Crime ambiental em Maceió prejudica 60 mil pessoas

Moradores clamam por justiça e indenização justa após terem casas afetadas pela ação da Braskem em bairros da cidade

Carolina Spinola de Almeida

Postado em 11/04/2022

A petroquímica Braskem se instalou no bairro Pontal da Barra em Maceió e se alastrou até a parte baixa da cidade, extraindo matéria-prima do solo alagoano por mais de 44 anos. O maior crime ambiental em área urbana no mundo começou no ano de 1976, de acordo com o Observatório de Mineração, em Maceió-AL. A constante retirada de sal gema do território criou um afundamento no solo, gerando uma instabilidade e causando rachaduras em casas e prédios e crateras no asfalto, atingindo diretamente os bairros do Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro, desalojando cerca de 60 mil pessoas, segundo estimativas das Defesas Civis Nacional e Municipal.

Os moradores clamam por justiça e por uma indenização justa. Demonstram insatisfação e tristeza em perder não só a moradia, mas memórias, histórias e relações de uma vida inteira. Maria Delba Novais de Almeida, 75 anos, aposentada, tem sua casa localizada no bairro do Pinheiro e relata o medo de perdê-la. “É um sentimento de raiva, primeiro pelo descaso da Braskem em não se importar com os sentimentos dos outros, e segundo de tristeza, porque moro aqui há 54 anos, uma casa construída com muita dificuldade onde criei filhos e netos e hoje vivo uma situação de insegurança total’’, declara.

Bairro do Pinheiro em Maceió-AL 2022.

As pessoas que são obrigadas a deixarem suas casas por questões de segurança, são afetadas psicologicamente, como é o caso da moradora do Pinheiro Valéria Coelho, 46, assistente social. ‘’Precisei buscar ajuda psicológica e psiquiátrica por culpa da Braskem’’. E completa: ‘’É uma ferida que não cicatrizou.’’

O fato da Braskem não ter suas atividades interrompidas e nem uma punição severa intriga os moradores da cidade, assim como o fato da empresa também ter direito à compra do imóvel, de forma que os quatro bairros atingidos pertencem à petroquímica. A ex-reitora da UFAL que acompanha a luta dos moradores, Valéria Correia, 59 anos, pontua. ‘’O problema é que existem muitos moradores dos bairros atingidos pela mineradora que ainda não foram sequer indenizados. E muitas indenizações foram muito aquém do valor de mercado, beneficiando mais a empresa do que as vítimas do crime ambiental.’’

Moradias desabitadas. Bairro do Pinheiro em Maceió-AL 2022.

A situação não ganhou a devida visibilidade nos veículos de imprensa, segundo ela. ‘’Penso que a empresa tem poder sobre a mídia, pois a divulgação mais forte sobre o crime ambiental tem sido feita pela mídia alternativa’’.

São 60 mil famílias desalojadas, quatro bairros desabitados, com risco de epidemia de dengue, aparecimento de doenças e insetos em decorrência das ‘’cidades fantasmas’’. As indenizações alcançaram apenas 5.876 pessoas, através do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação (PCF), criada pela Braskem, como solução para os moradores afetados pelo crime ambiental.

A assessoria da Braskem foi contatada, mas não respondeu a reportagem.