Brasileiros apostam no empreendedorismo para driblar o desemprego

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), nos primeiros seis meses de 2021 foram criadas 2,1 milhões de pequenos negócios | Créditos de Imagem: Agência Brasil

Isadora Mota

Postado em 28/10/2021

Com a chegada da pandemia, o desemprego passou a afetar parte significativa da população do Brasil. Em dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o primeiro trimestre de 2021 apareceu como a segunda taxa mais alta de desemprego desde o ano de 2012, atingindo um grupo de 14,8 milhões de pessoas. 

Como forma de driblar a falta de emprego e de renda, muitos decidiram começar a empreender e trabalhar por conta própria. De acordo com o IBGE, a taxa de informalidade no mercado de trabalho apresentou um crescimento de 2,4%, sendo alternativa para mais de 2 milhões de desempregados do país.

De acordo com o IBGE, faltam oportunidades no mercado para 33 milhões de trabalhadores no país/ Créditos de Imagem: Agência Brasil

O economista Riezo Almeida explica que são várias as questões que colaboram para a realidade atual: “É uma série de fatores, em especial, problemas agravados por conta, principalmente, da questão do orçamento público da União e da ausência de reformas tributárias e administrativas para gerar mais empregos”. O profissional também destaca a demora em relação à imunização contra a Covid-19 como um problema. Segundo ele, isso afetou a confiança de investidores brasileiros e internacionais e atrasou o processo de recuperação de empregos. 

Ivy Garces, 27, biotecnologista, estava fazendo um mestrado no País de Gales, localizado no Reino Unido, quando a pandemia começou. Após a conclusão de sua formação, a jovem voltou para o Brasil e entrou para a estatística do desemprego.  Como alternativa para seu sustento, deu início ao Vóces, uma empresa de vestuário e itens de decoração com temática científica.

“Empreender foi a única saída que eu vi. Principalmente, quando se trata da biotecnologia. Eu estava com a possibilidade de voltar para o Brasil sabendo que as vagas na área são poucas e não tem vaga em Brasília.  Empreender foi a alternativa viável para começar a ganhar dinheiro”, conta Ivy. 

Um levantamento feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostra que nos primeiros 6 meses de 2021 foram criados 2,1 milhões de pequenos negócios. O número é 35% superior ao registrado no mesmo período do ano passado e praticamente o dobro das empresas criadas em 2015.

Vóces

Apesar de ser a única saída para que muitos garantam a comida na mesa, os ganhos financeiros dificilmente entram de forma rápida: “Infelizmente, empreender é gastar dinheiro agora para você conseguir renda só no futuro. Minha empresa está com quase cinco meses e ainda não tive nenhum lucro”, explica Ivy. 

A Vóces é uma empresa de ecommerce que tem como foco o Instagram para gerar tráfego de vendas e engajamento com a marca e sua missão. Além de uma alternativa para gerar renda, o projeto tem o intuito de enaltecer os cientistas, valorizar a ciência e torná-la acessível a todos os tipos de público. 

Empreender é a melhor alternativa?

Para os desempregados, empreender pode ser uma alternativa viável como forma de sustento. De acordo com a gestora de Recursos Humanos, Beatriz Albarello, abrir a própria empresa contribui com a sobrevivência e sustentabilidade dos próprios trabalhadores. Em contrapartida, Albarello considera essa ideia de empreendimento atual como uma forma de “tapar o sol com a peneira” em relação à realidade do desemprego estrutural: “Eles [os desempregados] vão para o empreendedorismo como uma maneira de produzir e de ter algum tipo de independência e autonomia financeira ou de trabalho, mas não têm garantia de direito nenhum”.

Já para a situação econômica do país, se analisada de forma macro, o empreendedorismo pode trazer prejuízos a médio ou longo prazo. “O aquecimento do mercado em relação ao empreendedorismo é forjado, é um processo de alienação social na medida em que esse empreendedor, que desenvolve práticas de trabalho informal, não arrecada imposto ou não declara a sua relação de trabalho. O governo acaba não tendo recolhimento para dar sustentabilidade às políticas públicas e ao próprio sistema”, finaliza a profissional.