Cinema tem sido usado como veículo para a promoção da cidadania

Através de produções, Academia do Cinema e Cinema nas Escolas abordam temas sociais e políticos em projetos

Larissa Barros

Postado em 14/05/2024

Alunos de Samambaia e Guará recebem aulas de cinema de forma gratuita. Foto: Arquivo Pessoal Gabriela Eleotério

O cinema é muito mais do que um entretenimento; a sétima arte, cada vez mais, tem sido usada como meio para abordar temas sociais e políticos como igualdade social, diversidade de gênero e a luta pelos direitos humanos.

O documentário “AmarElo – É Tudo Pra Ontem” (2020), disponível na Netflix, é um exemplo de como as produções cinematográficas podem abordar assuntos que retratam a cidadania e inclusão. Documentando o álbum de mesmo nome, de Emicida, o documentário explora a luta contra o racismo e a riqueza da cultura afro no Brasil.  

O cineasta Paulo Duro, coordenador do curso de cinema do Centro Universitário IESB, afirma que um povo sem audiovisual é um povo sem identidade. “O cinema permite muita reflexão. Através do olhar da história de alguém, da vivência de alguém, através de um filme, você consegue gerar uma nova possibilidade, uma nova reflexão da sua própria vida. O cinema permite essa transformação. A gente sempre fala que toda vez que a gente assiste um filme, a gente faz alguma coisa, nos transformando e nos modificando”, declara.

Em Brasília, a Academia de Cinema, uma marca da Hovart Films, é responsável pela produção de ações formativas na área do audiovisual. A academia enxerga o cinema como uma oportunidade de trabalho e de influência social. Nela, acontece um curso gratuito chamado “Imersão Audiovisual”, que oferece uma formação ministrada por cineastas brasilienses. Até agora, o projeto já contemplou 350 alunos com o curso, 18 curtas-metragens e pelo menos cinco ações formativas da Academia.

“Estamos trabalhando com pessoas que se identificaram e querem uma carreira no audiovisual. Oferecemos tanto cursos básicos, quanto específicos com profissionais consagrados no setor, para dar aos alunos os conhecimentos teóricos e técnicos para que possam se encontrar no mercado de trabalho”, explica Vittor Pinheiro, cineasta, produtor executivo da Academia e idealizador do projeto. O produtor afirma que o projeto consegue ajudar diversas pessoas, além de exercitar a cidadania.

Na Academia, há a inclusão de cargos de liderança para mulheres, equipes com pessoas portadoras de deficiência, pessoas negras e da comunidade LGBT+. Inicialmente, a Academia mantém como obrigação a presença de pessoas portadoras de deficiências e mulheres dentro da equipe. Durante o processo seletivo para as vagas do curso, metade dos selecionados são mulheres, enquanto a outra metade é composta por pessoas negras, pardas e indígenas, além de reservar 30% das vagas para alunos LGBT+.

“Incluir essas pessoas na cadeia de trabalho, dar oportunidade de estudo para elas e, claro, fazer o que tem sido feito como política cultural, de ter essas pessoas na tela. As pessoas com deficiência existem, elas precisam estar na tela dos cinemas. As pessoas negras existem, elas precisam estar na tela das séries. Pessoas LGBT+ existem, elas precisam aparecer na novela, precisam aparecer em vários lugares. Então, tem essa inclusão no produto final, é importante”, conclui Vittor Pinheiro.

Projeto Cinema nas Escolas promove cidadania 

Na Samambaia e no Guará, ocorre o projeto “Cinema nas Escolas”, idealizado por Gabriela Eleotério. A iniciativa visa instruir os estudantes da rede pública do Distrito Federal nas artes cinematográficas. No decorrer do curso, os alunos têm aula de direção, som, fotografia, direção de arte e edição. Gabriela destaca que os alunos absorvem, por meio desse programa, os conhecimentos que ela adquiriu durante sua formação em cinema e mídias digitais.

A cada semestre, os estudantes se empenham para produzir conteúdo diversificado, seja o conteúdo de vídeo para o YouTube, webséries e até mesmo vídeos para o TikTok. O curso não apenas ensina técnicas cinematográficas, mas também capacita as crianças a trabalharem também pelo celular, para que seja algo prático e aplicável no futuro. O objetivo é fornecer às crianças e adolescentes de baixa renda habilidades que possam ser aproveitadas como uma profissão sustentável.

“A ideia é que eles tenham vivência prática, em que depois de uma aula introdutória, eles possam usar da própria imaginação e em conjunto criar um roteiro do zero ou pegar uma câmera, que é um material que às vezes nunca puderam tocar e se aventurar em clicar cada botão para saber como funciona, reproduzir referências que foram passadas em aula e, enfim, ter autonomia para deixar a imaginação fluir e não ter medo de errar e tentar de novo”.

O projeto tem apoio do edital Realize, criado pelo deputado Fábio Félix (PSOL), que destina recursos para a compra de materiais utilizados em sala de aula, como câmeras, gravadores de som, luzes e claquetes. Para Gabriela, esse projeto é uma forma de dar às crianças oportunidades, esperança e uma nova perspectiva de vida através da arte.

“O cinema é um espaço que traz liberdade para o ser humano demonstrar seus sentimentos, seja de satisfação ou insatisfação, é um lugar que você pode se reconectar e ser você mesmo. Ainda usando o exemplo dos alunos, ali na sala de aula, eles têm condições de ter um espaço criativo onde conseguem falar sobre suas realidades sociais e o que almejam para o futuro. Os alunos podem se conectar com pessoas que vivem a mesma realidade social que eles e se segurar no sentimento de não estar sozinho no mundo”.