Capoeira Raça: um legado de luta, cultura e integração

Aulas gratuitas no Centro de Convivência de Idosos do Lúcio Costa preservam a tradição afro-brasileira

Ana Estigarraga

Postado em 07/05/2024

Mais que um esporte, uma manifestação afro-brasileira. / Reprodução: Ana Estigarraga

A capoeira, mais que uma arte marcial, é um símbolo pulsante da história e da cultura afro-brasileira. Sua trajetória, marcada por luta, resistência e transformação, nos convida a desvendar as raízes do Brasil.

No período colonial, a capoeira surgiu como uma forma de resistência dos negros, que disfarçavam sua prática inserindo elementos como mímicas, danças e músicas. Essa expressão cultural foi alvo de proibição no Brasil até 1937, quando finalmente passou a ser reconhecida como um símbolo da identidade nacional. Em um marco histórico, em 2014, a Roda de Capoeira foi oficialmente declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.

Em Brasília, se há um projeto que representa a ideologia e os valores da capoeira é a Associação Capoeira Raça, idealizada ainda na década de 1980 por Luis Oliveira Rocha, mais conhecido como mestre Medicina. Ele se envolveu com a prática na infância, passando por diversas escolas e grupos até fundar sua própria escola.

Corpo e mente em perfeita sintonia. / Reprodução: Ana Estigarraga

Em Brasília, o grupo Capoeira Raça estabeleceu-se em 2005, sob a direção dos contra mestres Fred Cachorrão e Aroeira. O grupo oferece aulas gratuitas nas terças e quintas no Lúcio Costa – Guará, e também no Areal. Além disso, o Grupo atua em 10 estados do Brasil, como Alagoas, Bahia, Maranhão, entre outros. Internacionalmente, o projeto possui grupos no Chile, Argentina, França, Espanha e Portugal.

Conheça o projeto

A associação Capoeira Raça se destaca pela sua abordagem didática diferenciada, que trata cada praticante como se fosse uma criança que está aprendendo tudo do início. Também valoriza a expressão feminina e reconhece a mulher por trazer uma perfeição orgânica ao movimento.

Para facilitar a integração com a comunidade local, as aulas são ministradas em áreas públicas, promovendo a cultura da capoeira de forma acessível e inclusiva. A didática flexível, com poucas regras, incentiva os praticantes a se sentirem à vontade para experimentar e decidir seu envolvimento na prática, sem imposições.

Além disso, o projeto enxerga a capoeira como um ciclo de revisitação da criança interior, buscando uma conexão com o movimento corpóreo livre. O projeto se destaca também pela sua visão acolhedora e coletivista, não se comparando a outros, mas sendo igualmente capoeira, valorizando as diferenças individuais de cada praticante.

Cultura, força e alegria em um só ritmo. / Reprodução: Ana Estigarraga

O contra mestre Frederico Benjamin, mais conhecido como Cachorrão, começou sua jornada na capoeira quando acompanhou dois amigos em uma graduação do Grupo Beribazu, renomado no Guará. Mesmo dedicando-se à natação na época, a capoeira chamou sua atenção. Quando se mudou para São Luís do Maranhão, Frederico encontrou seu mestre, Camberso Marinho, e, desde então, a capoeira tornou-se parte essencial de sua vida.

Para Frederico, a capoeira é mais do que uma arte marcial: é um estilo de vida, uma filosofia. “A capoeira vai além de movimentos acrobáticos e jogos de ginga. É uma manifestação cultural que une história, filosofia e comunidade, enraizada no coração de Brasília”.

Capoeira: para todas as idades e todos os corpos. / Reprodução: Ana Estigarraga

Frederico destaca que a associação beneficiou a comunidade do Lúcio Costa, promovendo a integração entre pais e filhos e a diversidade dos alunos, vindos de diferentes regiões de Brasília. Ele ressalta a natureza comunitária da prática, especialmente ao oferecer aulas gratuitas para pessoas acima de 55 anos no Centro Comunitário de Idosos (CCI).

Um evento importante para o grupo acontece em outubro: a semana do batizado, onde capoeiristas de diferentes origens se reúnem para celebrar e compartilhar suas habilidades e conhecimentos. A vaquinha realizada entre os membros da Associação é uma forma de apoio mútuo para viabilizar a participação de todos no evento. A escolha da cidade de Muritiba, na Bahia, como sede do evento nacional demonstra a importância de preservar e difundir a cultura da capoeira em todo o país e a valorizar a cultura afro-brasileira.

Um círculo de união e força. / Reprodução: Ana Estigarraga

Luan Eurich Oliveira, 20 anos, encontrou na capoeira uma forma de se conhecer melhor, abrir a mente para novas histórias e pessoas e descobrir uma fonte de felicidade. “O projeto oferece mais do que apenas a prática da capoeira, mas também a oportunidade de conviver, se envolver e buscar um crescimento pessoal”.

As aulas acontecem às terças e quintas-feiras, das 20h às 22h, no Centro de Convivência de Idosos do Lúcio Costa, no Guará. Para mais informações sobre os horários e as aulas, entre em contato pelo Instagram @raca_df.