Capital Cultural, Salvador será sede do primeiro CCBB da região Nordeste

Responsável pelo anteprojeto, o arquiteto Ulisses Papa apresenta características e inspirações do novo centro cultural

Vitor Lacerda

Postado em 28/04/2024

Salvador sediará o quinto Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB). Atualmente, existem CCBBs nas capitais Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, inaugurados nessa ordem. O Centro será onde atualmente se encontra o Palácio da Aclamação.

O Palácio da Aclamação pertence ao governo da Bahia, que o comprou por 30 contos de réis, em 1911, da viúva do comerciante Miguel Francisco Rodrigues de Moraes. O palácio neoclássico serviu de residência para os governadores por 55 anos, até 1967. Até então, o espaço era frequentemente locado para eventos e cerimônias de casamento, possuindo amplos espaços internos e externos e vista para o mar.

O Banco do Brasil, por meio de estudos, avaliou a possibilidade de criar um novo CCBB em diversas capitais e julgou que Salvador seria a melhor candidata. A escolha recaiu nesta cidade que tem uma cultura popular muito expressiva e rica. Além do Palácio do Aclamação, havia ainda algumas opções de possíveis localizações para a empreitada, na própria cidade de Salvador. Todavia, o Palácio da Aclamação, com sua bela arquitetura neoclássica, ou melhor, de estilo eclético, foi avaliado como um ótimo espaço para acolher as necessidades de um centro cultural, que abrange diversas artes, e assim o projeto começou a deslanchar.

Ulisses Papa, arquiteto do Banco do Brasil, encabeçou o projeto de restauro e refuncionalização do Palácio, bem como a proposta de novos anexos de linhas contemporâneas. Seu trabalho cotidiano, em sua maioria, envolve conduzir reformas de agências do Banco na região Norte e Centro-Oeste, nas quais, afirma ele, já busca elaborar com suficiente inventividade, mesmo dentro dos limites das diretrizes do Banco; afirma buscar “reforçar a imagem do Banco nas praças onde se encontra, em termos de atratividade estética, urbana e, por fim, negocial”. Nesse sentido, já em sua monografia de conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo, projetou um Teatro de Ópera (opera hall), e ao longo dos anos participou de alguns concursos públicos de projeto arquitetônico de museus e outros espaços culturais. Quando participava de um desses concursos, justamente o de um grande Teatro municipal, ouviu de um amigo arquiteto, que sua capacidade de trabalhar com escalas épicas era algo impressionante. E agora, sobre o projeto do CCBB, afirma: “me sinto muito à vontade fazendo um projeto dentro de escalas muito grandes; não foi de modo algum um sofrimento, ao contrário, houve tranquilidade e foi um grande prazer.”

O Projeto

O projeto, além de utilizar as instalações e espaços já existentes do Palácio da Aclamação e em sua área externa, ainda engloba a construção de novos anexos que abrigarão um teatro, cinema e um rooftop para instalações artísticas e cênicas e outros eventos, com vista para o mar, nos moldes de um espaçoso mirante. O teatro, pensado para abrigar peças teatrais e concertos, possui portas na parte de trás do palco, que possibilitam voltar-se para a área externa, na verdade uma praça, onde um dia teve início um jardim botânico com importantes espécies arbóreas, um lugar privilegiado, enfim, de onde a plateia poderá assistir espetáculos maiores, voltada ao palco de “portas abertas”.

O anexo modernista busca complementar a estrutura atual do palácio, preservando suas vistas e fachadas ao máximo possível. Além disso, busca dialogar com as praças adjacentes; a Praça da Aclamação, à frente da entrada principal, e o Passeio Público, aos fundos do conjunto do Palácio e novos anexos. Afirma o arquiteto que “a proposta arquitetônica, portanto, se reveste de ampla preocupação em bem relacionar o antigo com o novo, num diálogo fecundo e respeitoso sobre a história e o papel dos povos, nesta região e alhures, e os direcionamentos de futuro e visão de longo prazo, passando pelos desafios e alegrias que o presente nos proporciona.”

Dentre os espaços que existirão no novo CCBB estão:

  • Galerias expositivas
  • Cinema com 100 assentos
  • Teatro com cerca de 180 assentos, camarins, área de apoio, sala para ensaio e guarda de piano
  • Salas de programas educativos
  • Setor administrativo
  • Café
  • Lojinha de artigos culturais
  • Restaurante
  • Praças internas – contemporânea com maior intervenção paisagística, e histórica com preservação de caminhos e canteiros pré-existentes

O arquiteto

Entre suas influências, Ulisses Papa cita os brasileiros Paulo Mendes da Rocha e Gustavo Penna, e os ibéricos Rafael Moneo, Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura. Afirma que a capacidade desses arquitetos de criar “grande plasticidade com poucos recursos” é um dos nortes de suas concepções arquitetônicas. Além disso, possui ampla vivência, interesse pessoal e conhecimento de espaços culturais: “Não entendo muito isso de quem viaja para seguir um roteiro gastronômico ou para passar dias fritando numa praia (risadas), mas eu respeito. De minha parte, meu roteiro é cem por cento arquitetônico, gosto de visitar museus, casas de ópera, salas de concerto, palácios e catedrais… É uma vivência não só acadêmica ou livresca, mas real. Gosto muito desse mundo. Para desenhar um hospital, por exemplo, precisaria me aprofundar muito mais no assunto, porque não tenho vivência disso e não o domino.”

Tratando-se do novo CCBB em Salvador, Papa afirma que “como amante de todas as artes, me alegra imensamente concretizar o sonho de projetar e ver edificado um centro cultural, dentro de alguns anos, justamente numa cidade de riquíssimo contexto cultural, e que abrigará as artes visuais, cênicas, cinematográficas e musicais, e que trarão para Salvador e região toda a intensa programação dos CCBBs, já há décadas reconhecida nacional e internacionalmente.”