial marcar uma consulta com o ginecologista para detecção precoce da doença.

Entretanto, a endometriose nem sempre foi tratada dessa forma e as informações não eram difundidas com frequência. Para Luísa Amorim, publicitária de 26 anos, a negligência dos médicos com os sintomas que ela sentia foi grande.

“Desde a minha primeira menstruação, sentia dores horríveis, cólicas que me faziam ir para o hospital, vomitava de dor, pressão baixava. Os médicos falavam que era algo normal e sempre me passavam anticoncepcional como solução, sem nem examinar a fundo o que eu tinha”. Luísa foi diagnosticada apenas em 2018 com endometriose, mesmo investigando e indo em médicos desde 2012. Agora, em 2024, os médicos que acompanham Luísa indicaram mudanças de hábitos, uma alimentação mais equilibrada com alimentos anti-inflamatórios. Depois de anos e o conhecimento mais a fundo de profissionais da área, a publicitária já sabe o melhor tipo de tratamento e como melhorar a sua qualidade de vida.

Luísa Amorim com a sua filha Maya. 50% das mulheres com endometriose possuem infertilidade. Foto: Arquivo pessoal