Brasília Basquete: o recomeço do time brasiliense

Com muitas vitórias e conquistas na história, a equipe brasiliense briga para voltar a ser uma das maiores forças do basquete brasileiro

Joana Lacerda

Postado em 07/05/2022

Em meados dos anos 2000, Brasília passou a contar com um time de basquete profissional. Na época, a equipe foi montada pela Universidade Salgado de Oliveira e começou a disputar o Campeonato de Brasília. No ano de 2003, o time conquistou o título da Supercopa do Brasil, o torneio que dava o acesso para o Campeonato Nacional. A partir daí, começou a fazer o seu nome na história do basquete brasileiro. 

Foram muitos títulos conquistados ao longo desses anos. Conquistas importantes tanto para a cidade, quanto para o Brasil. Porém, apesar dos grandes triunfos, a temporada de 2016/17 foi um período em que os tropeços da equipe se tornaram inevitáveis. Com o encerramento de um patrocínio importante, a equipe entrou em uma crise financeira e, consequentemente, passou por momentos complicados. Estando fora da competição do NBB (Novo Basquete Brasil) a equipe brasiliense precisou buscar forças para se reerguer. 

Mantendo o patrocínio com o BRB, em 2018 o time ressurgiu como “Brasília Basquete”. Com novas contratações e retornos importantes, recomeçou a caminhada para estar novamente entre as forças do basquete brasileiro. 

Títulos, triunfos e glórias

Estando na elite do basquete brasileiro, o Brasília Basquete alcançou bons resultados e, em 2004, conquistou o bicampeonato da Supercopa, o que garantiu a vaga no Nacional de 2005. O basquete de Brasília começou a ser reconhecido em todo Brasil e iniciou uma fase incrível. 

Arthur Belchor, ala do Brasília Basquete / Foto: Matheus Maranhão/Brasília Basquete

Em 2007, em uma disputa contra o Flamengo, o Brasília Basquete, que na época ainda se chamava Universo/BRB, atingiu uma marca que ainda não foi batida no Brasil. Foram 24.286 torcedores no Nilson Nelson, sendo o maior público já registrado no basquete brasileiro. Para o ala Arthur Belchor, nascido e criado em Brasília, foi muito legal olhar ao redor e ver tantos torcedores apoiando o time. “Eu saí de Brasília e não tinha nenhum time profissional e, de repente, ver tanta gente no ginásio! Eu percebi o tamanho que o público estava vendo essa conquista nossa de poder participar desse torneio e jogando em casa contra o bom time que era o Flamengo.”

Lula Ferreira, ex-técnico da equipe, conta que os torcedores de Brasília surpreendiam muito. “Foi um apoio gigantesco pro time. O Nilson Nelson lotado, um ginásio gigante, o público sempre comparecendo. E claro que a junção de ter jogadores ídolos como o Alex, Nenzinho, Valtinho, enfim, muitos jogadores que eram ídolos ajudaram para que a torcida também colaborasse e prestigiasse”. 

Lula, que hoje trabalha como supervisor técnico do Sesi/Franca Basquete, ainda continuou: “também teve um trabalho bem feito fora da quadra, com a direção montando condições para trazer esses jogadores e a torcida de Brasília teve um carinho enorme que perdura até hoje. E eu tenho um orgulho enorme de, toda vez que vou a Brasília, hoje como adversário, as pessoas reconhecem, aplaudem, e isso traz uma alegria muito grande para a gente”.

Ainda naquele ano, a equipe foi campeã Nacional. Na temporada 2008/09, conquistou a Liga das Américas no México, sendo a primeira equipe brasileira a ganhar o torneio. Lula Ferreira, que fez parte dessa vitória, conta que o momento de conquista é sempre muito importante, pois ali está um trabalho de muitas pessoas, como atletas, comissão técnica e dirigentes. “Você está ali como técnico, que é uma figura que chama atenção, mas está representando um trabalho de um grupo de pessoas muito grande”. 

“A final foi contra o time da casa, em uma partida em que o Brasília Basquete estava há 18 pontos. Tivemos uma virada espetacular e conseguimos esse título que muito honrou o basquete de Brasília. Porque foi a primeira conquista internacional do time e a primeira conquista de um time brasileiro na liga das Américas”, expressou o ex-treinador do time brasiliense.

Time campeão da Liga Sul-Americana 2010 / Reprodução: Alexandre Vidal

O recomeço

Arthur Belchor, ídolo dos torcedores do Brasília, chegou ao time em 2006. O jogador conta que chegou muito feliz, pois iria fazer parte do time da cidade em que nasceu e estaria perto da sua família e dos seus amigos. “Foi um marco muito legal na minha vida, é um privilégio jogar pelo time profissional da sua cidade e ser campeão. Então me sinto feliz e lisonjeado de ter essas conquistas e passagens por Brasília.” 

Em 2016, o ala foi jogar no Vitória, time de basquete da Bahia. Porém, não demorou muito para retornar ao Brasília e ajudar na reestruturação da equipe. Amado pela torcida, Arthur está sempre quebrando recordes. Em janeiro de 2022, o jogador chegou ao número de 5 mil pontos marcados no campeonato do NBB. “Esse recorde foi muito importante para mim porque, além de ter feito 5 mil pontos, uma marca importante, foi dentro de Brasília. Saímos com uma vitória contra o Fortaleza e eu consegui essa marca dentro da minha cidade, com todos os meus familiares assistindo. Foi uma noite especial, um sentimento que vai ficar marcado para sempre”, compartilhou. 

Gabriel Santos, armador do Brasília Basquete / Foto: Matheus Maranhão/Brasília Basquete

Gabriel Santos, 20, nasceu em Brasília e é um dos jogadores mais novos da equipe brasiliense. O armador conta que sempre priorizou o basquete em sua vida, algumas vezes até mais que sua família. “Tem que administrar sua vida pessoal e profissional. Mas eu, Gabriel, priorizo o basquete, abri mão de muita coisa pelo esporte”. 

O jogador chegou na temporada 2019/2020, enquanto o time se organizava para retomar as suas conquistas. Gabriel conta que passou por algumas dificuldades ao longo da carreira, mas não desistiu do esporte. “Era difícil sair para treinar, trabalhar e viajar. Mas nunca deixei a falta de dinheiro me atrapalhar. Graças a Deus eu tive pessoas boas na minha vida que me ajudaram e eu sou grato eternamente a todos”, compartilhou. 

O armador começou a jogar profissionalmente com 17 anos no Vasco da Gama. Em uma partida contra o Brasília, teve a chance de retornar à sua cidade natal.  “O time daqui queria que eu voltasse, mas, para jogar como profissional. Graças a Deus assinei o contrato, renovei e estou na minha terceira temporada”.

Recado para a torcida

Apesar de estarem em uma fase difícil, Arthur acredita que retornarão aos bons resultados. “Não estamos passando por uma boa fase agora, em questão de classificações e vitórias, não é uma fase muito vitoriosa. E a torcida está sempre apoiando mesmo nos momentos difíceis. Mas nós iremos voltar firmes no ano que vem. A torcida e a cidade merecem essa volta por cima”, afirma o ala.  

Gabriel completa dizendo que a situação dessa temporada não foi muito boa e poderiam estar melhor, mas, a torcida está sempre apoiando. “Tem a cobrança normal, de um torcedor apaixonado, mas querem realmente o nosso bem. Não tenho o que reclamar, estão sempre incentivando. A partida contra o Cerrado (08/04) foi na casa do adversário e eles lotaram o ginásio, sempre gritando e apoiando a gente. Com certeza a torcida é fundamental e tem muita importância nos jogos, tanto em casa, como fora.”

Lula Ferreira diz que tem esperanças e certeza de que o Brasília Basquete estará nas principais forças do Brasil novamente. “Felizmente, para o basquete brasileiro, a equipe de Brasília conseguiu voltar. E que o torcedor de Brasília não se deixe levar pelos resultados atuais, pois é um momento de retorno. O momento de retomada é sempre o mais difícil. Torcedor de Brasília, não deixe de acreditar que, sim, o Brasília vai voltar a ser uma das grandes forças do basquete brasileiro”, expressou.